Taipei, Taiwan
CNN
 —

Nesta quinta-feira, 14 de dezembro de 2023, o escritório do presidente de Taiwan conduziu um exercício de simulação de mesa, um marco significativo para o país, que buscou preparar seu governo para a possibilidade de escalada militar por parte da China. Este tipo de exercício, inédito ao envolver diversos órgãos governamentais além das forças armadas, ressalta a urgência de Taipei em garantir uma resposta adequada a um Beijing cada vez mais assertivo e ameaçador.

O exercício contou com a participação de unidades governamentais centrais e locais, além de grupos civis, com o objetivo de verificar como o governo reagiria a uma série de cenários em caso de aumento das tensões na região. O presidente Lai Ching-te comentou na noite de quinta-feira que a simulação era uma tentativa de assegurar a prontidão de cada agência governamental frente a cenários extremos.

“Conduzimos esse exercício para verificar o nível de preparação de cada agência governamental em resposta a cenários extremos”, afirmou Lai. “Acreditamos que, enquanto o governo e a sociedade estiverem preparados, poderemos responder adequadamente a diferentes ameaças, incluindo desastres naturais e a expansão autoritária.”

A China, por sua vez, reivindica Taiwan como parte de seu território, apesar de nunca ter exercido controle sobre a ilha, e não descarta a possibilidade de tomá-la à força. Este legítimo temor por parte de Taiwan ganhou força nos últimos meses, desde que o país observou um aumento nas atividades militares chinesas nas águas do Estreito de Taiwan e no Pacífico Ocidental, com uma crescente presença de embarcações navais e da guarda costeira da China nas proximidades da ilha.

No início deste mês, o Ministério da Defesa de Taiwan relatou a maior movimentação marítima regional da China em décadas, que incluiu múltiplas formações de navios de guerra e embarcações da guarda costeira operando nas águas ao redor do Estreito de Taiwan. Este movimento alarmante fez com que o governo taiwanês revisse suas estratégias de defesa e mobilização.

Em 2023, a China conduziu dois exercícios militares de grande escala ao redor de Taiwan, o que descartou a possibilidade de pacificação nas relações. O primeiro exercício ocorreu em resposta à posse de Lai em maio, e o segundo foi realizado após seu discurso no Dia Nacional em outubro. O relacionamento entre Taiwan e China é tensamente conturbado, especialmente sob a administração da atual liderança taiwanesa, que é abertamente crítica das alegações territoriais da China, defendendo a soberania da ilha.

O exercício de simulação de mesa, diferente dos tradicionais jogos de guerra conduzidos pelas forças armadas, concentrou-se em como diferentes agências governamentais poderiam “garantir o funcionamento normal da sociedade” em tempos de crise. Essa abordagem destaca a necessidade de uma resposta coordenada e eficaz não apenas de uma única entidade militar, mas de todo o governo e da sociedade civil.

A simulação abrangeu dois cenários: um onde a China impõe táticas de guerra cinza de “alta intensidade” e outro em que Taiwan se encontra “à beira de um conflito”. As táticas de guerra cinza referem-se a ações que se situam abaixo do limiar do que poderia ser considerado atos de guerra. Com isso, Taiwan poderá se preparar para a ampla gama de desafios impostos por esses tipos de intervenções.

Durante o exercício, as agências governamentais não puderam trazer notas preparatórias e tiveram que reagir imediatamente a diversas contingências apresentadas, o que demonstra uma metodologia orientada para a ação, ainda que os detalhes exatos da simulação não tenham sido divulgados. A falta de preparação prévia ajudou a simular condições reais de um possível ataque surpresa.

É importante notar que, embora o exército de Taiwan mantenha uma série de exercícios regularmente, o evento desta quinta-feira foi a primeira vez que o escritório do presidente focou especificamente na resposta civil a uma possível invasão chinesa. Este enfoque mostra uma nova abordagem para lidar com a crescente pressão militar externa.

A simulação foi conduzida por representantes de alto escalão, incluindo a vice-presidente Hsiao Bi-khim e o secretário-geral do gabinete presidencial, Pan Men-an. Essa participação evidencia a seriedade e o comprometimento do governo em lidar com essa questão crítica para a segurança nacional. Os altos funcionários presentes destacaram a relevância desse tipo de exercício para o futuro de Taiwan.

Liu Shyh-fang, Ministro do Interior de Taiwan e um dos oficiais que lideraram o exercício, ressaltou que uma das principais lições foi a necessidade de aprimorar a capacidade de Taiwan para combater a desinformação em tempos críticos. A crescente disseminação de informações falsas é uma das maiores ameaças à coesão social e a um possível suporte militar em um cenário de crise.

Liu também enfatizou que, apesar de o ministério da defesa estar bem preparado para responder a várias situações, muitas agências governamentais enfrentam dificuldades em esclarecer informações falsas durante falhas de energia ou interrupções de internet, o que evidencia a necessidade urgente de mecanismos de backup para garantir que o fluxo de informações permaneça intacto durante uma crise.

Para enfrentar essa necessidade de prontidão e eficiência, o governo planeja recrutar e treinar 50.000 voluntários em todo o território de Taiwan até o final do próximo ano, o que incluirá trabalhadores do setor público e seria um passo importante para aumentar a resiliência do Estado frente a qualquer emergência futura.

Lin Fei-fan, um dos secretários-gerais do Conselho de Segurança Nacional de Taiwan, destacou que a simulação foi essencial para demonstrar a determinação da democracia da ilha em fortalecer sua resiliência em toda a sociedade. A necessidade de uma preparação robusta e um planejamento estratégico são fundamentais para garantir a proteção e a sobrevivência diante das crescentes tensões militares na região.

“Conduzir exercícios de mesa neste momento é crucial para nós fortalecermos as preparações para o futuro e identificarmos áreas para melhoria”, concluiu Lin, enfatizando a importância dessas iniciativas como parte integrante da estratégia de defesa nacional de Taiwan.

Similar Posts

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *