Na última quarta-feira, a presidente do México, Claudia Sheinbaum, respondeu de forma sarcástica à proposta do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que sugeriu a mudança do nome do Golfo do México para “Golfo da América”. A declaração de Trump, feita durante uma coletiva de imprensa em Mar-a-Lago, provocou a reação da líder mexicana, que decidiu brincar com a situação e propor uma mudança semelhante.
Durante sua coletiva de imprensa diária, realizada em frente a um mapa-múndi datado do século XVII, Sheinbaum fez uma declaração que rapidamente se espalhou pelas redes sociais. Ela sugeriu que a América do Norte deveria ser renomeada como “América Mexicana”, justificando que esse nome já havia sido utilizado em um documento fundacional de 1814 que precedeu a constituição mexicana. “Isso soa bem, não?”, disse ela em um tom irônico, também ressaltando que o Golfo do México já ostenta esse nome desde 1607.
Trump, enquanto discutia seu plano, não hesitou em descrever o novo nome proposto como “uma bela denominação”, enfatizando que abrange uma vasta região e que é “apropriado”. “O México precisa parar de permitir que milhões de pessoas entrem em nosso país”, complementou Trump, destacando a questão da imigração, que continua a ser uma preocupação central na política bilateral entre Estados Unidos e México.
A proposta de Trump gerou reações diversificadas, sendo apoiada por aliados como a representante republicana Marjorie Taylor Greene, que anunciou que planeja apresentar um projeto de lei com essa intenção. A questão, no entanto, mergulha mais fundo na complexa relação entre os dois países que já enfrentam desafios significativos.
Essa trocas de farpas levantam um questionamento mais amplo sobre como a recém-eleita Sheinbaum lidará com o estilo diplomático agressivo de Trump, que ficou marcado por suas promessas de deportações em massa e imposição de tarifas severas às exportações mexicanas. A presidente anterior, Andrés Manuel López Obrador, por sua vez, conseguiu construir uma relação de camaradagem com Trump, sendo mais maleável às demandas americanas, inclusive contribuindo para a contenção dos migrantes que se dirigiam ao norte.
No entanto, o futuro da diplomacia entre o México e os EUA pode não ser tão simples sob a liderança de Sheinbaum, que é uma cientista e política de esquerda. A piada lançada por ela nas redes sociais pode muito bem definir a atmosfera entre os dois líderes nos próximos anos. Brian Winter, vice-presidente do Conselho das Américas, comentou que “humor pode ser uma boa tática que projeta força, algo que Trump responde bem. Embora ela saiba que não funcionará em todas as situações, já que Trump exige um engajamento sério em questões maiores como imigração, drogas e comércio”.
A resposta de Sheinbaum não foi a primeira incisiva que ela fez em relação a Trump, pois já havia alertado sobre as consequências que a imposição de tarifas de 25% sobre os produtos mexicanos traria não apenas ao México, mas também aos EUA, com a possibilidade de inflacionar a economia e provocar perdas de empregos. Sua postura em relação à imigração tem sido relativamente mais flexível, mas ainda assim ciente das demandas dos Estados Unidos, valorizando um diálogo condizente.
Além disso, outros países também têm se manifestado frente ao cenário provocativo do ex-presidente norte-americano. O primeiro-ministro de Ontário, Doug Ford, no Canadá, reagiu aos comentários de Trump sobre a possibilidade de anexar o Canadá, brincando com uma proposta de comprar o Alasca, refletindo o tom sarcástico que parece permeia as relações na América do Norte.
A expectativa é que o estilo de liderança de Claudia Sheinbaum traga uma abordagem única, possivelmente mais diplomática e, ao mesmo tempo, bem-humorada, em um ciclo de interações que continua a ser repleto de incertezas. À medida que o cenário político evolui, será interessante observar como as relações México-EUA se desdobrarão nos próximos anos e como as decisões que elas tomarem influenciarão não apenas a política bilateral, mas também a estabilidade e a segurança regional em um contexto global instável.