Nota do editor: Kara Alaimo é professora associada de comunicação na Fairleigh Dickinson University. Seu livro “Over the Influence: Por que as redes sociais são tóxicas para mulheres e meninas – E como podemos resgatá-las” foi publicado recentemente pela Alcove Press. Siga-a no Instagram, Facebook e Bluesky.
Hoje em dia, as crianças estão mais conectadas do que nunca, e a tecnologia evolui em um ritmo acelerado. Nesse contexto, os perigos da desinformação e das manipulações digitais, especialmente os deepfakes, tornaram-se uma preocupação crescente para pais, educadores e especialistas em segurança digital. Esses conteúdos manipulados, que podem incluir imagens, vídeos e até áudio, são gerados por inteligência artificial e podem parecer incrivelmente reais, mas são, na verdade, falsificações. Um estudo recente revelou que 40% dos alunos e 29% dos professores estavam cientes de deepfakes relacionados a indivíduos de suas escolas, o que ilustra a ubiquidade deste fenômeno. Assim, a pergunta que paira é: como os pais podem e devem conversar com seus filhos sobre esses riscos?
As estatísticas são alarmantes. Uma pesquisa realizada pelo Center for Democracy & Technology revelou que, durante o último ano escolar, 15% dos alunos e 11% dos professores relataram estar cientes de deepfakes que retratavam pessoas de suas escolas de forma íntima ou sexualmente explícita. Isso levanta a questão do impacto psicológico e emocional que esse tipo de conteúdo pode ter sobre as vítimas. Resultados de pesquisas anteriores já demonstraram que expor alguém a imagens, sejam reais ou manipuladas, pode aumentar o risco de depressão, suicídio e assédio sexual, criando um ciclo de vitimização que é difícil de quebrar.
Um caso alarmante foi trazido à tona no qual um professor foi acusado de criar deepfakes nu de seus alunos. Essa situação não é um caso isolado. Os efeitos devastadores dos deepfakes, sejam eles íntimos ou não, são reconhecidos no ambiente escolar, onde, tanto alunos quanto docentes frequentemente relatam não serem informados sobre políticas e medidas disponíveis para lidar com situações envolvendo essas imagens. Para se ter ideia, 57% dos alunos do ensino médio e 62% dos professores afirmaram que suas escolas não comunicaram diretrizes sobre esse tipo de conteúdo.
Importância da Educação Preventiva sobre Deepfakes
Com tantas lacunas de informação, cabe aos pais assumirem a responsabilidade de educar seus filhos sobre os perigos dos deepfakes. É aconselhável que os pais tenham conversas abertas e honestas com seus filhos sobre o que são deepfakes, como reconhecê-los e, mais importante, por que nunca devem ser compartilhados ou criados. Muitas vezes, os jovens não têm consciência do impacto que esses atos podem ter sobre a vida de alguém. Portanto, conversas que incentivem a empatia e a reflexão são fundamentais. Os pais podem pedir aos filhos que imaginem como se sentiriam se fossem as vítimas, transformando esses diálogos em lições de vida essenciais.
Pesquisadores, como a advogada Lindsay Lieberman, alertam que, mesmo os deepfakes que não são autênticos, podem causar danos emocionais profundos. As vítimas frequentemente experimentam estresse psicológico, ansiedade e até estigma social, que podem prejudicar suas interações sociais e oportunidades futuras. Assim, educar os jovens sobre como se proteger e apoiar aqueles que são alvos desse tipo de conteúdo é crucial. Ao promover uma compreensão sobre os direitos digitais e as consequências legais, auxilia-se os jovens a se tornarem consumidores mais críticos da informação que circula nas redes sociais.
Protegendo os Jovens e Apoio às Vítimas
Conforme os pais se empenham em preparar seus filhos, também é importante que eles discutam como os jovens podem se proteger de se tornarem vítimas. Isso inclui reforçar a importância de restringir suas configurações de privacidade nas redes sociais e ficar atentos a quem estão se conectando online. “Eu sempre incentivo os pais a adiar o uso de redes sociais por seus filhos pelo maior tempo possível, mas se eles já estão nessa esfera digital, é fundamental que eles compreendam a necessidade de limitar o compartilhamento de conteúdo pessoal”, sugere Lieberman.
Além disso, deve haver uma abertura para que crianças e adolescentes possam abordar os pais caso vejam um deepfake ou alguma situação que as incomode, sabendo que não serão punidos por isso. Essa dinâmica de confiança pode ser um fator decisivo na forma como as crianças lidam com incidentes online e, em última análise, pode proporcionar um espaço seguro para se discutir questões mais complexas e emocionais. Importante também é não rotular os jovens como “quebrado”. Em vez disso, deve-se reiterar que é possível se recuperar e reconstruir suas vidas após experiências traumáticas.
Conclusão: Um Chamado à Ação para Pais e Educadores
Com a prevalência de deepfakes e as suas consequências perturbadoras, é de extrema importância que pais, educadores e comunidades se unam para formar uma rede de apoio e compreensão. Diante de um adensamento das tecnologias de manipulação digital, a comunicação entre pais e filhos não deve ser apenas uma conversa única, mas um diálogo contínuo que se adapte às cada vez mais complexas realidades digitais que nossos jovens estão enfrentando. O fortalecimento da educação digital e a criação de strategies preventivas são passos cruciais que devem ser implementados com urgência. Ao fazer isso, podemos capacitar a próxima geração a navegar na vasta e, muitas vezes, arriscada paisagem da internet com segurança e responsabilidade.
Como disse Dr. Devorah Heitner, “Todos os jovens reconhecem que não queremos fazer parte da vitimização de outros. Isso é essencial para fomentar um ambiente digital mais saudável e seguro”. Portanto, é hora de agir!