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A Irlanda anunciou oficialmente que se uniu ao caso de genocídio apresentado pela África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ). Este ato foi anunciado pela corte na manhã de terça-feira, criando mais um capítulo na complexa relação entre a Irlanda e Israel, que se agrava em um contexto de crescente crítica internacional à condução da guerra israelense.
Em um breve comunicado à imprensa, a CIJ mencionou que a Irlanda se juntou a países como Nicarágua, Colômbia, México, Líbia, Bolívia, Turquia, Maldivas, Chile, Espanha e o Estado da Palestina, solicitando a intervenção no caso. A CIJ, na sua essência, atua como um árbitro neutro em disputas legais entre estados, e a entrada da Irlanda nessa batalha levanta questões de justiça e responsabilidade, não só para Israel, mas para a comunidade internacional como um todo.
A África do Sul protocolou seu caso contra Israel em dezembro de 2023, acusando o país de cometer genocídio durante sua ofensiva em curso na Faixa de Gaza. Israel, por sua vez, nega veementemente as acusações de genocídio e luta na corte contra as alegações sul-africanas. Essa batalha jurídica é emblemática das tensões políticas e sociais em torno do conflito israelo-palestino, que tem uma longa história de disputas territoriais e violação de direitos humanos.
A declaração de intervenção da Irlanda não apresenta novas alegações contra Israel, mas se concentra no enquadramento legal para sua participação no caso da África do Sul. A Irlanda argumenta que a definição legal de genocídio requer a “intenção de destruir, total ou parcialmente”, uma população-alvo, e que essa intenção pode ser inferida “em qualquer caso em que uma pessoa razoável teria previsto que” o genocídio é “a consequência natural e provável dos atos do perpetrador”.
A declaração da Irlanda prossegue afirmando que “o perpetrador não precisa ter, como seu propósito, a comissão do crime de genocídio ao cometer um ou mais dos elementos materiais do crime”. Essa posição legal poderia abrir uma nova frente de debate sobre a responsabilidade dos estados em conflitos armados, especialmente em situações tão complexas e delicadas quanto a do Oriente Médio.
O governo irlandês já havia anunciado sua intenção de intervir no caso em março de 2024, e essa decisão é mais um reflexo de sua crítica crescente à conduta da guerra por parte de Israel, especialmente no contexto do que muitos consideram uma resposta excessiva do país após ataques terroristas. É um momento histórico não apenas para a Irlanda, mas para a moral internacional, despertando o interesse de outras nações e a atenção da imprensa global.
A Irlanda tinha criticado consistentemente as políticas israelenses nos territórios ocupados da Cisjordânia e Gaza, mesmo antes dos ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023, que resultaram na morte de aproximadamente 1.200 pessoas e 250 sequestros. Neste trágico cenário, a comunidade internacional observa de perto as implicações jurídicas e políticas que poderão surgir a partir desse caso.
Desde que Israel lançou sua campanha militar em Gaza em resposta ao Hamas, políticos e cidadãos irlandeses de diversas vertentes expressaram preocupação sobre o que é amplamente visto como uma resposta desproporcional. Até terça-feira, os ataques israelenses haviam causado a morte de pelo menos 45.885 pessoas em Gaza desde 7 de outubro de 2023, segundo o ministério da saúde de Gaza. Este dado alarmante gera chamadas ainda mais urgentes para uma ação internacional, que parece cada vez mais necessária numa época em que a humanidade deve se unir contra o sofrimento humano.
As relações entre a Irlanda e Israel alcançaram um ponto baixo em dezembro, quando Israel fechou sua embaixada em Dublin. O ministro das Relações Exteriores israelense, Gideon Sa’ar, acusou a Irlanda de “retórica antissemita” em uma declaração oficial, afirmando que “a Irlanda cruzou todas as linhas vermelhas em suas relações com Israel”. Este cenário revela a crescente falta de confiança não apenas entre os dois países, mas também na gestão das tensões internacionais em curso.
Na ocasião, o primeiro-ministro irlandês, Simon Harris, descreveu a decisão de Israel como “profundamente lamentável”, sinalizando que as vidas humanas e as implicações diplomáticas devem prevalecer sobre disputas políticas. Este compromisso com a dignidade humana é um aspecto fundamental que a Irlanda demonstrou em sua política externa, refletindo a história do país e sua luta contra a opressão.
Grande parte da simpatia da Irlanda pela situação dos palestinos emana da subjugação de séculos pela Inglaterra. Em várias partes de sua geografia, comunidades nacionalistas da Irlanda do Norte ostentam regularmente a bandeira palestina – um ato de resistência simbólica que expressa solidariedade. Essa dinâmica revela o entrelaçamento das narrativas de opressão e luta por direitos entre os dois povos, servindo como um lembrete de que o sofrimento humano é uma experiência compartilhada, que deve ser empatia em vez de hostilidade.
A atual presidente de Israel, Isaac Herzog, possui raízes irlandesas. Seu pai, também um político israelense famoso, nasceu em Belfast, e Herzog é uma lembrança viva da interconexão entre os povos, mesmo em tempos de crise. Essa conexão, porém, não impede que divergências políticas e morais se tornem agudas, apontando para a fragilidade do diálogo internacional em face de realidades tão dolorosas. A forma como a Irlanda e Israel navegarem por essas águas turvas nas próximas semanas e meses definirá não apenas seu relacionamento, mas potencialmente influenciará o curso de discórdias mais amplas no cenário mundial.