Durante o AWS re:Invent, tradicional conferência da Amazon Web Services, o CTO da empresa, Werner Vogels, fez uma série de previsões sobre o futuro do trabalho, a responsabilidade das empresas tecnológicas e a luta contra a desinformação. Em meio a um cenário dominado por discussões acerca da inteligência artificial, Vogels desviou o foco para questões que impactam diretamente a sociedade, refletindo sobre como a nova geração de trabalhadores, composta principalmente por Millennials e da Geração Z, estão moldando as expectativas do ambiente corporativo. O que se destaca nas palavras de Vogels é uma clara mudança de paradigma em relação ao que as pessoas valorizam em seus empregos, enfatizando a importância da sustentabilidade, do impacto social e do combate à desinformação na era digital.
A nova geração de profissionais que entra no mercado de trabalho tende a priorizar empresas que estão comprometidas com causas sociais e ambientais. Vogels mencionou que tem observado um aumento significativo no número de trabalhadores de tecnologia dispostos a aceitar uma redução salarial em troca de um emprego em uma empresa que valoriza a sustentabilidade. Ele destacou que, ao contrário de alguns anos atrás, quando existia uma necessidade predominante de convencer as pessoas a se envolverem em causas sociais, agora são os próprios trabalhadores que buscam oportunidades de contribuir. “Há empresas, como a Mercy Corps, que lutam para adaptar suas operações a essa nova demanda, pois o número de voluntários dispostos a oferecer sua expertise está crescendo a cada dia”, ressaltou.
No entanto, Vogels alertou que essa mudança de mentalidade traz consigo um desafio para os empregadores: adaptar a cultura da empresa para atrair e reter esses novos talentos. Segundo ele, a valorização do salário e benefícios, antes condições essenciais para a aceitação de um emprego, está se transformando. A nova geração de trabalhadores quer saber se seu trabalho é significativo e se contribui para algo maior. Isso exige que as empresas repensem suas propostas de valor e busquem alinhar seus objetivos aos valores de seus colaboradores. Para atrair os melhores profissionais, o foco deve ser ajustado do tradicional “Que tipo de laptop vou ganhar?” para questões mais profundas como “O que eu faço realmente importa?”.
Avançando nessa reflexão sobre a responsabilidade social das empresas, Vogels discorreu sobre a crescente dificuldade em confiar nas informações disponíveis atualmente. Em um mundo onde a desinformação se espalha rapidamente, ele compartilhou a visão de que cabe aos profissionais de tecnologia encontrar soluções eficazes. “Precisamos desenvolver ferramentas que ajudem os usuários a discernir a veracidade das informações que recebem. Um exemplo disso seria o uso de extensões de navegador que fornecessem contextos relevantes ou até mesmo referências acadêmicas sobre os tópicos abordados”, declarou. Ele ressaltou que a rápida disseminação de notícias falsas tem um impacto significativo nas sociedades modernas, e a responsabilidade dos desenvolvedores é encontrar formas de reverter esse cenário.
Adicionalmente, a questão do vício em tecnologia foi abordada. Vogels observou que os dispositivos e aplicativos que usamos atualmente são projetados para serem altamente atraentes e, por consequência, viciantes. Ele destacou que, nas gerações mais jovens, a exposição a esse tipo de tecnologia, desde a infância, pode levar a um ciclo de dependência que se estende a outras áreas da vida. Apesar de mencionar que talvez os adultos tivessem mais controle, ele se questionou se essa afirmação é realmente válida, já que muitos adultos também enfrentam desafios com a tecnologia. Como solução, sugeriu que os desenvolvedores se comprometam em criar interfaces que não apenas maximizem o engajamento, mas que também priorizem a saúde mental e o bem-estar dos usuários.
Por último, mas não menos importante, Vogels discutiu a potencial expansão da energia nuclear como uma solução viável para os desafios energéticos atuais. Ele argumentou que pequenos reatores nucleares podem ser a chave para atender à demanda crescente por energia, especialmente em áreas onde empresas de energia têm restrições para construir novas instalações. “A tecnologia existe, precisamos agora da aceitação social para investir em um futuro energético mais sustentável e seguro”, concluiu.
Em suma, as previsões de Werner Vogels nos convidam a refletir sobre o papel que a tecnologia deve desempenhar em nossa sociedade. A nova geração de trabalhadores trará mudanças significativas na maneira como as empresas operam, priorizando a responsabilidade social e a veracidade das informações. É um lembrete de que, à medida que avançamos em um mundo cada vez mais digital, também devemos estar cientes do impacto que isso pode ter em nossa sociedade e agir de forma responsável.