A abordagem tradicional para o câncer de tireóide geralmente envolve cirurgia, radioterapia, quimioterapia e terapia hormonal. No entanto, um novo entendimento acerca do tratamento, especialmente quando se trata do câncer papilífero de tireóide, que representa cerca de 80% de todos os casos diagnosticados, sugere que os pacientes podem ter opções alternativas que desafiam o tratamento convencional. O foco deste novo paradigma é a vigilância ativa, uma estratégia que vem sendo cada vez mais considerada, especialmente para os subtipos menos agressivos, como o câncer papilífero pequeno.

O câncer papilífero pequeno é definido como aqueles tumores que medem menos de 1,5 centímetros. Segundo o Dr. Sachin Majumdar, endocrinologista da Yale Medicine, “os pequenos cânceres papilíferos de tireóide geralmente apresentam crescimento lento, são não agressivos e possuem uma alta taxa de sobrevivência.” Esse tratamento, conhecido como vigilância ativa, envolve monitorar o câncer por meio de exames regulares ao invés de submeter o paciente a intervenções imediatas. “A vigilância ativa é uma boa estratégia de gerenciamento para esse tipo de câncer”, acrescenta o Dr. Majumdar.

O que torna a vigilância ativa particularmente atraente é o seu objetivo de minimizar o tratamento excessivo e preservar a qualidade de vida dos pacientes. A abordagem evita ou retarda os efeitos colaterais de tratamentos invasivos, como a cirurgia e a radiação, que, em muitos casos, podem ser mais prejudiciais do que o próprio câncer, especialmente quando este não é agressivo. Essa prática já é comum em outras modalidades de câncer, como o câncer de próstata, alguns tipos de câncer renal e certos linfomas.

O programa de Vigilância Ativa para Câncer Papilífero de Tireóide de Baixo Risco da Yale conta com uma equipe dedicada composta por endocrinologistas, radiologistas, cirurgiões e enfermeiros, que colaboram com os pacientes para decidir a melhor forma de tratamento. Se optarem pela vigilância ativa, os pacientes receberão ultrassonografias e exames de sangue a cada seis meses por dois anos. Caso não ocorra progressão do câncer nesse período, as consultas passam a ser anuais.

O Dr. Majumdar destaca que um dos valores fundamentais do programa é garantir que os pacientes sejam adequadamente monitorados e compareçam às suas consultas de triagem. Sem um sistema estruturado como esse, muitas vezes essas avaliações podem ser negligenciadas, resultando em diagnósticos tardios. Para adentrar no tema, o Dr. Majumdar compartilha mais sobre a experiência da Yale com a vigilância ativa.

A tireoide é uma glândula pequena em forma de borboleta localizada no pescoço, responsável pela produção de hormônios que regulam o metabolismo do corpo. O câncer de tireóide surge quando as células dessa glândula mutam e crescem de forma descontrolada, frequentemente se manifestando em forma de nódulos. Contudo, a detecção de nódulos por palpação é rara, ocorrendo em apenas 5% dos casos, conforme informa o Dr. Majumdar. Na maioria das vezes, um nódulo é descoberto durante exames de imagem realizados por outros motivos.

Um dos principais fatores que leva os pacientes a escolherem a vigilância ativa é a impressionante taxa de sobrevivência associada ao câncer de tireóide. De acordo com dados recentes, aproximadamente 44 mil americanos são diagnosticados com câncer de tireóide a cada ano, dos quais 98% sobrevivem por cinco anos e 85% por dez anos. O Dr. Majumdar salienta que, para pequenos tumores limitados à tireóide, que não se espalharam para os linfonodos ou outros órgãos, a escolha pela vigilância em detrimento da cirurgia pode trazer diversos benefícios.

Um aspecto crítico a ser considerado é a preservação das funções que a tireoide desempenha no organismo. Durante a infância, os hormônios tireoidianos são essenciais para o crescimento e desenvolvimento. Na fase adulta, esses hormônios são necessários para regular níveis de energia e diversas funções metabólicas. Quando o câncer de tireóide é diagnosticado, frequentemente, toda ou parte da glândula é removida cirurgicamente, o que pode levar a uma condição conhecida como hipotireoidismo. Essa condição resulta em sintomas como fadiga, ganho de peso, ressecamento da pele e cabelo, fraqueza muscular, depressão, constipação e diminuição da frequência cardíaca. Portanto, a maioria dos pacientes necessitará de medicação para reposição hormonal tireoidiana por toda a vida, o que pode introduzir complexidades adicionais.

A triagem rotineira para câncer de tireóide não é uma prática comum nos Estados Unidos. Em países como o Japão, onde essa prática foi adotada, houve casos de sobrediagnóstico e tratamento excessivo. Por outro lado, a vigilância ativa tem mostrado uma promessa considerável. Embora esses programas ainda não sejam amplamente aceitos nos Estados Unidos, a sua adoção vem crescendo. O Japão, que iniciou a monitorização de pacientes com câncer papilífero pequeno em 1993, agora possui dados de acompanhamento de 30 anos.

Após o diagnóstico de câncer papilífero pequeno, os pacientes têm a oportunidade de se reunir com um endocrinologista do programa para discutir o diagnóstico e seu histórico médico. “Nós explicamos que uma opção é acompanhar o câncer, enquanto a outra é proceder com a remoção cirúrgica”, afirma o Dr. Majumdar. Alguns pacientes imediatamente optam por não realizar a cirurgia, e assim a vigilância é oferecida como alternativa. O importante é que os pacientes entendam que serão monitorados de forma segura e que, se o câncer crescer nos próximos anos, a remoção cirúrgica será uma opção viável.

Isso é especialmente pertinente em casos onde o paciente já se encontra em tratamento para outro tipo de câncer. Por exemplo, um paciente de 70 anos com câncer de pulmão pode ser diagnosticado incidentalmente com um pequeno câncer de tireóide durante exames de imagem para o tratamento de seu câncer primário. Para pacientes dessa situação, monitorar o câncer de tireóide enquanto se trata o câncer de pulmão pode ser uma escolha aceitável, e eles podem nunca precisar de tratamento para o câncer da tireóide.

No entanto, o Dr. Majumdar reconhece que discutir a vigilância ativa pode apresentar desafios. “Quando você menciona a palavra ‘câncer’, é difícil afirmar a um paciente que ‘vamos simplesmente deixá-lo lá e monitorá-lo.’ As pessoas não estão habituadas a isso.” No entanto, quando se trata de câncer pequeno e não agressivo, questionar a real ameaça que ele representa pode ser crucial. O Dr. Majumdar conclui que o programa pode ser fundamental para ajudar os pacientes a navegarem por essas decisões complexas, proporcionando um caminho que prioriza não apenas a saúde física, mas também a qualidade de vida.

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