A recente edição da Conferência NeurIPS (Neural Information Processing Systems), um dos mais importantes eventos da área de inteligência artificial, foi marcada não apenas pelas inovações e descobertas apresentadas, mas também por uma polêmica que rapidamente ganhou as redes sociais. A professora Rosalind Picard, do MIT Media Lab, que foi a palestrante principal do evento, se viu no meio de uma onda de críticas após uma declaração infeliz que envolveu a menção a um estudante de origem chinesa.

Na sua palestra intitulada “Como otimizar o que mais importa”, Picard fez uso de um slide que incluía uma citação de um estudante chinês que, segundo a apresentação, foi expulso de uma universidade de prestígio. O estudante teria afirmado: “Ninguém na minha escola nos ensinou moral ou valores.” Essa expressão foi interpretada por muitos como uma generalização negativa sobre os estudantes chineses e culturalmente insensível. Para piorar a situação, a professora incluiu uma nota dizendo: “A maioria dos chineses que conheço são honestos e moralmente corretos.”

A repercussão foi imediata, com muitos profissionais do setor de inteligência artificial e acadêmicos utilizando a plataforma X (anteriormente conhecida como Twitter) para expressar suas preocupações. Jiao Sun, cientista da Google DeepMind, compartilhou uma imagem do slide, comentando que “mitigar o preconceito racial em LLMs é muito mais fácil do que removê-lo dos humanos.” Yuandong Tian, um cientista de pesquisa da Meta, repostou o comentário de Sun, acrescentando que se tratava de um “preconceito racial explícito” e questionando como uma situação dessas poderia ocorrer em um evento como NeurIPS.

Num trecho também amplamente compartilhado, um participante da conferência questionou Picard durante a sessão de perguntas e respostas, notando que aquela foi a única menção à nacionalidade feita durante toda a apresentação e sugerindo que isso poderia ser considerado “um pouco ofensivo.” Ele ainda alertou que, em futuras apresentações, a referência ao estudante deveria ser removida, uma sugestão que Picard, aparentemente, concordou. A situação gerou um desconforto palpável entre os presentes, levando muitos a questionarem a adequação do discurso em uma conferência que preza pela diversidade e inclusão.

Após a polêmica, os organizadores da NeurIPS emitiram um pedido de desculpas, reconhecendo que o comentário feito durante a apresentação não condizia com os valores do evento e não estava alinhado ao seu código de conduta. Em uma declaração, eles afirmaram: “Queremos abordar o comentário feito durante a palestra convidada desta tarde, pois é algo que a NeurIPS não condona e não se alinha com nossos princípios. Estamos tratando essa questão diretamente com a palestrante. A NeurIPS é dedicada a ser um lugar diverso e inclusivo onde todos são tratados igualmente.”

Além disso, Rosalind Picard também se desculpou em uma nota, expressando seu “arrependimento” em relação à menção da nacionalidade do estudante. “Vejo que isso foi desnecessário, irrelevante para o ponto que estava fazendo e causou associações negativas não intencionais,” escreveu Picard. Ela acrescentou que se sentia mal pela angústia que o incidente provocou e que estava disposta a aprender com a experiência, além de acolher sugestões sobre como reparar sua relação com a comunidade.

A situação levantou importantes questões sobre o cuidado que deve ser tomado ao abordar temas sensíveis, especialmente em um ambiente que deve promover a inclusão. Os debates em torno da responsabilidade dos palestrantes e líderes de opinião em suas escolhas de palavras ganharam força, refletindo um chamado à reflexão e ao respeito mútuo em nossas interações. Por fim, resta a esperança de que este episódio sirva de alerta para todos nós, instigando um diálogo mais profundo sobre como evitar preconceitos e estereótipos em comunidades cada vez mais diversas.

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