Em um cenário onde a sobrecarga de jogos no calendário do futebol torna-se cada vez mais crítica, a opinião do goleiro do Real Madrid, Thibaut Courtois, ganha destaque por sua sinceridade e por levantar questões relevantes sobre o bem-estar dos jogadores. Courtois está diante da crescente pressão das competições internacionais, e ele não hesita em desafiar a lógica que sustenta o atual modelo de competições esportivas, clamando por uma mudança. Essa discussão sobre o calendário é não apenas pertinente, mas necessária, especialmente quando se considera a experiência de outros esportes profissionais, como a NBA, que conseguiu equilibrar a intensidade de sua temporada com períodos adequados de descanso para seus atletas.
A intensidade do futebol moderno trouxe à tona um debate sobre o que realmente significa ser um atleta profissional. Embora a exibição em nível mais alto exija dedicação e resiliência, o aperfeiçoamento das condições de trabalho e a sobrante preocupação com a saúde dos jogadores são aspectos igualmente válidos. O calendário do futebol chega a ser visto como um campo de batalha onde interesses de clubes e seleções nacionais frequentemente colidem, gerando uma demanda excessiva sobre os jogadores. A pressão pelo desempenho é imensa, e muitos se perguntam: até onde isso é sustentável?
Neste contexto, Thibaut Courtois, que recebeu recentemente o Prêmio Carreira do Globo Soccer Awards em Dubai, expressou sua frustração com a justificativa comum de que os jogadores recebem grandes salários, portanto, devem suportar a carga máxima de jogos sem reclamar. Em uma entrevista à CNN, ele afirmou que “a desculpa de que ‘vocês ganham muito dinheiro’ tem que acabar”, enfatizando que a verdadeira questão reside na necessidade de um período de descanso adequado entre as competições. A sua afirmação reflete a realidade de que menos jogos, se bem organizados, poderiam resultar em um aumento significativo na qualidade do jogo, permitindo que os atletas se recuperem adequadamente.
A voz dos jogadores é silenciada
No início do ano, as coisas chegaram a um ponto crítico quando sindicatos de jogadores lançaram um desafio legal contra a FIFA pela decisão unilateral de expandir o calendário de partidas internacionais, incluindo o aumento do FIFA Club World Cup, que em 2025 contará com 32 equipes. De acordo com as associações de jogadores, esta mudança contraria os direitos dos jogadores à uma pausa anual e ignora os compromissos já existentes no calendário. O crescimento das competições, ao mesmo tempo em que aumenta as oportunidades de receitas, por outro lado, tem implicações diretas na saúde física e mental dos atletas, contribuindo para lesões e fadiga acumulada.
Durante o 74º Congresso da FIFA, realizado em Bangkok, o presidente da entidade, Gianni Infantino, defendeu o calendário atual afirmando que a FIFA “financia o futebol em todo o mundo” e que a maioria da receita gerada é distribuída a clubes países em desenvolvimento, gerando um dilema ético onde o crescimento das competições não coincide com o bem-estar dos seus protagonistas. Entretanto, Courtois discorda e sugere que, assim como na NBA, o futebol deveria buscar um equilíbrio melhor entre a frequência dos jogos e o tempo destinado para a recuperação dos atletas. “Eu acho que os jogadores não se importariam de jogar nove meses ininterruptos com um bom preparo e uma adequada gestão de carga”, disse ele, reconhecendo que uma pausa de dois meses, como os jogadores de basquete têm, poderia fazer toda a diferença.
O modelo da NBA como solução viável
Courtois, que é um grande fã de basquete, vislumbra na NBA um modelo a ser seguido. Apesar de a liga de basquete ter uma intensa carga de jogos, com 82 partidas na temporada regular e ainda mais durante os playoffs, o equilíbrio é alcançado com a distribuição adequada das folgas, proporcionando aos jogadores um período considerável para se recuperarem. Este modelo parece estar longe da realidade do calendário de futebol, onde os atletas, frequentemente pressionados pelo calendário apertado, acabam lidando com lesões recorrentes e fadiga. Courtois sugeriu que, com uma pausa adequada, os jogadores poderiam entrar em um regime de preparação que os prepararia para o desempenho ideal, reduzindo assim o risco de lesões.
O goleiro belga viveu na pele as consequências de um calendário pesado. Após uma lesão grave, as suas próprias dificuldades ao retornar ao campo foram um lembrete sombrio dos custos do calendário apertado no futebol. O impacto da agenda em clubes como o Real Madrid, onde muitos dos jogadores sao requisitados nas competições até a última hora, leva a um ciclo interminável: “Este ano há Club World Cup, depois tem o Mundial, e no próximo ano alguma outra competição, então não há descanso para os jogadores”.
Com essa perspectiva, fica evidente que mudanças são necessárias para evitar que os atletas mais enfermos sejam obrigados a continuar competindo. Courtois observa que muitos de seus colegas, incluindo Jude Bellingham e Dani Carvajal, mal tiveram tempo de descanso após a última temporada, e a falta de tempo para recuperarem o corpo adequadamente é uma receita para o desastre. A comparação que ele faz com a estrutura da NBA serve não apenas para expor o descompasso da carga das competições em ambas as ligas, mas também lança luz sobre a necessidade de encontrar um equilíbrio sustentável no esporte em geral.
Competições internacionais: o dilema do jogador
Um dos pontos mais críticos na discussão é o impacto dos jogos internacionais sobre o calendário. Com a introdução de novas competições como a UEFA Nations League e a expansão de torneios como os campeonatos continentais e mundiais de seleções, a quantidade de jogos que os jogadores estão sendo obrigados a participar está atingindo níveis alarmantes. Courtois é enfático ao afirmar que no contexto atual é difícil para os treinadores fazerem rodízio de jogadores e experimentarem novas táticas, já que a maioria dos jogos é considerada extremamente importante e não pode ser descartada. As consequências de um sistema que prioriza o lucro acima da saúde dos atletas podem ser devastadoras, e a pressão para ganhar em todas as frentes continua a aumentar.
Diante desse novo cenário, Courtois decidiu se abster de jogar pela seleção da Bélgica sob a atual gestão, expressando sua frustração com a falta de consideração pelas necessidades dos jogadores. Embora sua história com a seleção europeia tenha sido notável, com mais de 100 jogos defendendo as cores de sua nação, a necessidade de preservar sua saúde em primeiro lugar guia suas decisões.
O futuro das competições e o desejo de vencer
Enquanto Courtois está otimista sobre o futuro da seleção e deseja retornar em um formato mais saudável, ele também deseja aproveitar oportunidades de vencer tudo que pode a nível de clubes. Com a cobertura da UEFA, o torneio da Liga dos Campeões de 2024 se intensificou, aumentando a quantidade de jogos que os clubes devem jogar, mas Courtois acredita que essa nova abordagem irá gerar um aumento no nível da competitividade. Para ele, “a última coisa que queremos é que as oportunidades escassem”, reforçando que a mentalidade em clubismo também se traduz em um desejo ainda maior de conquistar títulos. Em resumo, a luta efetiva por um equilíbrio entre a quantidade de jogos, a saúde dos jogadores e o sucesso no esporte não é apenas necessária, mas essencial.
É um presente desencadeante o modo como tudo isso é organizado e o que deverá ser feito em Uma questão de tempo, onde a lógica e a saúde devem prevalecer, tanto para o jogador quanto para a indústria. O conceito é claro: se continuarmos a tratar os atletas como simples peças de uma máquina de fazer dinheiro, o resultado final será fatal. Portanto, a proposta de Thibaut Courtois deve ressoar não apenas entre os entusiastas do futebol, mas sim entre todos os que amam o esporte e desejam ver um futuro sustentável e saudável para todas as partes envolvidas.