A presença militar dos Estados Unidos na Síria foi objeto de um crescente debate e controvérsia nos últimos anos. Recentemente, novas informações divulgadas pelo Pentágono colocaram em evidência uma realidade que já estava longe da transparência desejada há muito tempo. Desde 2020, o número de tropas americanas na Síria tem aumentado de maneira constante e, segundo múltiplos oficiais de defesa, a cifra atual ultrapassa em mais do que o dobro os aproximadamente 900 soldados que o governo dos EUA sempre afirmou estar em solo sírio. Este aumento, que vem sendo sutilmente ocultado, levanta questões sobre as implicações geopolíticas e a necessidade de o público americano estar ciente da verdade sobre a presença de seus militares no exterior.
No início da semana passada, o Pentágono confirmou que o número de tropas na Síria se aproxima de 2.000, revelando que este número é “significativamente maior do que os dados apresentados” nos últimos meses e anos. O porta-voz do Pentágono, Major General Patrick Ryder, destacou que essa quantidade maior de forças foi necessária em resposta ao aumento de ameaças aos soldados americanos já presentes. Ryder também mencionou que somente recentemente ele tomou conhecimento da magnitude da presença militar americana no país, o que suscita questões sobre a comunicação interna dentro das forças armadas.
A informação sobre o aumento das tropas foi divulgada após a divulgação interna do diretor de planejamento, operações e treinamento do Exército, que revelou a verdadeira quantidade de tropas estacionadas na região. Embora não haja uma data exata sobre quando as tropas chegaram a esse novo patamar, especialistas apontam que as autoridades americanas reforçaram seus recursos e pessoal no Oriente Médio após o ataque de 7 de outubro de 2022 do Hamas a Israel. O aumento nas operações militares na região do Oriente Médio é uma resposta direta aos desenvolvimentos de segurança que foram observados ao longo dos últimos anos.
Em uma tentativa de esclarecer as discrepâncias sobre a presença militar dos EUA na Síria, o Pentágono emitiu um comunicado na última segunda-feira, afirmando que, além dos 900 soldados de linha de frente, existem aproximadamente 1.100 militares americanos que atuam em períodos mais curtos como “enviadores temporários” em apoio às operações de proteção das forças, transporte, manutenção ou outras necessidades operacionais emergentes. Essa flutuação do número total de tropas na Síria ao longo dos anos reflete a dinâmica complexa e em constante mudança da segurança na região, onde a presença de tropas dos EUA pode ser vista como uma faca de dois gumes.
Os oficiais de defesa relutam em revelar o número verdadeiro de tropas, receosos de provocar a ira de países vizinhos, como o Iraque. O porta-voz do Pentágono afirmou que várias considerações operacionais e de segurança diplomática estão constantemente em jogo em relação às atuações militares do país. Além disso, o Pentágono reconheceu que pode haver mais de 2.500 soldados em solo iraquiano, superando o número considerado “base” de tropas no país. Contudo, não foram fornecidos detalhes adicionais sobre esse contingente, apenas que há “alguns apoiadores adicionais temporários” presentes em bases rotativas no Iraque.
A questão da presença militar dos EUA no Iraque é particularmente sensível, dado o desejo dos oficiais iraquianos de ver as tropas americanas deixarem o país. Se o Iraque perceber um aumento no número de tropas na Síria, haverá preocupações de que o mesmo esteja ocorrendo em seu território, especialmente em um momento de negociações sobre o futuro do contingente militar americano na região. Os diálogos entre Washington e Bagdá têm buscado definir os termos da presença militar dos EUA, sendo que o Primeiro-Ministro do Iraque, Mohammed Shia al-Sudani, enfatizou em janeiro que o objetivo é “encerrar a presença das forças da coalizão internacional no Iraque permanentemente”.
Embora o Pentágono insista que não houve engano por parte da administração em relação ao número central de tropas, as revelações recentes concernentes às mudanças nas operações especiais e a inclusão de tropas temporárias sugerem uma complexidade nas estratégias militares. Grande parte das tropas novas permanece apenas por períodos curtos em função de missões específicas, o que leva a uma inflação efetiva do número total de militares presentes a qualquer momento.
Por fim, é relevante observar que a verdadeira magnitude da presença americana em solo sírio não é uma questão nova. Desde a administração de Donald Trump, oficiais militares têm lidado com questões de comunicação e transparência, como evidenciado pelo ex-enviado dos EUA para a Síria, Jim Jeffrey, que admitiu em 2020 que sua equipe frequentemente ocultava o real número de tropas na região. Além disso, um relatório do Congressional Research Service destacou a presença de mais de 5.400 contratados civis no Iraque e na Síria no segundo trimestre de 2024, o que adiciona mais uma camada ao já complicado panorama da presença militar americana no Oriente Médio.