Em um movimento que promete agitar o cenário energético global, o ex-presidente Donald Trump anunciou sua intenção de revogar uma proibição estabelecida durante a administração de Joe Biden que restringe algumas exportações de gás natural liquefeito (GNL) dos Estados Unidos. Essa decisão, embora vista como um incentivo para os produtores de energia americanos, pode não trazer os benefícios esperados para a Europa, o principal comprador do GNL dos EUA, que enfrenta desafios próprios na busca por segurança energética.
No contexto atual, onde a crise climática é uma preocupação crescente, muitos especialistas alertam que a expansão das exportações de GNL pode não ser a solução mágica que os defensores da energia natural esperam. De acordo com previsões, mesmo que os EUA voltem a exportar livremente, os benefícios relevantes para a Europa não se materializarão até após 2030, um tempo em que a região poderá estar mais focada em suas soluções energéticas autossustentáveis.
A Europa, que já passou por quase três anos difíceis com preços de energia nas alturas, estava em uma situação delicada, especialmente após reduzir significativamente sua dependência do gás russo. Analisando os dados mais recentes, verifica-se que a maior parte do gás natural líquido importado pela Europa nos últimos anos foi proveniente dos EUA, que passou a ser o maior exportador mundial de GNL. Este feito é corroborado pela Administração de Informação de Energia dos EUA (EIA), que destaca que, durante 2023, os Estados Unidos superaram a Austrália e o Catar, tornando-se a principal fonte de GNL do mundo.
O mercado europeu de gás natural, ainda instável, é fortemente impactado pela alta do preço do gás. A situação torna-se ainda mais crítica com a iminente expiração de um contrato de trânsito de gás russo através da Ucrânia, que está previsto para ser encerrado em 1º de janeiro de 2025. Essa rota representa aproximadamente 5% do total de gás importado pela União Europeia, com impacto significativo em economias como Áustria, Hungria e Eslováquia, que dependem desse suprimento.
De acordo com o Bank of America, com as projeções calorosas para o inverno e a incerteza ao redor do gás russo, o mercado europeu de gás manterá um estado de vulnerabilidade, o que o tornará desafiador para suprir a demanda esperada, especialmente para o próximo inverno. O banco também observa que apesar de os preços do gás terem caído de seus recordes históricos, esses ainda permanecem mais que o dobro dos níveis históricos e devem ver pouca mudança significativa a curto prazo.
Adicionalmente, os analistas preveem que o crescimento do suprimento de GNL global será modesto até 2025, dificultando ainda mais a tarefa da Europa de reabastecer suas reservas antes da próxima temporada de frio. As altas taxas de preços implicam que as empresas europeias estão tendo uma desvantagem competitiva em relação àquelas baseadas nos Estados Unidos, que desfrutam de preços de energia muito mais baixos. Na verdade, as empresas europeias de gás estão, atualmente, enfrentando até cinco vezes os preços que os consumidores americanos pagam por gás natural, apesar de uma previsão de que essa diferença possa diminuir até 2026, ainda deixando os custos europeus acima de três vezes os americanos.
Contudo, o otimismo é moderado. Especialistas afirmam que, embora as novas fontes de GNL dos EUA, do Catar e de outros países devam ajudar a aliviar a pressão sobre os preços na segunda metade desta década, os impactos da revogação da proibição de Biden não começarão a ser sentidos antes de 2030. Quando finalmente se concretizarem, as novas exportações estarão sob a influência de um mercado que deverá considerar outros fatores como a eficiência e as emissões de carbono.
Dessa forma, o dilema da dependência de combustíveis fósseis se mantém em evidência enquanto a Europa avança em direção ao que espera ser um futuro energético mais sustentável. A transição energética é um desafio que requer um equilíbrio cuidadoso entre as necessidades imediatas de energia e a urgência de soluções que não contribuam para a crise climática global. Portanto, embora a promessa de Trump sobre uma reversão na política de exportação de GNL possa parecer um alívio momentâneo para os produtores americanos, as repercussões de longo prazo terão um impacto significativo nas políticas de energia da Europa.
Com uma agitação crescente no mercado de gás natural e um foco renovado em fontes de energia sustentáveis, a história continua a se desdobrar, e o impacto total da decisão de Trump será mais revelador no futuro próximo. À medida que assistimos essa evolução, uma pergunta persiste: até quando a Europa continuará a navegar pelas incertezas do fornecimento energético enquanto busca soluções para um futuro mais verde e sustentável?
Fontes adicionais: Para mais informações sobre o crescimento das exportações de GNL dos EUA, você pode acessar a análise da [EIA](https://www.eia.gov/todayinenergy/detail.php?id=61683#:~:text=The%20United%20States%20was%20the%20world’s%20largest%20liquefied%20natural%20gas%20exporter%20in%202023). Além disso, detalhes sobre a política energética da Europa podem ser verificados na recente documentação do [Conselho da Europa](https://www.consilium.europa.eu/en/infographics/eu-gas-supply/#:~:text=Import%20from%20Russia%20declined%20from,to%2062%20bcm%20in%202023).