O clima atual nos Estados Unidos provoca recordações da pandemia de COVID-19, quando o medo do desconhecido levou muitos a estocar produtos essenciais. Herschel Wilson, um residente em Tacoma, Washington, é um desses cidadãos que, em agosto, começou a acumular suprimentos para sua família e seus três animais de estimação. Esta decisão emergiu após Donald Trump ser escolhido como candidato republicano à presidência, cuja plataforma inclui promessas de aumentos significativos em tarifas sobre produtos importados.

Após Trump vencer as eleições, Wilson sentiu que a situação exigia ações mais assertivas e começou a estocar quase tudo que podia, com um investimento total de cerca de USD 300 até agora e um plano de gastar mais USD 100 a cada mês, além de seus gastos normais com alimentos. Essa urgência, segundo ele, não é apenas um reflexo de uma possível escassez de produtos nas prateleiras, mas uma tentativa de evitar os custos crescentes que se espera que venham com a implementação das tarifas prometidas por Trump — tarifas que podem atingir de 10% a 20% em todos os produtos importados, e até 60% em mercadorias originadas da China.

Este sentimento de apreensão não é exclusivo de Wilson. Muitos especialistas em comércio e economia duvidam da implementação total das tarifas prometidas, considerando-as uma mera estratégia de negociação. No entanto, a possibilidade de aumentos significativos nos preços dos produtos – algo que afetaria diretamente todo consumidor, uma vez que poucos itens são completamente fabricados nos EUA – está claro em várias esferas da sociedade.

Wilson não é apenas um cliente preocupado. Como co-proprietário do Painting Panda Pottery Studio, um estúdio onde os clientes podem pintar sua própria cerâmica, ele percebe o impacto que tarifas mais altas teriam nos seus custos. Ele se preocupa que terá que transferir esses aumentos de preços para seus clientes, tornando os produtos menos acessíveis durante um período econômico instável.

Os Riscos do Reabastecimento em Tempos de Incerteza Econômica

Scott Lincicome, vice-presidente do Cato Institute, aconselha contra o modelo de acumulação de suprimentos. Segundo ele, não há garantias de que as tarifas propostas serão impostas assim que Trump assumir a presidência. Ele alerta que o impulso de estocar pode parecer uma ação sábia em tempos de incerteza, mas pode também resultar em comportamento prejudicial ao mercado — e ao bolso do consumidor. Durante a pandemia, por exemplo, o reabastecimento massivo resultou em prateleiras vazias e aumentos de preços substanciais.

Gaylon Alcaraz, uma residente de Chicago com uma elevada dívida estudantil, está ciente dos riscos que essa jogada pode acarretar. Após a eleição, ela, junto com sua mãe, iniciou um processo de acumulação de itens essenciais, motivada pelo medo do aumento da inflação. Alcaraz recorda os desafios enfrentados durante o auge da pandemia, quando itens básicos eram escassos e caros. “Quando eu penso nisso com lógica, às vezes parece irracional, mas as memórias dos dias difíceis da pandemia me estimulam”, afirma Alcaraz.

Alcaraz compartilha uma visão comum entre aqueles que estocam produtos, mesmo que não se sinta completamente confiante de sua decisão. “Sempre que vejo algo em promoção ou recebo meu pagamento, digo: ‘Vamos estocar’. Daqui a pouco, essas questões de preço se tornam mais emergentes”, destaca Gaylon, refletindo os temores que a inflação pode provocar.

Movimentos Proativos por Parte das Empresas na Prevenção de Aumentos de Preços

Não são apenas os consumidores que estão tomando medidas para se proteger de possíveis aumentos de tarifas; empresas também estão se preparando. Patrick Hallinan, CFO da Stanley Black & Decker, comentou em uma recente reunião de investidores que a empresa está estabelecendo níveis mais altos de estoque para mitigar os possíveis impactos das tarifas. A experiência anterior da empresa com tarifas durante o primeiro mandato de Trump resultou em um aprendizado valioso sobre a importância da proatividade na gestão de preços.

Além disso, os fabricantes dos EUA estão aumentando seus estoques de segurança para se proteger contra aumentos tarifários iminentes. O aumento na atividade de compra de produtos importados, que alcançou os níveis mais altos em mais de um ano, é um indicativo dessa tendência. As empresas também estão formulando planos de contingência, que incluem o aceleramento de envios a partir de países com altas expectativas de tarifação, mostrando que tanto o mercado quanto as empresas estão se adaptando rapidamente às novas realidades econômicas.

Wilson, por sua vez, sente que suas reservas não serão desperdício, já que, com três crianças em casa, todos os suprimentos acumularão uso. Ele enfatiza que sua estratégia visa, em última análise, evitar que sua família experimente o ímpeto inflacionário que poderia prejudicar sua capacidade de fornecer o que é necessário para sua família ao longo do tempo. “Não quero pagar o dobro do que estou pagando agora, especialmente com crianças que comem muito”, conclui.

Herschel Wilson owns a pottery painting studio with his wife, Noelle, pictured. The pieces they buy are mainly imported from countries like China, making their business sensitive to the effects of potentially higher tariffs.

Fontes: CNN International

Tarifas Altas – Um Giz de Quebra-Cabeça Econômico

Essas movimentações tanto de consumidores quanto de empresas refletem uma preocupação crescente sobre como o cenário econômico pode mudar nos próximos meses e como isso pode impactar o cotidiano das famílias americanas.

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