A República Democrática do Congo segue enfrentando um grave surto de doenças, desta vez com ênfase em uma combinação fatal de infecção respiratória aguda e malária. Desde o final de outubro, as autoridades de saúde têm monitorado uma onda de enfermidades nas áreas mais remotas, que até então eram consideradas pouco impactadas por crises sanitárias. As informações mais recentes indicam que houve 891 casos relatados e que, tragicamente, 48 pessoas perderam a vida devido a essa combinação letal de infecções, segundo atualização da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgada na última sexta-feira.
O reconhecimento dessa doença é alarmante, pois o surto ocorre em uma região já marcada por dificuldades, tanto na infraestrutura de saúde quanto na segurança alimentar. Com mais de 60% dos testes diagnósticos rápidos positivos para malária, o impacto é ainda mais real e dramático, refletindo a disseminação do parasita Plasmodium falciparum, causador da malária. Além disso, testes laboratoriais mais precisos também indicaram a presença de vírus respiratórios comuns, como o vírus da gripe, exacerbando a situação já delicada.
A epidemia gerou preocupação substancial haja vista que a vigilância epidemiológica e os testes laboratoriais estão em andamento, uma vez que o surto continua ativo. O número de novos casos nas últimas semanas tem se mantido relativamente estável desde o início de novembro, embora um aumento significativo tenha sido observado na semana que terminou em 15 de dezembro. Esse aumento foi atribuído à melhoria na detecção de casos após a implementação de equipes de resposta rápida, enquanto as mortes não apresentaram um crescimento proporcional.
De acordo com a OMS, as investigações em curso e as descobertas laboratoriais preliminares indicam que uma combinação de infecções respiratórias virais comuns e malária falciparum, agravadas pela desnutrição aguda, resultou em um aumento preocupante de infecções severas e mortes. Os sintomas mais comuns que têm levado aos casos fatais incluem dificuldade de respirar, anemia e os sinais de desnutrição aguda, afetando particularmente as crianças, que são as mais vulneráveis neste cenário.
Notavelmente, as crianças com menos de cinco anos foram as mais impactadas, representando quase metade de todos os casos e 54% de todas as mortes registradas, mesmo representando apenas 18% da população da região. Este dado é desesperador e ressalta a urgência de intervenções centradas na infância, visto que a saúde da criança está diretamente ligada à saúde das comunidades.
Além dos dados relacionados às crianças, observou-se que as mulheres também se mostram mais suscetíveis a essas infecções, possivelmente devido ao contato próximo durante doenças respiratórias agudas, quando são as principais cuidadoras das crianças. O surto se espalhou principalmente no distrito de Panzi, na Província de Kwango, uma área rural e remota, onde a cobertura vacinal é baixa e a temporada de chuvas aumenta a disseminação de malária, complicando ainda mais a já limitada infraestrutura de saúde e transporte da região.
Recentemente, o relatório da OMS apontou uma deterioração na segurança alimentar da região, o que agrava ainda mais as condições de saúde. A desnutrição severa é uma condição de risco à vida por si só, e a combinação entre doenças e desnutrição pode potencializar os efeitos nefastos em uma população já vulnerável.
Apesar do aumento alarmante de casos e mortes, a OMS observou que o risco para a população nacional e global permanece baixo, o que sugere que essa situação é particularmente onerosa para os habitantes dessas áreas afetadas. A conclusão é clara e triste: essa epidemia enfatiza o pesado fardo causado por doenças infecciosas comuns (infecções respiratórias agudas e malária) em um contexto de populações vulneráveis que enfrentam a insegurança alimentar e ressalta a necessidade urgente de melhorar o acesso e a qualidade dos cuidados de saúde.
Imagem: Funcionário de saúde prepara-se para a aplicação de uma injeção contra malária em uma criança durante a cerimônia de lançamento de uma campanha de vacinação contra a malária na Costa do Marfim.
Nesse contexto, é fundamental que ações de controle de doenças e intervenções sociais sejam implementadas com urgência para evitar que esse quadro se torne ainda mais grave. A manutenção e aumento da vigilância epidemiológica, junto ao fortalecimento dos sistemas de saúde na República Democrática do Congo, são essenciais para proteger as populações locais e prevenir futuras epidemias.