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A letra da canção “Do You Like It… Do You Want It” de Sean “Diddy” Combs, a qual conta com a participação de Jay-Z, faz uma pergunta que agora soa profética: “Quer saber como é ser eu?” Neste contexto, um processo judicial que envolve Combs e Jay-Z acaba trazendo à tona os contornos dessa amizade que já dura décadas, bem como as complexidades da indústria musical em que ambos são ícones.

Na época, ninguém parecia entender melhor como era ser Combs do que Jay-Z, que nasceu Shawn Carter. Ambos, rappers, produtores e empresários, conquistaram as paradas musicais e o respeito tanto no estúdio quanto na sala de reuniões. Apesar da intensa concorrência na indústria, a relação deles era marcada pela camaradagem e respeito mútuo.

Contudo, a suposta rivalidade entre eles nunca se materializou de forma visível. Em 2009, Combs foi questionado por um repórter sobre uma foto que mostrava ele em conversa com Carter. Ele relembrou que o momento foi capturado em sua festa de aniversário, onde Jay-Z havia viajado especialmente para estar presente, apesar do tempo limitado que tinha. “As pessoas nos veem como competidores e diferentes ícones do jogo do hip-hop, mas isso foi apenas um momento de dois irmãos negros dizendo um ao outro o quanto se apreciavam”, contou Combs.

Entretanto, a situação tomou um rumo angustiante enquanto Combs aguarda julgamento em um caso de tráfico sexual e conspiração. Recentemente, um processo civil apresentado por uma mulher, que declara ter sido sexualmente assediada por Combs em 2000, foi alterado para incluir alegações de que Carter também a assediou. A autora, identificada como Jane Doe, tinha apenas 13 anos na época do suposto ataque em uma festa pós-MTV Video Music Awards.

Carter, por sua vez, prontamente se distanciou das alegações, chamando-as de “tão hediondas que imploro para que você apresente uma queixa criminal, não uma civil!”. Ele enfatizou que “quem quer que cometa tal crime contra um menor deve ser preso, você não concorda?”.

Na segunda-feira, Carter entrou com uma moção pedindo ao tribunal para que a documentação do caso de Doe fosse descartada ou que ela fosse obrigada a revelar sua identidade. Combs, sob várias acusações, se declarou inocente e nega qualquer ato ilícito em cerca de 30 processos civis que lhe foram apresentados, muitos dos quais incluem alegações de acusadores que optaram por se identificar com pseudônimos.

Esta situação atual está lançando luz sobre a pequena aliança e a história compartilhada de Combs e Carter, que juntos ajudaram a moldar a indústria do hip-hop, construindo impérios respeitáveis com suas respectivas gravadoras, Bad Boy Records e Roc Nation, permitindo o surgimento de várias carreiras de artistas talentosos.

História compartilhada como pano de fundo fundamental

Jay-Z e Sean 'Diddy' Combs em 2000.

Ambos os artistas construíram suas carreiras através de uma trajetória semelhante: cresceram em Nova Iorque sob a influência de mães solteiras e, após o trágico assassinato de Christopher “Notorious B.I.G.” Wallace, protegem as memórias e legados de pessoas queridas.

Em 1997, após a morte de seu amigo em comum, Combs e Carter se uniram na produção de “My Lifetime, Vol 1.”, mostrando que, mesmo em momentos difíceis, a amizade e a colaboração poderiam brilhar por meio de tragédias.

Carter revelou ter falado com Wallace uma hora antes de sua morte trágica. “Ele não era um criador de problemas. Era só um cara engraçado e carismático”, compartilhando como a morte de um amigo pode desestabilizar e deixar um vácuo na vida de quem ficou.

Recentemente, em uma celebração que deveria marcar o aniversário de 50 anos de Wallace, Carter expressou o “vazio” que o falecimento dele e de Tupac Shakur deixaram na cultura hip-hop, reforçando a necessidade de união entre aqueles que ainda estão no cenário.

Jay-Z e Sean 'Diddy' Combs no palco em Nova York durante 2016

“Irmão, você preencheu eles sapatos”, disse Combs a Carter. “Você chegou e definitivamente agradecemos. Você definitivamente veio, e eu só sei o quanto Big realmente olhava para você”. Essa interação demonstra a riqueza da relação entre os dois e como os legados deles se entrelaçam no papel que desempenharam na indústria do hip-hop.

Combs e Carter se uniram novamente em 2005 para apresentar um cheque de um milhão de dólares durante um teleton da Hurricane Katrina. Esse momento foi um exemplo perfeito do impacto positivo que ambos buscavam ter na comunidade, através de sua arte e influência.

Em 2020, a forte amizade entre os dois ficou ainda mais evidente em um evento beneficente, onde Carter se colocou ao lado de Combs em um almoço da Roc Nation para bilionários negros.

A mensagem de união e apoio foi ressoante: “Estamos juntos e continuaremos juntos – e mais unidos do que nunca”, disse Combs, evidenciando a força de laços que ultrapassam a rivalidade aparente da indústria.

Carter também prestou homenagem a Combs durante sua premiação em 2022 no BET Awards, recordando o impacto que Combs teve na sua ata vida e na vida de muitos outros artistas. “Aqui está este cara de um bairro semelhante ao lugar de onde cresci, que atingiu alturas inatingíveis”, disse Carter.

As histórias interligadas de Combs e Carter reafirmam que, mesmo em meio a desafios legais e acusações sérias, por trás das câmeras e dos holofotes, existe uma profunda amizade que se funde com os legados que ambos construíram na música e na cultura.

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