Washington
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Durante uma entrevista que foi transmitida no domingo no programa “Meet the Press” da NBC, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, repercutiu várias alegações falsas, incluindo a afirmação de que os Estados Unidos seriam o único país do mundo a oferecer cidadania automática ao nascer, o que é simplesmente falso. Essa afirmação foi uma das muitas inverdades que Trump repetiu, cujo impacto na política americana é inegável, especialmente em um cenário onde a imigração e a cidadania estão em discussão fervorosa.

Trump reafirmou sua intenção de acabar com a cidadania por nascimento, que, segundo a 14ª Emenda da Constituição, concede a cidadania a qualquer indivíduo nascido em solo americano, independentemente da condição migratória dos pais. Afirmou com convicção: “Nós somos o único país que tem isso”. Contudo, essa declaração é desmentida por diversas fontes, incluindo um relatório da CNN e vários outros veículos de comunicação, que já haviam esclarecido essa questão durante sua campanha presidencial de 2015 e, novamente, em 2018, durante seu primeiro mandato. Na realidade, cerca de três dúzias de países, incluindo vizinhos dos EUA, como Canadá e México, assim como a maioria dos países sul-americanos, também concedem cidadania automática a pessoas nascidas em seu território.

É interessante notar que, em um momento em que o debate sobre imigração é cada vez mais acalorado, as afirmações de Trump sobre a criminalidade no país também não passam ilesas. Ele declarou falsamente que “a criminalidade está em sua maior alta de todos os tempos”. Essa alegação não apenas é enganosa, mas amplamente rebatida por dados que indicam uma queda significativa nas taxas de criminalidade violenta e de propriedade nos Estados Unidos desde o início dos anos 1990, com os dados do FBI confirmando uma nova diminuição na criminalidade em 2023.

Tarifas e suas consequências econômicas: Em uma análise de suas políticas econômicas, Trump afirmou que as tarifas que impôs durante sua presidência “não custaram nada aos americanos”. Nessa ótica, contudo, estudos demonstraram que, na realidade, os americanos foram os que arcaram quase que integralmente com o custo destas tarifas, sendo que esse custo é suportado por importadores nos EUA. Vários estudos já demonstraram que as empresas passaram esses custos adiante para os consumidores, o que gera um impacto direto na economia local e no poder aquisitivo da população.

Outro ponto controverso levantado foi em relação à inflação. Trump se apropriou de dados para afirmar que durante sua presidência não havia inflação. No entanto, a inflação acumulada durante seu mandato foi de aproximadamente 8%, o que é refutado por especialistas e dados governamentais. Além disso, ao criticar o atual governo, Trump disse que a administração Biden “não teve inflação por um ano e meio”. Na verdade, a inflação acumulada durante os dois primeiros anos do governo Biden foi de cerca de 14%, com um pico que ocorreu em junho de 2022.

A eleição de 2020 e suas repercussões políticas: Trump também reiterou sua velha alegação de que era o verdadeiro vencedor da eleição de 2020, afirmando que era um “argumento fácil” de ser feito, como se novas vitórias eleitorais pudessem reverter o que foi consagrado nas urnas. Independente de sua vitória nas eleições de 2024, suas alegações de fraude eleitoral em 2020 são vistas como infundadas pela maioria dos especialistas e instituições que analisam o processo eleitoral americano.

As alegações de Trump sobre imigração também foram revisadas. Ele afirmou que “13.099 assassinos foram soltos no nosso país nos últimos três anos”. Entretanto, essa cifra é distorcida; na verdade, esse número é de imigrantes que têm condenações por homicídio nos EUA, uma estatística que abrange várias décadas, incluindo durante a própria administração de Trump. Especialistas já contradisseram essa informação, afirmando que a verdadeira cifra pode ser considerada uma simplificação do complexo tema da imigração e crime.

Trump também fez alegações sobre a Venezuela, afirmando que o país teria esvaziado suas prisões para permitir que criminosos emigrassem para os Estados Unidos. No entanto, essa narrativa carece de substanciação e é amplamente refutável por especialistas que indicam que não existem evidências que sustentem tal alegação.

Comércio e a relação com a União Europeia: Na esfera do comércio, Trump alegou que os países europeus não compram carros ou produtos alimentícios dos Estados Unidos. Dados oficiais refutam essa afirmação, destacando que, em 2023, os EUA exportaram cerca de 368 bilhões de dólares em bens para a União Europeia e importaram aproximadamente 576 bilhões de dólares. Além disso, a União Europeia se destaca como um importante mercado para exportações de veículos americanos e produtos agrícolas.

Trump e a Affordable Care Act: Relativamente à saúde, Trump disse que “salvou o Obamacare”, o que é no mínimo enganoso. Durante seu mandato, Trump tentou eliminar a Affordable Care Act (conhecida como Obamacare), mas não obteve sucesso. Em vez disso, suas administrações tentaram enfraquecer a legislação de várias maneiras, sem comunicar aos cidadãos a integralidade dos serviços que o Obamacare oferece.

Essas declarações de Trump, que ecoam através das ondas dos meios de comunicação, não apenas mostram a persistência de informações errôneas na esfera pública, mas também ilustram a necessidade de uma análise crítica e informada das questões que afetam a cidadania, a economia e a saúde pública nos Estados Unidos. Enquanto a nação se prepara para novas eleições, a resiliência da verdade frente à desinformação se torna mais crucial do que nunca.

Encontro entre líderes

Crédito da imagem: Sarah Meyssonnier/Pool/Reuters

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