É difícil acreditar que já estamos em 2025 e, mesmo assim, muitas empresas ainda parecem não compreender plenamente o que a inteligência artificial (IA) pode oferecer. Essa é a sensação que tive ao visitar a Consumer Electronics Show (CES) deste ano, que, como sempre, foi palco para uma série de novos produtos. Entretanto, muitos deles, que alegam ser impulsionados por IA, realmente não parecem ter uma necessidade genuína dessa tecnologia. Nesse contexto, produtos como eletrodomésticos de cozinha, berços inteligentes e outros itens desnecessários estão inundando o mercado, levantando questionamentos sobre a verdadeira aplicação prática dessa revolução tecnológica.

O Spicerr, por exemplo, um dispensador de temperos com tela sensível ao toque que promete aprender o seu paladar enquanto você cozinha para recomendar receitas únicas, parece ter um objetivo questionável desde o seu início. Para começar, o Spicerr não realiza a moagem dos temperos e requer cápsulas proprietárias que custam entre 15 a 20 dólares e não podem ser reabastecidas. Diante disso, vale a pena refletir: as pessoas realmente estavam ansiosas por um shaker de sal e pimenta que sugere pratos para o jantar? Para muitos, essa pergunta parece claramente responder a si mesma.

Em outro canto do evento, encontramos o ChefMaker 2, uma fritadeira a ar também equipada com IA. Embora essa proposta seja de certa forma mais plausível do que a do Spice, a necessidade de um recurso que escaneia receitas de livros de culinária e faz os cálculos necessários para os tempos e temperaturas de cozimento levanta novas dúvidas. Na qualidade de entusiasta de culinária, admito que essa funcionalidade nunca me ocorreu como uma demanda individual ou coletiva da população adepta das fritadeiras a ar, e isso parece corroborar a inexistência de tal necessidade entre muitos frequentadores da CES.

Dreo ChefMaker 2

As surpresas não param por aí. O Razer Project Ava, uma tentativa inusitada da Razer de criar um “co-piloto de jogos com IA”, nos faz questionar a origem de seu nome, que é uma referência à robô assassina do filme Ex Machina de 2014. O que Ava realmente faz é jogar por você, mas sem jogar de fato. Às vezes, isso significa interromper sua partida para fornecer dicas como “desvie quando a lâmina girar”, o que claramente pode se tornar mais uma distração do que uma verdadeira ajuda. Essa função é ainda mais complicadora, pois envolve um atraso de vários segundos, tornando a experiência de jogo bastante limitada.

Mais uma vez, devemos nos perguntar: quem realmente estava clamando por essa solução? Estaria alguém disposto a gastar dinheiro em algo que age como um conselheiro, mas que na prática pode mais atrapalhar do que ajudar? A verdade é que esses produtos excêntricos exibidos na CES refletem a imensa hype que rodeia o setor de IA. Com um aporte de impressionantes 97 bilhões de dólares levantados por empresas de IA nos Estados Unidos no ano passado, o campo parece estar atirando “espaguete na parede” para ver o que ficará grudado, uma vez que a margem para erro é baixa em um ambiente onde a expectativa é altíssima.

Fatorando nas grandes limitações da tecnologia atual de IA, fica claro que muitas das promessas feitas ainda não foram cumpridas. A dificuldade em identificar casos de uso tecnicamente viáveis gerou um fenômeno de superpromessa e subentrega. Mesmo ferramentas populares como o ChatGPT ainda apresentam erros, geradores de imagens apresentam históricos de imprecisão, e até personagens em vídeos gerados por IA tendem a misturar-se de forma grotesca. Assim, acabamos lidando com produtos de IA do mundo real que não atendem às nossas necessidades: fritadeiras, dispensadores de temperos e co-pilotos de jogos. São soluções distantes do que muitos desejam, mas que, no entanto, são os resultados do que é tecnicamente viável neste momento, com um baixo investimento em pesquisa e desenvolvimento.

Em suma, podemos brindar a um futuro melhor, onde a verdadeira essência da inteligência artificial será realmente explorada e aplicada em produtos que façam sentido para o consumidor. A CES 2025 pode ter nos deixado uma sensação de frustração, mas a esperança de um amanhã mais promissor está sempre presente entre os entusiastas de tecnologia.

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