Muan County, Coreia do Sul
CNN
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O som de choro, orações e desamparo ecoou pelo saguão de um aeroporto no sudoeste da Coreia do Sul na manhã de segunda-feira, enquanto as famílias das vítimas do acidente aéreo aguardavam a identificação de seus entes queridos. O desastre ocorreu quando um avião comercial da Jeju Air, que transportava 175 passageiros e 6 tripulantes, fez um pouso forçado no aeroporto de Muan County logo após às 9 horas da manhã no horário local, resultando na morte da maioria dos ocupantes.

Com apenas duas pessoas sobrevivendo ao acidente, este foi considerado o pior desastre aéreo que a Coreia do Sul enfrentou em quase 30 anos. Essa tragédia deixou as famílias em luto e sem respostas, enquanto os serviços médicos anunciavam o nome de 141 vítimas que já haviam sido identificadas. A identificação dos 28 corpos restantes está sendo realizada com a ajuda de testes de DNA, conforme informações do Ministério de Terra, Infraestrutura e Transporte.

Dentro do Muan International Airport, parentes e amigos choravam enquanto se reuniam em grupos, trocando palavras de consolo em meio a lágrimas. O ambiente, normalmente cheio de alegria e expectativa, foi tomado pela dor da perda. Monjes budistas ofereciam orações, enquanto tendas amarelas eram montadas para acomodar aqueles que passaram a noite no local em busca de respostas. As emoções estavam à flor da pele, com alguns familiares expressando sua frustração e exigindo mais informações junto às autoridades.

Neste trágico contexto, as investigações sobre a causa do acidente estão em andamento. Especialistas examinam se uma possível colisão com aves pode ter causado a falha na aterrissagem do voo 7C 2216 da Jeju Air, que estava em rota de Bangkok para Muan. Cenas do acidente, exibidas por vários meios de comunicação, mostram que o trem de pouso não estava visível durante a aterrissagem, levando a aeronave a deslizar de barriga, colidindo violentamente com um barranco e explodindo em uma bola de fogo.

Relatives of victims of the deadly Jeju Air crash gather at a makeshift shelter at Muan International Airport on December 30.

Investigação em andamento

As investigações estão em curso para entender o que pode ter causado a falha crítica na aterrissagem do voo Jeju Air. Imagens mostram que o trem de pouso não foi visível, sugerindo que a roda de pouso não se desdobrou completamente. Especialistas discutem as razões raras que poderiam levar a tal falha, e dois gravadores – o de dados de voo e o de voz – já foram recuperados. Contudo, o gravador de voo sofreu danos externos e foi enviado a um centro de análise em Seul para que fosse verificado que informações poderiam ser extraídas.

O National Transportation Safety Board (NTSB) dos Estados Unidos está colaborando com as autoridades sul-coreanas, incluindo a Boeing e a Administração Federal de Aviação (FAA), para investigar a situação. As informações relacionadas à investigação serão divulgadas pelo Conselho de Investigação de Acidentes da Aviação e Ferrovia da Coreia do Sul.

O ministério de transporte da Coreia do Sul afirmou que a torre de controle havia instruído o piloto a mudar de curso para evitar uma potencial colisão com aves. O piloto seguiu as orientações e, cerca de um minuto depois, emitiu um chamado de emergência. O ato de pouso aconteceu aproximadamente dois minutos após o chamado de emergência.

Pessoas trabalham no local onde um voo da Jeju Air fez um pouso forçado no Aeroporto Internacional de Muan, Coreia do Sul, em 30 de dezembro.

O ministério informou que o piloto-chefe da aeronave atuava na função desde 2019 e tinha aproximadamente 6.800 horas de experiência de voo. Esta triste estatística ganha ainda mais relevância, considerando que na Coreia do Sul este incidente se tornou um dos mais comentados da história recente, levando a uma onda de reflexões sobre a segurança na aviação civil.

Em resposta à tragédia, o presidente interino da Coreia do Sul, Choi Sang-mok, declarou luto nacional de sete dias e ordenou uma investigação abrangente sobre o sistema aéreo do país. “Vamos divulgar o andamento da investigação de forma transparente, mesmo antes da liberação dos resultados finais, e manter as famílias enlutadas informadas”, afirmou Choi em uma reunião de controle de desastres em Seul.

Choi, que também é ministro da Fazenda, visitou o local do acidente e declarou a área como uma zona de desastre especial, expressando suas “sinceras condolências” às famílias das vítimas. Essa tragédia, que ocorreu apenas dois dias depois de Choi assumir funções presidenciais, destacou a complexidade dos desafios enfrentados pelas autoridades do país.

Mais de 700 pessoas, incluindo policiais, membros do exército e da guarda costeira, foram mobilizadas para ajudar nos esforços de resposta ao acidente, conforme informou o ministério do transporte. A participação ativa de diferentes ramos da segurança nacional reflete a gravidade da situação e a determinação em proporcionar o suporte necessário às famílias afetadas.

Mourners have begun laying flowers and candles at a public memorial altar set up in Muan to honor victims of the crash, according to video by Reuters news agency.

“Ela estava quase em casa”

As vítimas do acidente de domingo incluíram 84 homens, 85 mulheres e 10 pessoas cuja identidade de gênero não pôde ser determinada, conforme informações do Corpo de Bombeiros de Jeolla do Sul. Os dois sobreviventes eram membros da tripulação, um homem e uma mulher. Entre os passageiros, dois cidadãos tailandeses estavam a bordo, enquanto todos os outros eram sul-coreanos.

O pai de uma das vítimas tailandesas, Boonchuay Duangmanee, expressou sua dor ao Associated Press, dizendo que “nunca pensou que essa seria a última vez que se veriam para sempre”. Sua filha, Jongluk, trabalhava em uma fábrica na Coreia do Sul há vários anos e estava em viagem para visitar a família na Tailândia antes de pegar o voo fatal.

Luto público no altar memorial para vítimas do acidente da Jeju Air no Aeroporto Internacional de Muan, no parque esportivo de Muan, Coreia do Sul, 30 de dezembro de 2024.

O pai de uma das vítimas tailandesas, Boonchuay Duangmanee, expressou sua dor indescritível ao afirmar que “nunca pensou que essa seria a última vez que se veriam para sempre”. Sua filha, Jongluk, trabalhava em uma fábrica na Coreia do Sul, retornando de uma visita à família na Tailândia. “Eu ouvi que o avião explodiu na Coreia esta manhã, mas não esperava que minha filha estivesse nesse voo”, disse ele, tentando afastar a dor da perda.

Outro homem que também perdeu sua filha descreveu a angústia de não ter notícias antes do desastre. “Ela estava quase em casa, então não sentiu a necessidade de ligar”, relatou Jeon Je-Young, um senhor de 71 anos, sobre sua filha Jeon Mi-Sook. “Ela pensou que estava voltando para casa. Acredito que, naqueles últimos momentos quando ela tentou entrar em contato, o dano já havia ocorrido e o avião já havia colidido”, completou o pai em um momento de profunda tristeza e reflexão.

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