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Na manhã de 7 de dezembro de 1941, enquanto as bombas caiam sobre Pearl Harbor, transformando as tranquilas águas havaianas em um cemitério de metal retorcido e destroços em chamas, Earl “Chuck” Kohler não hesitou em lutar de volta. O ataque japonês resultou na morte de 2.403 americanos e lançou os Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial. O ataque brutal e implacável deixou a Frota do Pacífico dos EUA em ruínas, e o dia ficou eternamente marcado na história, como imortalizado nas palavras do presidente Franklin Roosevelt, “uma data que viverá na infâmia”.
Kohler, na época com 17 anos, desobedeceu ordens diretas para se abrigar em uma vala e ficar ali. Em vez disso, ele correu para buscar munição. Armada e determinada, ele e seus companheiros lutaram ferozmente para repelir a segunda onda de bombardeiros japoneses que atacavam a Ilha Ford.
Em uma entrevista, Kohler descreveu suas motivações: “Talvez eu tenha sido um idiota, mas eu sabia que este era o começo daquela guerra que eles vinha falando e esperando. E eu sei que, se eu for perder minha vida aqui, não quero perder dentro daquela vala. Vou querer que minha família e meu país saibam que morri lutando, não escondido.”
Antes de se juntar à Marinha, Kohler era o filho de um agricultor e o quarto de dez filhos. Ele explicou que não havia muito tempo livre além da caça e de ajudar a colocar comida na mesa. O que o levou a se alistar foi a convicção de que era seu dever. “Aprendi cedo na vida que você nunca foge de um desafio ou de uma luta; você sempre corre para ele. Você não pode vencê-los fugindo deles”, revelou Kohler.
Agora, com 100 anos, ele é considerado um dos apenas 16 sobreviventes de Pearl Harbor que ainda estão vivos. Durante a manhã do ataque, ele descreve como aquele dia se desenrolou em meio a um cenário de caos e destruição, enquanto muitas vidas eram perdidas a cada explosão.
No próximo sábado, milhares se reunirão nas margens de Pearl Harbor para o 83º aniversário do bombardeio, prestando homenagem aos membros da Grande Geração, um tributo aos americanos que enfrentaram a Grande Depressão e lutaram na Segunda Guerra Mundial “por seu sacrifício, coragem e perseverança indomável”.
“O lema dos Filhos e Filhas dos Sobreviventes de Pearl Harbor é ‘Para que nunca esqueçamos’. Nós não nos esquecemos dos 87.000 militares ativos que estavam na ilha de Oahu em 7 de dezembro de 1941”, afirmou Kathleen Farley, filha de John Farley, que sobreviveu ao ataque a bordo do USS California.
“Vários eventos estão planejados para honrar nossos amados sobreviventes de Pearl Harbor, nossos pais, avôs e bisavôs que estiveram lá, e sabemos suas histórias”, disse Farley. “Que aqueles que vieram antes de nós tenham bons ventos e mares favoráveis. Nós, os Filhos e Filhas, continuaremos com sua história com orgulho”.
Sobreviventes participam de eventos de aniversário no Havai e na Califórnia
No evento, espera-se a participação de pelo menos dois sobreviventes – Ken Stevens e Ira “Ike” Schab Jr. – na cerimônia de Lembrança de Pearl Harbor em Oahu, de acordo com Pacific Historic Parks, que administra o Memorial USS Arizona.
Schab, de 104 anos, foi recebido pela Banda da Frota do Pacífico dos EUA e pela Guarda de Honra da Base Aérea Pearl Harbor-Hickam ao chegar no Aeroporto Internacional Daniel K. Inouye na terça-feira, conforme publicado em uma postagem do Joint Base Pearl Harbor-Hickam. Sua família arrecadou mais de $ 5.000 para ajudá-lo a viajar para participar das comemorações de Pearl Harbor.
Inicialmente, Schab não queria retornar à ilha devido à dor que a memória causava, mas mudou de ideia ao ver o número de sobreviventes diminuir ao longo dos anos. Ele expressou a vontade de viajar em homenagem a aqueles que não puderam fazê-lo. “Enquanto eu puder fazer a viagem, eu quero fazê-la pelas pessoas que não podem”, contou seu filho, Karl Schab.
Na manhã do ataque, Schab era músico da banda da Marinha a bordo do USS Dobbin e estava tomande um café quando as explosões começaram. A urgência de seus deveres o levava a alimentar munição aos atiradores imediatamente, e a lembrança do medo que sentiu nesse dia ainda o persegue. “O que mais me marcou foi ver esses navios explodirem, virarem e saber que a cada um desses eventos muitas vidas estavam sendo perdidas”, disse Kohler.
Kohler, que não será no Havai para o aniversário, marcará presença em uma cerimônia de iluminação do farol anual realizado pela ONG Save Mount Diablo, na Califórnia, para prestar homenagem às vidas que foram perdidas e honrar os veteranos sobreviventes. O farol em Mount Diablo foi instalado em 1928 e foi apagado durante o apagão da costa oeste após o ataque de Pearl Harbor, por medo de que pudesse resultar em um ataque à Califórnia. Ele permaneceu apagado até o Dia de Pearl Harbor em 1964, quando o Almirante Chester Nimitz, Comandante em Chefe das Forças do Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial, reiluminou o farol em uma cerimônia comemorativa.
“De certa forma, isso dá aos poucos sobreviventes que restam uma oportunidade de se reconectar nuevamente com nossos companheiros afundados e camaradas caídos”, compartilhou Kohler. Ele acredita que, se aqueles que se perderam naquele dia pudessem falar, eles diriam: “Lembrem-se de nós”.