A recente advertência do Cirurgião Geral dos Estados Unidos, ocorrida na última sexta-feira, sobre os perigos do consumo excessivo de álcool, caracterizando-o como uma “causa bem estabelecida e evitável de câncer”, funciona como um despertador para milhões de americanos. Este anúncio, que se torna um chamado à ação em um momento em que a conscientização sobre saúde está em alta, representa o cenário mais sombrio pelo qual muitas empresas de cerveja e destilados já se prepararam ao longo dos anos. Essa mudança de comportamento entre os consumidores reflete uma tendência crescente, especialmente entre os jovens. Muitos deles estão deixando de lado as bebidas alcoólicas devido a preocupações com a saúde.
Grandes cervejarias, como Molson Coors e Anheuser-Busch InBev, assim como gigantes do setor de destilados, como Diageo e Pernod Ricard, estão respondendo a esse novo panorama ao expandir suas linhas de produtos com bebidas não alcoólicas. Essa movimentação não é apenas uma reaction, mas uma estratégia proativa para capturar a atenção de um público que cada vez mais valoriza a saúde e a bem-estar.
Uma pesquisa da Gallup, realizada em agosto, revelou que quase metade dos americanos acredita que ter uma ou duas bebidas por dia é prejudicial à saúde — a maior porcentagem registradana pesquisa em 23 anos. Além disso, o número de adultos que consomem álcool caiu de 67% em 2022 para 58% em 2023, embora ainda esteja próximo da média histórica de 63% desde 1939. Isso mostra uma mudança significativa nos hábitos de consumo, especialmente na população mais jovem, que tende a considerar a ingestão de álcool como algo negativo para a saúde.
Contudo, essa mudança não necessariamente prevê um fim catastrófico para as grandes marcas de bebidas alcoólicas. Na verdade, essa transição pode se revelar positiva para seus resultados financeiros. Um relatório de dezembro da IWSR, uma respeitada firma de análise de mercado, indicou que o mercado global de bebidas não alcoólicas está “passando por um período transformador de crescimento, impulsionado pela evolução do comportamento do consumidor e pelo momento do no-alcohol.” Essa previsão positiva, que projeta um crescimento de $4 bilhões até 2028, reforça a ideia de que bebidas sem álcool estão atraindo cada vez mais a atenção do público.
A Molson Coors, que viu os primeiros sinais dessa mudança em 2019, fez uma mudança significativa ao se reposicionar como Molson Coors Beverage Company, ampliando sua linha para além da Miller Lite e Coors Light. Kevin Nitz, vice-presidente da empresa, declarou em um post no blog de 2023 que “a cerveja sempre será o coração do que fazemos, mas sabemos que há uma enorme oportunidade com produtos não alcoólicos, e é por isso que nos comprometemos a torná-los uma parte importante de nossos negócios.” Desde a reestruturação, a marca passou a incluir bebidas energéticas sem açúcar, cervejas sem álcool, como a Peroni 0.0, e planeja trazer para as prateleiras dos EUA um coquetel alternativo sem álcool popular na Austrália chamado Naked Life.
A Anheuser-Busch InBev também está investindo no setor de bebidas não alcoólicas, com uma linha que inclui Budweiser Zero, Stella Artois 0.0 e a recém-lançada Michelob Ultra Zero. Embora a empresa não forneça números específicos, relata que suas cervejas não alcoólicas “continuaram a superar as expectativas, apresentando crescimento de receitas de dois dígitos”. Mesmo pequenas cervejarias artesanais, que enfrentaram dificuldades nos últimos anos, estão aproveitando a onda de interesse por bebidas não alcoólicas. A Athletic Brewing Company, a maior cervejaria artesanal do segmento de não alcoólico, alcançou a liderança em vendas na Whole Foods.
O desejo crescente por alternativas não alcoólicas também se estende ao setor de bebidas destiladas. A Diageo, famosa por marcas como Ketel One e Johnnie Walker, adquiriu em setembro a Ritual Zero Proof, a marca de destilados não alcoólicos mais vendida nos EUA. Essa aquisição permite apresentar uma variedade ainda maior aos consumidores. No entanto, a gigante do setor não está imune às dificuldades enfrentadas pelas marcas, com uma queda nas vendas que, segundo a CEO da empresa, Debra Crew, configura um “ambiente de operação volátil”.
A Pernod Ricard, por sua vez, lançou uma versão de gin não alcoólico e a Moët Hennessy fez um investimento significativo na Bloom, um espumante não alcoólico, posicionando-se assim no mercado que, mesmo tendo enfrentado desafios, tem visto um aumento na demanda. David Serre, executivo da Moët Hennessy, observou que há “uma demanda crescente por alternativas não alcoólicas de alta qualidade”, especialmente entre os chamados ‘flexidrinkers’, que buscam moderar o consumo sem abrir mão do sabor. Essa tendência abre um novo nicado no mercado, destacando que alternativas não alcoólicas atendem a um público que tem até considerações sociais envolvidas.
A adoção de bebidas não alcoólicas, que já representa um crescimento em meses de vendas, mostra que as empresas do setor de bebidas estão não apenas respondendo a uma tendência passageira, mas se adaptando a um novo paradigma de consumo. À medida que a conscientização sobre saúde e bem-estar cresce, a mudança de comportamento dos consumidores revela-se promissora para o futuro do setor. Certamente, empresas que se adaptarem e inovarem estarão na vanguarda desse novo cenário, enquanto as que não se adaptarem podem se ver à deriva em um mar de mudanças.
Para mais informações, você pode ler o artigo completo na CNN.