Ao refletir sobre as mulheres que desempenham papéis fundamentais nas narrativas históricas, Aunjanue Ellis se destaca como uma artista que vê além dos próprios papéis que interpreta. Nascida em San Francisco e criada em uma fazenda no Mississippi, Ellis tem dedicado sua carreira a trazer à tona as histórias das figuras femininas que frequentemente ficam à sombra dos protagonistas masculinos. O título de seu mais recente projeto, o filme Nickel Boys, não é apenas uma sequência de sua carreira, mas um ponto de partida para uma conversa mais profunda sobre a necessidade de reconhecer as narrativas frequentemente esquecidas.
A atriz, que recentemente recebeu uma indicação ao Oscar pelo filme King Richard, ressalta que os papéis que interpretou, como a mãe das tenistas Venus e Serena Williams e a avó de um adolescente que sofreu abusos em um internato segregado em Nickel Boys, permitem que ela forneça uma imagem mais completa de complexidade da mulher negra na sociedade. “Se apenas conhecemos o homem de destaque e não as mulheres que estavam realizando o trabalho fundamental, não estamos contando toda a verdade”, afirma. Essa mensagem se torna ainda mais clara para ela ao refletir sobre as experiências de sua própria avó, que enfrentou dificuldades durante a era da segregação.
Aunjanue, que começou sua educação na Tougaloo College, uma universidade historicamente negra, mudou-se para a Brown University, onde se destacou em Estudos Africanos. Essa fundação acadêmica contribuiu para sua perspectiva sobre a atuação, onde ela encontrou seu próprio lugar. Encorajada por um professor a considerar o teatro, ela percebeu que poderia utilizar sua arte para iniciar conversas sobre questões que vão além da superfície. Essa busca por significados e narrativas profundas se estabelece como um fio condutor em seus trabalhos, trazendo à tona a luta e a resiliência das mulheres que muitas vezes são esquecidas.
Recentemente, Ellis teve a oportunidade de estrelar Nickel Boys, uma adaptação da aclamada obra de Colson Whitehead, que explora a brutalidade de um internato na Flórida dos anos 60. Em seu papel como matriarca, ela não apenas ilustra as feridas da história, mas também a força inabalável das mulheres que sustentam suas famílias em tempos de opressão. “Sinto que essas histórias são uma forma de justiça corretiva. É mais uma maneira de como essa brutalidade aconteceu aqui e de como temos estado voluntariamente desinformados sobre isso”, expressa Ellis, galvanizando sua experiência e suas narrativas pessoais na jornada que ela compartilha no filme. Essa oportunidade de trazer à tona o que foi oculto representa não só um triunfo pessoal, mas também uma celebração da força feminina em tempos de grandes desafios.
Ao olhar para o futuro, Ellis vê sua jornada artística como uma responsabilidade e um chamado à ação. “O que eu deveria fazer é estar em constante pesquisa sobre minha vida aqui neste país”, reflete. “As vidas da minha mãe, da minha avó, da minha família. Estou sempre buscando entender a experiência de meus antepassados.” Para Aunjanue Ellis, a atuação não é apenas sua profissão; é uma forma de narrar a história que deve ser contada.
Ela não é, de maneira alguma, a coadjuvante que muitos poderiam pensar. Ao contrário, a presença de Ellis nas telas e no palco garante que as vozes frequentemente abafadas sejam finalmente ouvidas, colocando-as no centro das narrativas que moldam a nossa compreensão histórica. Como ela provocativamente conclui, “se não conhecemos a parte da história que envolve as mulheres, somos vítimas de uma narrativa simplista”. Sem dúvidas, Aunjanue Ellis é uma artista que está mudando a forma como a história é contada.
Esta história foi publicada na edição de 9 de janeiro da revista The Hollywood Reporter. Clique aqui para se inscrever.