A recente decisão da Meta, empresa controladora de plataformas como Facebook e Instagram, de encerrar seu programa de verificação de fatos foi recebida com bastante preocupação, especialmente considerando o momento político turbulento que a sociedade americana enfrenta. Michael McConnell, co-presidente do conselho de supervisão da Meta e professor de direito na Universidade de Stanford, declarou que a empresa parece estar “se rendendo” às pressões políticas. Essa afirmação levanta questões sobre a integridade e a responsabilidade das plataformas digitais em um cenário onde informações falsas podem se espalhar a uma velocidade alarmante.

O ceticismo de McConnell não é uma crítica vazia, mas fundamenta-se na observação de que a mudança ocorre em um período em que a política dos Estados Unidos está polarizada e conturbada, especialmente após a confirmação da vitória do presidente eleito Donald Trump. Em uma entrevista concedida à NPR, ele expressou o desejo de que a Meta tivesse implementado alterações em seu programa de verificação em tempos menos contenciosos, garantindo que a análise tivesse sido feita com base em méritos objetivos, sem a influência de fatores ideológicos. Ao mencionar que essas mudanças acontecem logo após o banquete de Zuckerberg em Mar-a-Lago com Trump, McConnell sugere que as interações entre execuções de negócios e a política podem comprometer a missão da Meta, que é fornecer um ambiente acolhedor e seguro para seus usuários.

Recentes revelações indicam que a Meta e outras grandes empresas de tecnologia já haviam contribuído com doações significativas para o fundo inaugural de Trump, gerando desconforto em relação à legitimidade desses relacionamentos. Em meio a isso, Zuckerberg anunciou que a parceria da Meta com verificadores de fatos de terceiros será substituída por “notas comunitárias” geradas pelos usuários em suas plataformas, uma política semelhante à que foi aplicada por Elon Musk em sua plataforma X. Isso também coincide com uma revisão silenciosa da política de conduta odiosa da Meta, eliminando regras que anteriormente proibiam conteúdos que desumanizavam determinados grupos. No discurso que fez ao anunciar essas mudanças, Zuckerberg argumentou que os verificadores de fatos eram “muito politicamente tendenciosos” e que essa abordagem resultou em uma destruição de confiança em vez de construção, alegando que o movimento que começou com a intenção de inclusão havia se desvirtuado e se tornado um meio de silenciar vozes divergentes.

No entanto, a mudança não se dá sem controvérsias. Apesar de Zuckerberg reconhecer que as novas diretrizes resultariam em menos contas e postagens inocentes sendo removidas, isso traz à tona a possibilidade de que um conteúdo mais prejudicial possa permanecer disponível nas plataformas da Meta. McConnell notificou que as revisões da política de discurso de ódio talvez tenham pego de surpresa os membros da diretoria, revelando que o debate interno sobre estes assuntos tem sido ativo e vigoroso. Essa tensão entre liberdade de expressão e responsabilidade das plataformas é um tema que se intensifica, especialmente nos Estados Unidos, onde a maneira como as questões são abordadas pode ser distinta em relação a outros países.

A Meta introduziu seu programa de verificação de fatos em 2016, em resposta a alegações de que suas plataformas estavam sendo utilizadas por atores estrangeiros, principalmente da Rússia, no compartilhamento de informações enganadoras. Desde então, a empresa tem sido criticada por sua conformidade com a divulgação de desinformação em tópicos sensíveis, como políticas eleitorais, vacinas e discursos de ódio. Agora, com uma mudança tão significativa, McConnell expressou dúvidas quanto ao impacto desses ajustes nas futuras eleições e no combate à propaganda de governos estrangeiros, enfatizando a complexidade do problema e apontando que não existe uma solução única. O que se revela alarmante na fala do co-presidente é que a questão não se resume apenas à veracidade das informações, mas sim à origem dessas informações.

A situação atual destaca a necessidade urgente de uma reflexão profunda sobre as práticas das plataformas digitais e as implicações das decisões que tomam, especialmente quando estas parecem ser influenciadas por ciclos políticos e interesses pessoais. À medida que a Meta avança para um novo paradigma de verificação e moderação de conteúdo, emerge a necessidade de um diálogo claro e transparente que perpassa não apenas as esferas econômicas, mas também as éticas. Na medida em que McConnell aponta a diferença significativa na percepção sobre liberdade de expressão em diferentes partes do mundo, é evidente que a Meta tem um longo caminho a percorrer para encontrar um equilíbrio que não apenas proteja seus usuários, mas que também mantenha a integridade de suas missões de informação. Está claro que a luta contra a desinformação é uma batalha contínua e complexa, e a maneira como as plataformas respondem a essa demanda pode moldar o futuro da discussão pública.

Contribuição: CNN’s Clare Duffy colaborou neste relatório.

Similar Posts

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *