Com a proximidade das festas de fim de ano e a tradicional figura do Papai Noel em evidência, muitos pais se veem diante de um dilema: como disciplinar seus filhos sem recorrer a métodos que possam ser prejudiciais ao seu desenvolvimento emocional? Uma recente pesquisa do C.S. Mott Children’s Hospital, divulgada na segunda-feira, revelou que um em cada quatro pais de crianças em idade pré-escolar recorre à ameaça de não receber presentes para controlar comportamentos indesejados.

A pesquisa, realizada em agosto, contou com a participação de 725 pais que possuem pelo menos um filho entre 1 e 5 anos. Segundo os dados, mais da metade dos entrevistados afirmaram que, em algum momento, já fizeram uso de incentivos ou até mesmo subornos para estimular boas ações. “É um desafio para os pais saberem como lidar com questões disciplinares. Queríamos explorar suas abordagens e onde eles buscam recursos para tomar decisões sobre a disciplina”, afirmou a Dra. Susan Woolford, co-diretora do Mott Poll e pediatra na Universidade de Michigan em Ann Arbor.

Especialistas advertem que tanto ameaças quanto subornos podem ter efeito contrário, exacerbando a indisciplina e gerando estresse nos pequenos. A Dra. Michelle Janning, professora de sociologia no Whitman College, Washington, comentou que a pressão social e a comparação entre as crianças também são questões a serem consideradas. “Até crianças de 5 anos observam umas às outras em relação ao que possuem e, se você não cumpriu a promessa de um presente, isso gera um verdadeiro risco social entre elas”, destacou Janning.

Turbulências na disciplina consistente

Embora cerca da metade dos pais ouvidos se considere consistente na disciplina dos filhos, muitos enfrentam dificuldades na aplicação desse conceito. As razões para isso incluem desde a imaturidade da criança para compreender a disciplina até o receio de crises públicas, além da percepção de que suas estratégias não funcionam como esperado. A pesquisa revelou que 31% dos entrevistados têm medo de disciplinar os filhos em público, temendo explosões emocionais que podem ser exacerbadas pela preocupação com o julgamento nas redes sociais.

Woolford enfatiza a importância de manter as estratégias planejadas em situações críticas. “Os pais ficariam surpresos com a quantidade de empatia que poderiam receber de outros em uma loja que já passaram por experiências semelhantes”, sugere a especialista. Para evitar frustrações desnecessárias, recomenda também que os pais evitem sair de casa quando as crianças estão cansadas ou com fome, ou mesmo quando eles próprios se sentem exaustos.

Além da consistência, as consequências da disciplina precisam ser diretamente relacionadas ao comportamento, o que ajuda as crianças a entenderem claramente o que ocorreu. A Dra. Woolford aponta que a utilização de ameaças para corrigir condutas indesejadas tende a ser ineficaz, uma vez que muitos pais não a cumprem e, com isso, perdem credibilidade. “As crianças aprendem que não haverá consequência real”, ressaltou.

Construindo um estilo de disciplina saudável

Em vez de recorrer a ameaças, os especialistas incentivam a prática do reforço positivo. Ao invés de apenas dizer “Você é uma boa garota”, seria mais efetivo declarar “Uau, como você me ajudou a arrumar os brinquedos!” Essa prática ajuda as crianças a reconhecerem quais comportamentos devem ser repetidos, promovendo a continuidade das ações que trazem recompensas. Nos últimos anos, muitos pais têm utilizado uma variedade de fontes para orientações, incluindo familiares, amigos e até redes sociais ou artigos online.

De acordo com a pesquisa, quase 40% dos pais acredita que suas abordagens são extremamente eficazes, enquanto 57% consideram-nas apenas parcialmente eficazes. Contudo, um em cada oito pais admitiu não ter refletido sobre as estratégias disciplinares que utiliza com seus filhos e 42% confessaram, em algum momento, ter aplicado o método da palmada – uma técnica desaconselhada por profissionais da área.

Jackson enfatiza que muitos pais enfrentam uma quantidade significativa de estresse, lidando com a pressão de gerenciar o tempo e as finanças, o que torna desafiador o desenvolvimento de novas estratégias para comportamentos difíceis. Para aqueles que buscam ajuda adicional, a Dra. Woolford recomenda consultar o pediatra da criança ou acessar o site da American Academy of Pediatrics.

Concluindo, os especialistas aconselham os pais a confiarem em seus instintos ao implementar estratégias de disciplina, adaptando-as às necessidades únicas de sua família. “Os pais devem ser mais bondosos consigo mesmos e parar de se envergonhar mutuamente, porque essa já é uma tarefa difícil por si só”, conclui Janning.

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