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Em maio de 2021, Denis Villeneuve, renomado diretor de cinema, e sua equipe de colaboradores estavam na fase de pré-produção de Duna: Parte Dois em Budapeste, na Hungria. Durante esse período eficiente e criativo, Villeneuve revelou uma das decisões mais ousadas do projeto: a escolha de filmar uma sequência inteira no planeta Harkonnen, Giedi Prime, em preto e branco. A revelação foi feita em uma conversa descontraída com o diretor de fotografia, Greig Fraser, que logo adotou a ideia. Fraser descreveu essa proposta como algo genial, prometendo apresentar uma solução visual que complementasse a visão de Villeneuve.
A adaptação do universo de Frank Herbert envolve diversos desafios estéticos, principalmente quando se trata de retratar os vilões da história, a Casa Harkonnen. O primeiro filme, Duna: Parte Um, já havia dado uma breve espiada no mundo Harkonnen, sob a liderança ameaçadora do Barão Vladimir Harkonnen, interpretado por Stellan Skarsgård. Entretanto, Duna: Parte Dois exigiria um aprofundamento na estética e na psicologia desses antagonistas malignos. O foco recaiu sobre Feyd-Rautha, o sobrinho do Barão, cujas ações sádicas e cruéis iriam centrar a narrativa futura, culminando em um confronto com o protagonista Paul Atreides, vivido por Timothée Chalamet.
De acordo com Villeneuve, o romance de Herbert fornece escassas pistas sobre a cultura da Casa Harkonnen, além de sugerir um ambiente industrial e sombrio. No entanto, ele percebe que, para entender esses vilões e suas ações, é necessário explorar a visão de mundo a partir de Giedi Prime. “Esse ambiente molda a psicologia de seus habitantes ao longo do tempo,” explicou Villeneuve, referindo-se à influência do ambiente sobre comportamentos e cultura.
De fato, a decisão de filmar em preto e branco irá ajudar a solidificar a conexão entre a sombria psique dos Harkonnen e a forma como eles veem o mundo. “Se o sol deles não revelasse cores, mas sim os eliminasse, isso mostraria sua visão binária da realidade,” comentou Villeneuve. Assim, ele e Fraser focaram em criar uma cinematografia em preto e branco que emulasse essa ideia alienígena.
Fraser, experiente na utilização de tecnologias inovadoras, já havia utilizado iluminação infravermelha em filmes anteriores, como em Zero Dark Thirty. A ideia era transferir essa técnica para Duna: Parte Dois, eliminando a luz visível e entregando um efeito visual que tornaria os personagens quase etéreos, destacando sua superficialidade e, talvez, a monstruosidade que possuem.
Isso levou à necessidade de modificações técnicas. Eles experimentaram um arranjo de câmera que capturava apenas a luz infravermelha, criando um efeito novo e inesperado, onde as pele dos atores ficava quase como porcelana com veias contrastadas. Esta abordagem não só revolucionou a cinematografia de Duna: Parte Dois, mas também introduziu uma maneira única de retratar a intricada dualidade dos Harkonnen, refletindo seu caráter multimodal e complexo.
À medida que a equipe desenvolvia o visual da Casa Harkonnen, o design de produção também deveria refletir a ideia de um mundo cru e sedutor. Com esse objetivo em mente, Patrice Vermette, o designer de produção, inspirou-se nas formas e texturas da natureza, construindo um conceito de sets que refletissem a intrincada beleza e a estética orgânica, porém possui um caráter sombrio. “Queria que os ambientes falassem ao público com um apelo estético que transparecesse um erotismo sutil,” afirmou Villeneuve.
Outra consideração no cenário de Giedi Prime foi a construção da arena para o combate de Feyd-Rautha. Villeneuve decidiu que o formato da arena deveria ser triangular ao invés do tradicional oval. Ele queria que essa estrutura fosse um reflexo simbólico do crescimento de Feyd-Rautha enquanto personagem e um espaço que fosse percebido como sinistro e ameaçador, embora ao mesmo tempo convidativo para os cidadãos Harkonnen.
Configurada para uma celebração de aniversário peculiar, a arena apresentou não apenas uma perspectiva sobre o personagem, mas uma exploração das reações do público aos seus atos. O diretor fez questão de que as multidões presentes não se comportassem como torcedores tradicionais, mas sim com uma cultura própria, inspirada por registros de danças de guerra, tentando captar uma essência mais primitiva e visceral.
As intervenções estéticas que foram colocadas à prova durante a filmagem em preto e branco só foram possíveis devido à coragem e visão compartilhadas por Villeneuve e sua equipe. O resultado final refletirá não apenas a opressão e a crueldade que Harkonnen representa, mas também uma interpretação visual fascinante e, de fato, inesquecível do universo de Duna.
Essas decisões estéticas ousadas não só transformam a narrativa em um espetáculo visual como também são um testemunho da inventividade e paixão por detrás da produção de Duna: Parte Dois. A entrega de um trabalho tão audacioso ressalta a relevância do cinema contemporâneo, que, por meio da narrativa cinematográfica, desafia convenções e instiga o público a refletir sobre as complexidades do ser humano e seus mundos imaginários.
Portanto, enquanto a estreia de Duna: Parte Dois se aproxima, o mundo deve se preparar para uma imersão em uma trama visualmente impressionante que celebrará tanto a crueldade quanto a beleza do universo Harkonnen.
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