O Consumer Electronics Show (CES) sempre teve um espaço de destaque no cenário automotivo, com montadoras utilizando o evento como palco para apresentar inovações e tendências do setor. Desde a revelação do Chevrolet Bolt em 2016 até as declarações ambiciosas de Mary Barra, CEO da General Motors, sobre veículos autônomos, o CES se consolidou como um dos principais eventos do setor automotivo. No entanto, em 2025, um vazio inquietante se fez notar: a ausência de grandes montadoras americanas. O que pode ter levado a essa situação inesperada?

No passado, empresas americanas, como a General Motors, Ford e Chrysler, tornaram o CES palco de grandes lançamentos e anúncios. Por exemplo, em 2015, Ford anunciou seu plano de mobilidade inteligente e, em 2016, apresentou suas ambições em carros autônomos. Ram e Chrysler também marcaram presença com a exibição de futuros modelos elétricos, como o Ram 1500 BEV. Entretanto, neste ano, não havia sinal da tradicionalidade desses nomes, exceto por uma rara menção à Scout Motors, uma nova marca da Volkswagen.

A ausência de montadoras americanas nesse ocorrido pode ser consequência de vários fatores, sendo um deles o ciclo de produtos mais longo característico do setor automotivo. Brian Moody, editor sênior da Kelley Blue Book, destacou que “os ciclos de produtos dos fabricantes de automóveis são muito mais longos do que os ciclos de produtos eletrônicos de consumo”. Isso significa que o desenvolvimento de novos modelos requer um tempo considerável, o que poderia explicar a falta de lançamentos neste ano específico.

Além disso, as montadoras estão reavaliando sua presença em feiras como o CES, buscando o retorno sobre investimento (ROI) a partir da sua participação. “Se você não está gerando dezenas de milhões de impressões para os consumidores, qual é o retorno?”, questionou Moody, referindo-se a uma fragmentação da mídia que também pode ter influenciado na decisão de pular o evento. A Ford, por exemplo, confirmou que, embora não tenha um estande ou anúncios de novidades, ainda considera o CES um evento importante para acompanhar as novas tecnologias e tendências emergentes.

Enquanto isso, a GM teve uma pequena presença por meio de parceiros, mas sem a realização de palestras ou exposições. Essa mudança parece indicar uma transformação no foco estratégico das empresas, que estão mais interessadas em atender a demandas imediatas e avaliar continuamente sua participação em eventos dessa natureza. O espectador que percorresse os corredores do Las Vegas Convention Center este ano note facilmente a ausência das grandiosas exposições que costumavam caracterizar o local, agora ocupadas por marcas asiáticas como Zeekr, pertencente ao conglomerado Geely da China, além de outras fabricantes chinesas como Wey e Xpeng, que mostraram seus veículos elétricos com pompa e circunstância.

A troca generosa de exibições entre as montadoras americanas e suas contrapartes chinesas, que preencheram esse espaço deixado por elas, mostra que o mercado automotivo está em uma transição acelerada. As empresas que costumavam ter grandes estandes, como a Mercedes-Benz, também ausentaram-se do evento este ano, optando por um formato mais discreto de presença através de parceira, como a Xperi, que teve um espaço na feira.

Por outro lado, ainda houve algumas montadoras que se fizeram presentes, como a Honda, que aproveitou para apresentar seus futuros veículos da série 0, revelando também partes de seu sistema operacional Asimo. A BMW, por sua vez, trouxe novidades sobre sua interface de usuário interna, enquanto a Toyota anunciou a conclusão da primeira fase de seu laboratório urbano Woven City e a exploração de investimentos em foguetes orbitais. A variedade de temas abordados pelas montadoras faz com que a ausência de inovações robustas em direção autônoma e softwares por parte das montadoras americanas se torne evidente, reforçando uma tendência de especialização que parece estar em ascensão.

No grande panorama, o CES 2025 se destacou não apenas pela falta de montadoras americanas, mas principalmente pela predominância de empresas focadas em tecnologias de direção autônoma e soluções de software relacionadas. Gigantes do setor, como Zoox e Waymo, exibiram seus avanços em uma área que se mostra cada vez mais promissora para o futuro da mobilidade. Junto a elas, empresas especializadas em sensores e software, como Aeva, Applied Intuition e Sonatus, dominaram o cenário, indicando uma mudança significativa no enfoque das inovações automotivas.

O evento serve como um convite para que se reflita sobre o futuro da indústria automobilística. Será que as montadoras americanas estão apenas em um ciclo de inatividade, ou é um reflexo de um setor que está se reinventando e, possivelmente, afastando-se de uma representação centralizada de grandes eventos como o CES? As incertezas permanecem, mas uma coisa é certa: a indústria automobilística está num caminho de constante evolução, e isso pode exigir novas abordagens para como as montadoras interagem com o público e como se apresentam em eventos futuros.

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