Recentemente, um grande grupo de restaurantes australiano, amplamente reconhecido por suas pubs, decidiu reverter sua decisão de proibir celebrações durante o Dia da Austrália. Essa mudança ocorreu em resposta a uma onda de críticas públicas e convites para boicotar seus estabelecimentos. Este episódio reflete a crescente controvérsia em torno dessa data que, para muitos, representa um ponto de reflexão sobre a história do país e suas injustiças, especialmente em relação aos povos indígenas.

A controvérsia sobre a celebração do Dia da Austrália, que ocorre no dia 26 de janeiro, gira em torno da data que marca a chegada do oficial da Marinha Real Britânica, Arthur Phillip, a Sydney Cove em 1788, quando foi fincada a bandeira britânica para proclamar uma nova colônia. No entanto, este dia é visto por muitos australianos não indígenas como uma celebração, enquanto muitos membros da comunidade indígena o consideram um dia de luto e remorso. Um número crescente de australianos não indígenas começa a repensar a celebração, levando em conta os sentimentos de sua população indígena.

Em um comunicado realizado no último fim de semana, a Australian Venue Co, que opera mais de 200 estabelecimentos ao redor do país, anunciou que decidiria não celebrar o feriado público, com a justificativa de que este dia é conhecido por causar “tristeza” e “dor” a muitos clientes e funcionários. Essa decisão, no entanto, foi controversa e gerou uma onda de protestos, incluindo petições se opondo à proibição e convites online para boicotar os bares do grupo. Na segunda-feira seguinte à sua declaração inicial, a empresa rapidamente voltou atrás em sua decisão.

Em uma mensagem publicada em suas redes sociais, a Australian Venue Co afirmou: “Não cabe a nós dizer a ninguém se e como celebrar o Dia da Austrália. Certamente, não foi nossa intenção ofender ninguém.” A empresa ainda acrescentou que “não importa se você escolhe celebrar o Dia da Austrália ou não, todos são bem-vindos em nossos pubs, sempre.” Este apelo à inclusividade expressa o desejo do grupo de acolher todos os clientes, mesmo em uma data tão polarizadora.

A reversão da Australian Venue Co posiciona a empresa em um cenário semelhante ao de outras grandes marcas que recentemente se distanciaram da celebração do Dia da Austrália. Logo no começo do ano, o varejista Woolworths anunciou que não estocaria mais produtos que promoviam a festividade. Em uma defesa posterior, a empresa afirmou que sua decisão foi baseada em queda acentuada nas vendas e não tinha a intenção de “cancelar” a celebração.

Por sua vez, a Aldi também anunciou que não venderia mais produtos relacionados ao Dia da Austrália, como camisetas e chinelos, seguindo o exemplo do Woolworths. Kmart e várias prefeituras locais também se afastaram de celebrações do feriado, em um sinal de que as atitudes em relação a essa data estão mudando. Esses movimentos refletem uma verdadeira mudança de percepção na sociedade, onde muitos da população indígena e uma crescente porcentagem da população “colonizadora” renomeiam o feriado como “Dia da Invasão” ou “Dia da Sobrevivência,” em reconhecimento ao fato de que a colonização britânica significou principalmente a desapossamento dos povos indígenas.

Nos últimos anos, a discussão em torno do Dia da Austrália tornou-se um tema importante no discurso social e político australiano. A crescente consciência sobre as questões indígenas e os impactos do colonialismo tem levado a uma reflexão crítica sobre a narrativa histórica do país. Assim, a polêmica em torno das celebrações do Dia da Austrália não representa apenas uma disputa sobre uma data, mas uma luta maior pela justiça social e reconhecimento dos direitos dos povos indígenas.

Com a reversão da decisão da Australian Venue Co e as novas políticas de grandes empresas, o futuro do Dia da Austrália e sua comemoração continuam incertos. À medida que a nação avança, a reflexão sobre como e se deve haver celebração nessa data se tornará um tema cada vez mais relevante. Assim, a efervescência em torno desse debate mostra que a Austrália, como uma nação, ainda está buscando sua identidade e sua história, reconhecendo as vozes e experiências de todos os seus cidadãos.

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