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CNN
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O ataque ocorrido em Nova Orleans no dia 1º de janeiro de 2025, que resultou em 14 mortes e deixou dezenas de feridos, é considerado um dos mais mortais perpetrados por um apoiador do ISIS no Ocidente em vários anos. Apesar da magnitude da tragédia, quase uma semana após o incidente, o grupo extremista conhecido como Estado Islâmico ainda não se manifestou com uma reivindicação de responsabilidade, prática usual em seus ataques. Essa ausência de uma declaração oficial levanta questionamentos sobre as razões desse silêncio e o que isso pode significar em relação à atual situação do grupo.
A primeira hipótese que surgem para explicar esse silêncio é de ordem técnica e administrativa. É possível que o grupo tenha enfrentado uma série de desafios internos que dificultaram a emissão de uma declaração. Contudo, outra explicação, que intriga analistas, envolve a possibilidade de que o ISIS não tenha tido conhecimento prévio do ataque, o que faria com que a organização hesitasse em se responsabilizar por uma ação em que não teve participação direta. Vale ressaltar que, embora essa teoria faça sentido à primeira vista, a história do grupo é repleta de tentativas de vincular-se a ataques, mesmo sem evidências de envolvimento.
A situação é ainda mais intrigante, pois o ataque em Nova Orleans se alinha com os desejos manifestos do ISIS de realizar ações violentas nos Estados Unidos como parte de sua suposta renascença. Takis M. Flyinggo, um especialista em terrorismo, expressou que os ataques cometidos durante as festividades, especialmente em locais icônicos como Bourbon Street, são exatamente o tipo de evento que o grupo teria almejado e repercutido como uma grande vitória.
Edmund Fitton-Brown, conselheiro sênior do Counter Extremism Project, salienta que “não há dúvida de que foi inspirado pelo ISIS”. Ele continua questionando: “Por que eles não aproveitariam essa oportunidade? Parece uma chance inestimável de reivindicar um golpe direto no ‘maior Satanás’.” A título de referência, o termo ‘maior Satanás’ é frequentemente utilizado por extremistas islâmicos para se referir aos Estados Unidos em sua narrativa antiocidental.
O professor de estudos de segurança na King’s College London, Peter Neumann, observou que “seria muito incomum para o ISIS não reivindicar este ataque, considerando que o atacante declarou abertamente sua lealdade ao grupo e até colocou uma bandeira do ISIS em seu caminhão.” A bandeira do grupo, que é preta com letras brancas, foi encontrada na cena do crime.
Contudo, especialistas sugerem que as operações aéreas contínuas dos Estados Unidos, aumentadas recentemente pela França, podem ter desestabilizado a hierarquia do grupo, localizada tradicionalmente na Síria e no Iraque. Neumann e Fitton-Brown mencionaram que isso poderia ter interrompido os processos habituais de reivindicação de responsabilidade.
Desde que o regime de Assad caiu na Síria, a administração Biden anunciou que havia atacado 75 alvos do ISIS no dia 8 de dezembro, utilizando bombardeiros B-52, jatos F-15 e aviões A-10. Onze dias depois, o Comando Central dos EUA informou que um ataque de precisão resultou na morte de um líder do ISIS em território sírio, identificado como Abu Yusif, também conhecido como Mahmud, na província de Deir Ezzor.
Apesar da pressão militar crescente, o grupo extremista tem, em outras ocasiões, superado esse tipo de atividade, utilizando operativos isolados para continuar suas ações de propaganda. No entanto, a ausência de uma comunicação pública da parte do ISIS em relação a um ataque desse porte é alarmante e causa especulações sobre sua atual capacidade organizacional e estratégia de comunicação.
Neumann também destacou que, embora os afiliados do ISIS na Ásia Central e na África estejam crescendo, o grupo segue “na defensiva” em ambientes como o Iraque e a Síria, onde se acredita que suas operações de mídia estão centralizadas. Ele enfatiza que, apesar das dificuldades, o grupo ainda tem ao seu dispor plataformas como o “jornal” al-Naba, que publica informações semanais sobre suas atividades. Isso levanta a questão: por que o grupo não poderia simplesmente publicar uma reivindicação em suas redes sociais?
Outra especulação é que o ISIS esteja aguardando um momento estratégico para reivindicar o ataque, talvez de forma a reingressar no ciclo midiático e atrair mais atenção à medida que a nova administração de Trump toma posse em 20 de janeiro. Essa estratégia pode muito bem ter como objetivo gerar um impacto maior na opinião pública e nas relações internacionais, especialmente considerando a iminência de uma nova era política nos Estados Unidos.
Além disso, a história pessoal do atacante, Shamsud-Din Jabar, que declarou lealdade ao ISIS antes do verão, pode ter influenciado as decisões do grupo. No entanto, em posição incomum para um apoiador do ISIS, Jabar serviu nas Forças Armadas dos EUA durante cerca de um ano no Afeganistão, o que pode ter deixado o grupo receoso em relação a uma identificação tão próxima.
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