No contexto crescente das discussões sobre as responsabilidades e implicações do avanço da inteligência artificial, Sam Altman, o CEO da OpenAI, se tornou uma figura central. Ao longo de 2023, ele se apresentou perante o Congresso dos Estados Unidos para discutir os perigos da inteligência artificial, reafirmando que não possuía participação acionária na OpenAI. Ele repetiu essa afirmação em diversas ocasiões, enfatizando que seu papel na empresa é puramente voltado para a paixão que tem pela tecnologia. No entanto, recentemente emergiram informações que revelam uma faceta inesperada da relação de Altman com a OpenAI, mostrando que, em algum momento, ele realmente possuía uma pequena participação na empresa, a qual foi adquirida por meio de um fundo gerido pela Sequoia.

Na versão que foi ao ar na quinta-feira, durante uma entrevista com a jornalista Bari Weiss, Altman foi questionado sobre o tipo de participação que poderia ter caso a OpenAI se tornasse uma empresa lucrativa. Para surpresa de muitos, Altman confessou: “Eu tenho uma pequena fração de participação de um antigo fundo da Y Combinator – eu costumava ter uma por meio de um fundo da Sequoia, mas essa acabou sendo mais fácil de vender e não manter a posição, então tenho uma quantidade bem pequena que é bastante insignificante para mim. Em termos do que terei ou não no futuro, não sei. Não há nenhum plano ou promessa atual para que eu receba qualquer coisa.”

Esse comentário levantou diversas questões sobre a real relação de Altman com a OpenAI. Embora já fosse do conhecimento público que ele tinha um investimento indireto na empresa através da Y Combinator, sua vinculação à Sequoia não era amplamente divulgada. De acordo com informações disponíveis no site da OpenAI, essa “pequena participação” é o “único interesse” que o CEO possui na empresa, sendo feita antes que ele se dedicasse integralmente à OpenAI.

O histórico de investimentos da Sequoia na OpenAI remonta a 2021. Naquele ano, a OpenAI estava avaliada em aproximadamente 14 bilhões de dólares. Após um recente ciclo de investimento no qual a Sequoia tornou-se novamente um dos participantes, a avaliação da OpenAI disparou para cerca de 157 bilhões de dólares. Essa ascensão meteórica levanta questões sobre o valor potencial da participação de Altman, embora ele tenha vendido sua fração antes que o valor da empresa disparasse.

Interrogantes permanecem em torno do investimento de Altman através da Sequoia, uma vez que as empresas de capital de risco não são obrigadas a divulgar informações sobre seus investidores limitados. Portanto, não está claro quando exatamente Altman se desfez de sua participação e qual foi o valor envolvido. Um porta-voz da OpenAI confirmou a situação anterior de Altman, mas não forneceu detalhes específicos. “Sam nunca teve propriedade direta na OpenAI. Ele detinha uma participação insignificante, menos de uma fração por cento, em um fundo da Sequoia com um portfólio amplo, que ele posteriormente soube incluir uma exposição mínima à OpenAI”, declarou Kayla Wood, porta-voz da OpenAI, em uma comunicação ao TechCrunch. “Sam não possui mais compromissos contínuos com o fundo.”

É interessante notar que, na maioria das vezes, os CEOs possuem participação acionária significativa nas empresas em que atuam. Para os diretores de empresas públicas, a maior parte da remuneração é feita em forma de ações. Entretanto, a OpenAI foi estruturada como uma organização sem fins lucrativos desde o seu início, o que apresenta peculiaridades. Altman, em diversas ocasiões, declarou que não possui participação na empresa, sendo um fator que levanta dúvidas sobre suas intenções, especialmente após suas declarações, onde mencionou que decidiu não adquirir ações devido à estrutura corporativa da OpenAI, que exige que a maioria dos diretores seja independente e não possua participação. Essa escolha, segundo ele, fez com que indivíduos questionassem suas motivações dentro da organização, o que pode ser uma das razões para a OpenAI planejar uma transição para um modelo diferente de governança.

A transição para uma estrutura lucrativa da OpenAI assume uma relevância ainda maior em meio à recente disputa jurídica envolvendo Elon Musk, que processou a empresa. Musk argumenta que a OpenAI estaria traindo sua missão original de tornar os produtos da pesquisa em IA acessíveis a todos. Entretanto, a OpenAI respondeu que Musk tinha a intenção de transformá-la em uma empresa lucrativa desde o início. Em um ponto da entrevista com Weiss, Altman fez um comentário provocativo sobre Musk, chamando-o de “bully”, e dizendo que ele “clearly likes to get in fights” (claro que gosta de brigas). Sua crítica se estendeu também à Meta, que pediu para a procuradoria geral da Califórnia bloquear a transição lucrativa da OpenAI, um movimento que Altman considerou uma tentativa de concorrência desleal.

Enquanto a OpenAI enfatiza que a participação de Altman através da Sequoia era insignificante, é intrigante notar como os comentários de Altman sobre a ausência de equity na OpenAI eram contraditórios com suas mais recentes declarações. Essa situação ressalta as complexidades e os desafios que o campo da inteligência artificial enfrenta, além de levantar questões sobre a transparência e a governança em organizações que operam em um espaço tão crítico para o futuro da tecnologia e da sociedade.

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