A chegada do inverno em Gaza trouxe não apenas temperaturas congelantes, mas um cenário devastador que evidencia os desafios extremos enfrentados pelas crianças na região. Na última quarta-feira, a morte do recém-nascido Sela Mahmoud Al-Fasih, que congelou em um acampamento de tendas em Al-Mawasi, destaca a realidade brutal vivida por muitos palestinos deslocados. Este caso trágico é mais do que uma estatística; é um lembrete vívido da crise humanitária em curso, exacerbada pela contínua ofensiva israelense na Faixa de Gaza.

Dr. Munir Al-Bursh, diretor geral do Ministério da Saúde de Gaza, foi quem confirmou a morte de Sela, informando que a causa foi o “extremo frio”. Sua morte marca a terceira perda de um bebê apenas nas últimas 48 horas devido às baixas temperaturas e à falta de abrigos adequados. O Dr. Ahmed Al-Farra, chefe de pediatria e obstetrícia do Hospital Nasser em Khan Younis, também relatou que dois outros infantes, um com apenas três dias de vida e outro com um mês, faleceram sob as mesmas condições.

Al-Mawasi, uma região costeira situada a oeste de Rafah, foi previamente designada por Israel como uma “área humanitária”. No entanto, diante da violência persistente, milhares de palestinos buscaram refúgio ali, vivendo em abrigos improvisados feitos de tecido e nylon há meses. Durante uma cobertura da CNN, foi possível observar Sela envolta em um lençol branco, enquanto seu pai, Mahmoud, segurava seu corpo pequeno. Outra imagem mostrava um grupo de jovens palestinos em posição de lamento ao lado de seu sepulcro.

A dor da mãe de Sela, Nariman, é palpável. Em uma entrevista, ela descreveu sua impotência: “Eu estava aquecendo-a e segurando-a. Mas… não tínhamos roupas extras para aquecer essa menina.” O vídeo mostrou como o rosto da pequena Sela havia adquirido uma coloração azulada, um reflexo da gravidade da situação. Este retrato sombrio se torna ainda mais evidente quando consideramos que a ofensiva israelense, iniciada após o ataque do Hamas em 7 de outubro, transformou Gaza em um campo de ruínas, levando a uma crise humanitária sem precedentes, repleta de fome, deslocamento e doenças em massa.

De acordo com informações do ministério da saúde local, mais de 45.000 palestinos já foram mortos e 107.000 ficaram feridos desde o início dos confrontos. O quadro é mais alarmante ainda quando consideramos que os defensores dos direitos humanos alertam sobre a violência sem precedentes enfrentada pelas crianças palestinas, que estão, infelizmente, entre os principais alvos deste conflito.

Uma guerra contra as crianças

As estatísticas são alarmantes. Desde o início do conflito, mais de 17.600 crianças em Gaza perderam a vida. O Dr. Al-Bursh reafirmou esta realidade sombria ao dizer que uma criança está sendo morta a cada hora. Philippe Lazzarini, chefe da agência da ONU para refugiados palestinos, destacou a urgência da situação: conforme os dados da ONU, os números só aumentam.

Simultaneamente, mais de 17.000 crianças foram deixadas desacompanhadas ou separadas de seus responsáveis, conforme relatado pelo Comitê Internacional de Resgate. As que ficaram juntas enfrentam uma luta diária para encontrar alimentos, água e calor, enquanto o cerco israelense tem drenado os suprimentos essenciais. A escassez de cuidados médicos na faixa de Gaza, paralisada pelos ataques israelenses, também é alarmante. Somente 20% das unidades de cuidados neonatais estão operacionais, e bebes prematuros estão morrendo devido à falta de suprimentos médicos, como ventiladores.

Recentemente, a UNICEF emitiu um alerta sobre a situação devastadora das crianças na região, destacando que muitas estão vestindo apenas as roupas que conseguiram pegar ao fugirem dos bombardeios, incapazes de escapar da tragédia que se abate sobre elas. Rosalia Bollen, especialista em comunicações da UNICEF, enfatizou que a realidade para mais de um milhão de crianças em Gaza é de medo, privação absoluta e sofrimento inimaginável. “O war on children em Gaza serve como um forte lembrete de nossa responsabilidade coletiva. Uma geração de crianças está suportando a brutal violação de seus direitos e a destruição de seus futuros”, afirmou.

Em meio a todas essas tragédias, a CNN fez uma solicitação ao Exército de Defesa de Israel para comentar sobre as mortes dos três recém-nascidos em Al-Mawasi. A resposta a essa pergunta permanece em aberto, mas o humo da guerra continua a ser o pano de fundo da vida em Gaza, especialmente para as crianças.

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