Nos últimos meses, a residência do embaixador argentino em Caracas, Venezuela, se tornou um refúgio para membros da oposição venezuelana, que se sentem sitiados pelas forças de segurança do governo de Nicolás Maduro. Embora o local tenha sido projetado para a acomodação diplomática, atualmente, a atmosfera é de um isolamento quase absoluto, com um pequeno gerador a diesel fornecendo a única fonte de energia para os cinco solicitantes de asilo que ali permanecem. Este triste estado de coisas coincide com um contexto político conturbado, onde acusações de fraude eleitoral e repressão contra opositores tomam conta do cenário político venezuelano após as eleições presidenciais de julho, que muitos consideram ilegítimas.
A falta de atividades diplomáticas na residência é palpável; ao invés de eventos típicos de fim de ano, a única coisa que se ouve são os ruídos ocasionais do gerador, ligado duas vezes ao dia para carregar os telefones dos ocupantes. A ausência de diplomatas se deve à expulsão do embaixador argentino, uma medida que foi tomada pelo governo venezuelano logo após a contestada vitória de Maduro nas eleições, que gerou reações negativas internacionais, especialmente por parte do governo argentino.
Os membros da equipe da líder oposicionista María Corina Machado, que se refugiam na embaixada, relataram que estão em uma situação desesperadora e perigosa. Segundo Omar Gonzalez, um dos asilados, “a pressão do governo tem aumentado nas últimas semanas. Tortura psicológica, vigilância constante e sem possibilidade de visitas autorizadas tornam a nossa situação insuportável”. A afirmação relembra as crescentes tensões que permeiam a relação entre o governo de Maduro e os opositores, exacerbadas por atos de repressão contra aqueles que se opõem ao regime.
Pelo menos seis membros da oposição foram acusados de terrorismo e traição por supostamente colaborarem com Machado, que se escondeu logo após as eleições para escapar de uma possível prisão. Apesar das negativas do governo, que afirma que a residência diplomática não está sob bloqueio, as ameaças de prisão pairam sobre a cabeça dos opositores. Eles acreditam que a liberdade só será possível com a intervenção de outras nações, um pedido já refutado por várias autoridades locais que insistem na legalidade das ações do governo.
A situação se tornou ainda mais crítica desde a interrupção do fornecimento de eletricidade, feita pela empresa estatal, em 26 de novembro. As forças de segurança estabeleceram pontos de controle ao redor da edificação, dificultando cada vez mais a entrada e saída de pessoas. O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, Luiz Almagro, postou recentemente uma foto alarmante onde é possível ver alguém da segurança venezuelana fazendo vigilância com uma arma de longo alcance a partir de uma árvore próxima à embaixada.
O clima de paranoia aumentou, com relatos de drones sobrevoando regularmente a área e ameaças de invasão por parte da polícia. Apesar dos perigos, os cinco asileados, com o consentimento do governo brasileiro que cuida da segurança do local, tentam manter a fé e um senso de normalidade. Também enfrentam um problema que seria considerável em qualquer circunstância — a escassez de água. O grupo é alimentado por um pequeno reservatório que só pode ser utilizado durante o funcionamento do gerador, o que contrasta brutalmente com uma vida de liberdade e dignidade a que estão acostumados.
As dificuldades enfrentadas pelos asilados, no entanto, não são apenas físicas; a solidão parece ser o maior inimigo. As conversas sobre o bem-estar psicológico são uma constante entre os membros do grupo, que apenas se isolam ainda mais à medida que a pressão aumenta. As mensagens de apoio de amigos e famílias se tornaram a única conexão com o mundo exterior. A paleta das dificuldades enfrentadas nesses meses também se reflete nas pinturas criadas por Magalli Meda, uma das líderes do grupo, que refletem o aprisionamento e a luta pela liberdade, uma metáfora visual de sua situação atual.
Entre risos e lágrimas, as histórias sobre a vida cotidiana na embaixada se desenrolam. Com uma dieta basicamente focada em alimentos enlatados, as lembranças de refeições compartilhadas são cada vez mais valorizadas. “A vida aqui é como se estivéssemos vivendo em um escritório, sem energia e sem água”, diz Claudia Macero, que se vê forçada a encontrar alegria em pequenos momentos, como a troca de histórias e a pintura. Embora o isolamento contínuo teste os limites da sanidade, a determinação desse grupo de indivíduos se concentra na luta por um futuro melhor e mais democrático para a Venezuela.
Com as eleições marcadas para a continuação do governo de Maduro em janeiro, a situação política se torna cada vez mais volátil. Enquanto isso, as interações dos exilados com a comunidade internacional continuam a ser um ponto focal de esperança. Os opostos se encontrando: a luta do bem contra o mal neste enredo trágico se torna uma questão de sobrevivência. É essencial que a comunidade internacional esteja atenta e pronta para agir.