Nova Iorque
CNN
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Na terça-feira, 24 de outubro, a Meta anunciou uma série de mudanças significativas em suas diretrizes de moderação de conteúdo, que serão implementadas nos próximos meses. Essas alterações incluem a eliminação da verificação profissional de fatos, mas o que realmente gerou polêmica foi a atualização silenciosa de sua política de conduta hostil, cujo impacto ressoa amplamente nas redes sociais. As novas regras permitem que usuários se refiram a “mulheres como objetos domésticos ou propriedade” e a pessoas trans ou não binárias como “it'”, um pronome que desumaniza, segundo explicações contidas na política revisada.
Essas modificações trazem à tona discussões acaloradas sobre a liberdade de expressão e a responsabilidade das plataformas digitais. Na nova diretriz, questões perturbadoras como alegações de doenças mentais ou anomalias, quando baseadas em gênero ou orientação sexual, foram incluídas, tendo em vista a retórica política e religiosa em torno do transgênero e da homossexualidade. O que antes poderia ser removido como discurso de ódio é agora permitido, demonstrando uma mudança drástica no que a Meta considera aceitável dentro de sua plataforma.
Essas reformas foram inicialmente reportadas pela Wired, que destaca um movimento acelerado por parte da Meta rumo à visão de “livre expressão” apresentada por seu CEO, Mark Zuckerberg. Em sua comunicação, Zuckerberg sinalizou que a empresa está disposta a ir mais longe na liberação de conteúdo, o que implica um aumento potencial de postagens que muitas vezes são consideradas prejudiciais. A Meta estabeleceu que vai acabar com várias restrições em temas relevantes, como imigração e identidade de gênero.
Ademais, a Meta anunciou que irá descontinuar sua rede de verificadores independentes de fatos nos Estados Unidos, substituindo-a por “notas de comunidade” geradas por usuários, um movimento que levanta preocupações sobre a qualidade e a precisão das informações que circulam nas redes. As diretrizes de moderação agora focarão apenas em violações extremas, como exploração sexual infantil e terrorismo, reconhecendo que mudanças significativas podem resultar em uma redução na remoção de conteúdos nocivos, mas também em uma diminuição das restrições a postagens inocentes.
Zuckerberg admitiu que essa nova abordagem provavelmente significará que menos conteúdos prejudiciais serão detectados, porém ele justificou o golpe nas liberdades de expressão de indivíduos que poderiam ser injustamente afetados pelas regras anteriores. A Meta ainda não comentou oficialmente sobre as mudanças na política de conduta hostil, mas especialistas em ecossistemas de informações online expressaram preocupações sobre o aumento de reivindicações virais falsas e discursos de ódio nas plataformas da empresa.
Essas atualizações coincidem com a busca da Meta por um relacionamento mais próximo com o ex-presidente Donald Trump e outros republicanos, especialmente considerando a segunda posse do presidente eleito. Trump, em uma conferência de imprensa, elogiou as mudanças e afirmou que é “provavelmente” devido a ameaças que já fez a Zuckerberg no passado. Esse ambiente em mudança destaca a complexidade da regulação de discursos em plataformas digitais, onde as consequências podem afligir as comunidades mais vulneráveis.
Em um panorama mais amplo, as modificações nas diretrizes de conduta hostil da Meta também removeram proibições sobre afirmações que negam a existência de grupos “protegidos”, permitindo conteúdos que argumentem a favor de “limitações de gênero em empregos militares, de segurança pública e de ensino”. Essa nova postura gera questionamentos sobre a direção que as plataformas digitais estão tomando e qual será o próximo passo em um cenário onde a liberdade de expressão parece estar em conflito com a necessidade de proteger indivíduos e grupos vulneráveis.
Além disso, o ajuste da Meta em sua política de “desinformação” reflete a dissolução da rede de checagem de fatos nos EUA, aumentando a incerteza sobre a proteção contra informações falsas que circulam nas redes. À medida que a conversa pública se estreita, a responsabilidade da plataforma em moderar conteúdo e sustentar uma comunidade saudável torna-se mais urgente. O desafio final permanece: como equilibrar a liberdade de expressão com a proteção contra a hostilidade, especialmente em um mundo onde palavras podem profundamente impactar a vida das pessoas?