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A cada edição dos Jogos Olímpicos, o atletismo sempre reserva surpresas marcantes. Esta modalidade, repleta de pequenos detalhes, mostra que às vezes uma diferença de centímetros pode mudar o destino de um atleta e até de diversos eventos. É nesse cenário que Rojé Stona, um treinado lançador de disco da Jamaica, vivenciou a incerteza e a alegria em uma fração de segundo.
Quando se preparava para o quarto lançamento na final do disco masculino nos Jogos Olímpicos de Paris, o atleta não imaginava que uma diferença de apenas três centímetros poderia abrir um novo capítulo em sua vida.
Rojé Stona fez história ao se tornar o primeiro jamaicano a conquistar uma medalha de ouro em eventos de lançamento nas Olimpíadas, solidificando seu feito com um arremesso de 70 metros que superou o recorde olímpico estabelecido por Mykolas Alekna, um favorito da competição. “Vencer foi algo que eu sempre imaginei, mas a sensação de estar no momento foi completamente diferente”, relatou Stona à CNN Sport, ao relembrar a noite de sua vitória no icônico Stade de France.
Para Stona, a festa de vitória não se limitou ao seu arremesso incrível. Ele expressou sua satisfação em fazer parte da história ao afirmar que, “criei muita história e aprendi muito depois que fiz mais do que pensava ser capaz”.
A partir desse momento de triunfo, Stona decidiu explorar novas águas, incluindo a possibilidade de se aventurar em um esporte completamente distinto. O atleta de 25 anos tem participado de acampamentos de treinamento com as equipes da NFL, Green Bay Packers e New Orleans Saints. Mesmo sem experiência anterior em futebol americano, ele demonstrou disposição para arriscar sua carreira promissora no atletismo por uma chance em um time da NFL.
“Se houver cerca de 99% de chance de eu conseguir uma vaga em um time, com certeza irei atrás disso. Mas se a chance for apenas um ou dois por cento, preciso ser realista”, afirmou o atleta, que já foi anunciado como um dos 14 atletas a integrar a classe de 2025 do Programa de Caminho para Jogadores Internacionais da NFL.
Esse programa proporciona a atletas de diferentes partes do mundo a oportunidade de treinar com as equipes da NFL, aprender a modalidade e, possivelmente, garantir um lugar no elenco de algum time.
Rojé Stona e a inspiração dos ídolos olímpicos
O amor de Rojé pelo atletismo começou quando ele ainda era menino, aos nove anos, ao assistir Usain Bolt conquistar sua primeira medalha de ouro nas Olimpíadas de Pequim em 2008. Apesar de seu amor inicial ser pelo futebol, aquele icônico momento inspirou Stona a trilhar seu caminho no atletismo, e é dessa forma que ele foi forjado como talentoso lançador de disco.
Após experimentar diversas modalidades atléticas, ele decidiu se especializar no lançamento de disco durante o ensino médio, superando desafios técnicos significativos.
Stona foi para os Estados Unidos, onde se destacou ao competir em eventos juvenis e graduou-se em Clemson e, posteriormente, em Arkansas. Durante sua passagem em Fayetteville, ele teve a oportunidade de aprender com Ryan Crouser, um tres vezes medalhista olímpico e recordista mundial no arremesso de peso. Esse mentorismo foi fundamental, pois ele absorveu a valiosa experiência de Crouser durante seu último ano de elegibilidade colegial.
A jornada rumo à glória olímpica
A estrada de Rojé até Paris foi marcada por uma impressionante performance em abril, com um arremesso de 69 metros durante o Oklahoma Throws Series World Invitational. Esse feito garantiu sua presença nas Olimpíadas e sua ambição era terminar entre os três primeiros. Stona não queria passar mais um verão se perguntando “e se?”.
Ao iniciar a competição, parecia que tudo seguia um roteiro bem escrito: Alekna quebrou o recorde olímpico que pertencia a seu pai desde 2004 e parecia a caminho da medalha de ouro. No entanto, Rojé tinha outros planos.
Seu quarto arremesso deslizou 70 metros, superando o recorde olímpico que tinha sido estabelecido minutos antes e criando um dos maiores choques dos Jogos. “Quando Mykolas quebrou o recorde, eu disse: ‘Certo, eu esperava isso’. Dei meus respeitos a ele porque somos lançadores. Eu costumava assistir ao pai de Alekna quando comecei a lançar disco”, refletiu Stona.
Ele descreveu sua, “arremesso perfeito” como um momento de pura conexão com a técnica, algo em que havia trabalhado arduamente, e ficou emocionado ao perceber que “todas as pessoas são únicas de sua maneira e aquele arremesso foi um dos melhores da minha vida.”
Ciente de que todo seu trabalho árduo havia valido a pena, Rojé celebrou sua vitória com danças que ensaiou durante o tempo na Vila Olímpica, imitando momentos virais nas redes sociais. O clima era de festa e os fãs da Jamaica celebraram ao seu lado.
Rojé Stona e a nova linguagem do futebol americano
Recentemente, Stona se dedicou a dois acampamentos de novatos da NFL, durante sua preparação para os Jogos Olímpicos. Ele rapidamente se apaixonou pelo futebol, após ter sido exposto ao jogo durante seus anos de estudo em Clemson.
Descrito como “um destaque das pistas com um corpo ideal para a NFL”, Stona chegou aos acampamentos por meio de análises positivas do analista da liga, Lance Zierlein, que destacou suas qualidades atléticas. Desde o primeiro encontro, ele percebeu a diferença entre o atletismo e o futebol. “Era um mundo totalmente diferente”, explicou ele, ao caracterizar a experiência como “aprender uma nova língua”.
As exigências dos treinadores em um ambiente tão competitivo foram um choque para Stona, que teve que mudar sua mentalidade rapidamente de fã para aluno. “As coisas não vão ser mais fáceis. Estou aqui como um novato em teste”, declarou.
Apesar de não ter certeza se seria contratado nessa temporada pela NFL, Stona mantém sua determinação e interesse em experimentar essa nova fase de sua vida, sem deixar para trás seus compromissos no atletismo.
“Durante meus passeios, as pessoas não me perguntam: ‘Ei, você é um lançador de disco?’. Não, elas perguntam: ‘Você joga futebol?'”, riu Rojé ao refletir sobre a curiosidade do público.
Ele aguarda conselhos de agentes e treinadores para tomar decisões importantes sobre sua carreira futura, afirmando: “Se houver uma chance de isso se concretizar, vou dar o meu melhor, porque é a hora ou nunca.”
Acima de tudo, Stona se compromete a continuar sua carreira atlética. Ele afirmou que cada medalha conquistada, como a de ouro em Paris, impulsiona sua confiança e que ele aspira a competir nas principais competições dos próximos anos.
Em suma, Rojé Stona está em um momento decisivo de sua trajetória, misturando a euforia de sua conquista olímpica e a expectativa de um futuro promissor no futebol americano. O que será que aguarda esse talentoso atleta em sua nova aventura?