A situação política e judicial em Israel ganhou um novo capítulo nesta terça-feira, quando o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu entrou em um tribunal em Tel Aviv para testemunhar pela primeira vez em um julgamento que se arrasta há anos por corrupção. Esse evento não só representa um marco significativo em sua vida política, como também ocorrerá em um período marcado por intensas tensões internas e externas, devido ao prolongado conflito em Gaza, no qual Netanyahu se vê forçado a equilibrar entre o tribunal e a sala de guerra.
A chegada de Netanyahu ao tribunal foi pontuada por um clima de protesto e apoio nas cercanias. Ele chegou por volta das 10h (3h ET), enquanto dezenas de manifestantes se reuniam do lado de fora. Entre eles, estavam tanto apoiadores de seu governo quanto cidadãos que exigiam mais ações em relação à libertação de cerca de 100 reféns, ainda em poder do Hamas, em Gaza. O julgamento ocorre em um momento crítico para o país, que enfrenta um estado de guerra definitivo contra o grupo militante palestino, e que já se estende por mais de um ano.
Netanyahu, que enfrenta formalmente acusações de corrupção, fraude e violação de confiança, terá que testemunhar três vezes por semana, conforme decisão do tribunal. Essa ordem foi emitida apesar das crescentes incertezas e ameaças relacionadas ao conflito em Gaza e à turbulência política no Oriente Médio, que inclui a situação volátil na Síria. Este julgamento é um reflexo de uma trajetória complexa, que se iniciou em 2019, quando Netanyahu foi indiciado por receber presentes de milionários e supostamente buscar favores regulatórios para magnatas da mídia em troca de cobertura favorável.
No caminho para o tribunal, Netanyahu trouxe à tona uma retórica familiar, caracterizando as investigações contra ele como uma caça às bruxas, negando as acusações e alegando ser alvo de um movimento que pretende desestabilizá-lo. Em suas palavras, ele se dirigiu à nação, afirmando que “o verdadeiro ameaça à democracia em Israel não vem dos representantes eleitos, mas de alguns setores das autoridades que se recusam a aceitar a escolha dos eleitores”. Essa declaração foi feita no contexto de uma busca por reafirmação e apoio entre seus aliados.
Durante uma coletiva de imprensa na noite de segunda-feira, Macron expressou sua frustração e indignação com o tratamento concedido a testemunhas que foram ouvidas durante as investigações. A natureza intensa das alegações contra ele, somada ao clima de insegurança política, criou um ambiente de polarização significativa entre os israelenses. Assim, as tensões geradas nas eleições recentes, impulsionadas por tentativas do governo de restringir os poderes do judiciário, apenas exacerbaram a divisão entre a população.
A situação se tornou ainda mais delicada após o ataque repentino do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, um evento que não só impactou a dinâmica de poder em Israel, mas também fez com que o julgamento de Netanyahu fosse afastado do foco público. Entretanto, à medida que o conflito prossegue, a unidade política que se formou em resposta aos ataques está se desmoronando, levando a disputas internas entre membros do governo de Netanyahu.
Recentemente, após um cessar-fogo com o Hezbollah, aliados do Hamas, observou-se um aumento nas colisões entre membros do gabinete de Netanyahu e instituições judiciais, refletindo a crescente tensão e desconfiança em torno da atuação das autoridades judiciais. Netanyahu se mantém firmemente arraigado ao poder desde 2009 e se tornou o primeiro primeiro-ministro em exercício de Israel a ser acusado de um crime, um fato que só aprofunda o dilema político que o país enfrenta.
Além disso, as dificuldades legais que oprimem Netanyahu se intensificaram com a recente emissão de um mandado de prisão pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), envolvendo também seu ex-chefe de defesa Yoav Gallant e um líder do Hamas, em relação a supostos crimes de guerra cometidos no contexto do conflito em Gaza. Essa situação levanta questões não apenas sobre a legalidade da ação criminal, mas também sobre as repercussões que isso pode ter para a política israelense e para a segurança do país em tempos de crise.
Ao observar todos esses eventos, fica evidente que o futuro de Netanyahu, e possivelmente o de Israel, está em uma encruzilhada. Em um país onde a política e o direito se entrelaçam de maneira tão profunda, cada movimento no tribunal pode ter repercussões de longo alcance. A pergunta que muitos se fazem agora é: até onde irá essa batalha judicial e qual será o destino de um dos líderes mais polarizadores da história recente de Israel?