A primeira semana de trabalho do novo Congresso republicano em Washington, iniciado na segunda-feira, traz à tona uma preocupação palpável: o tempo que têm para agir. Com a história recente dos EUA como pano de fundo, a nova maioria enfrenta desafios significativos e incertezas políticas, caso não consiga romper com um padrão de longa data que tem derrubado a força dos presidentes nas eleições de meio de mandato. O cenário atual sugere que, a menos que os republicanos consigam alterar as expectativas, o tempo é um recurso precioso e limitado.
Os republicanos, ao iniciarem o ano sob a nova administração do presidente Donald Trump, vislumbram a oportunidade de exercício do poder com o controle unificado da Casa Branca e dos dois ramos do Congresso. Contudo, um olhar mais atento para a história revela que esta configuração de controle unificado foi revogada pelos eleitores nas últimas cinco ocasiões em que um presidente enfrentou uma eleição de meio de mandato. De fato, desde a presidência de Jimmy Carter, em 1978, nenhum presidente conseguiu manter o controle das duas câmaras do Congresso após as eleições de meio de mandato.
A situação atual exige que Trump e aliados no Congresso aproveitem ao máximo os dois anos que têm antes das eleições de 2026. Em uma entrevista reveladora, Susie Wiles, nova chefe de gabinete da Casa Branca sob Trump, sugere que estes próximos dois anos serão críticos para avançar na agenda política do presidente. “Precisamos fazer valer nossa agenda rapidamente”, disse ela, reconhecendo assim uma realidade que se tornou evidente para muitos ao longo dos anos: o impulso para legislar em tempo hábil é vital para a sobrevivência política.
A incapacidade de ambos os partidos em manter o controle unificado por períodos prolongados é uma novidade na história política Americana contemporânea. Estudos mostram que, durante grande parte do século 20, era comum que um partido exercesse controle contínuo sobre a presidência e o Congresso, possibilitando uma maior fatia de tempo para implementar suas políticas. Essa evolução política recente diverge radicalmente das práticas que sustentam a governança dos últimos 100 anos.
Desde 2006, as eleições nos Estados Unidos revelaram uma tendência de reversão nos resultados obtidos nos pleitos anteriores, levando a um ciclo de rápida mudança política. Esta dinâmica, impulsionada por um sentimento crescente de ansiedade e incerteza entre os eleitores, vem complicando ainda mais a tarefa do partido no governo e tem deixado os políticos intrigados sobre até onde conseguirão avançar com suas agendas antes do inevitável retorno da oposição. O ex-representante Steve Israel descreveu a situação de maneira assertiva: “É necessário um colar cervical para realmente observar a política eleitoral americana.”
Mudança nas Expectativas: Fatigados pelo Controle Unificado
Mal a nova liderança assume, a expectativa em relação ao que se pode alcançar em dois anos já passa por uma profunda transformação. David Price, cientista político e ex-representante democrático, destaca que a percepção de que o controle unificado é cada vez mais efêmero permeia tanto as decisões dos mandatários quanto o comportamento da oposição. Essa mudança contínua avança de tal forma que cada partido, ao assumir o controle, já está ciente de que pode ser breve e temporário, moldando assim sua abordagem política.
Professores de ciência política notam que a maior longevidade de governos unificados na América do século 20, tal como dissemos anteriormente, permitiu que os partidos realmente se envolvessem na construção de políticas sólidas. As apostas eram mais altas e, em muitos casos, havia líderes dispostos a trabalhar juntos, um contraste gritante com a dinâmica atual marcada pelo afastamento entre os partidos. O que se percebe hoje, segundo Israel, é que a realidade política é marcada por uma incerteza e pela falta de diálogos frutíferos entre as partes: “Você vai para o Congresso encontrando um amigo do outro lado, e ainda mantinha uma visão de longo prazo; hoje, a noção é de que apenas deve-se esperar mais dois anos até que volte à maioria.”
A expectativa negativa afeta não apenas as decisões, mas também a coragem dos membros do partido em se manterem no cargo, mesmo quando suas chances de controle são reduzidas. O ex-representante Price revela que muitos colegas considerados experientes e prontos para a aposentadoria agora mostram disposição em continuar, alimentados pelo pensamento de que o controle pode mudar rapidamente em sua direção novamente. Isso gera uma profecia autorrealizável, já que a presença de candidatos fortes é fundamental para garantir uma disputa saudável nas eleições.
A celeridade das mudanças políticas motivadas por esse ambiente instável reduz a disposição das partes em cooperar e se aliar em prol de legislações que se mostram necessárias ao país. O que antes era considerado um hábito saudável de colaboração entre os partidos históricos agora deu lugar ao foco em desbancar o adversário, diversificando ainda mais as abordagens de ambos os lados e intensificando um ambiente propenso a campanhas cada vez mais polarizadas.
Caminhos Históricos: A Fragilidade do Controle Unificado
Ao longo da história, a durabilidade dos governos unificados foi significativamente superior à experimentada nos dias atuais. Desde 1896 até 1968, um único partido deteve a simultânea posse da Casa Branca e do Congresso por 58 dos 72 anos. Durante este período, a capacidade de implementar e solidificar projetos políticos, moldando assim o futuro imediato da nação, mostrou-se eficiente e constante em sua operação. Ocasionalmente, os líderes conseguiam passagens para leis que definiram eras.
Contudo, essa realidade mudou drasticamente nas últimas décadas. A luta por manter o controle unificado tornou-se uma das mais proeminentes entre os desafios eleitorais enfrentados, e as transições conjuntas entre os partidos têm mostrado uma velocidade que é difícil de acompanhar. A investigação da dinâmica política contemporânea alerta para a fragilidade e a luta contínua por este controle, onde, após 2026, um partido ou outro terá sido responsável apenas por 18 dos últimos 58 anos de controle unificado.
Experiências de presidentes dos últimos anos revelaram o consenso generalizado de que a manutenção de um controle unificado é uma tarefa quase impossível. Desde Bill Clinton, Barack Obama, Donald Trump e Joe Biden, todos eles experimentaram a perda de configurações unificadas nas eleições de meio de mandato, evidenciando um padrão claro de descontentamento com os líderes em potencial. A única exceção notável a essa regra foi o histórico de Franklin Delano Roosevelt, que manteve o controle durante um prolongado período em meio à turbulência da Grande Depressão, um fato bastante distante da realidade atual.
A grande pergunta que paira sobre os novos líderes republicanos é se eles conseguirão, através de ações planejadas e estratégicas, mudar esse padrão desgastante, que se repete a cada ciclo eleitoral. Uma tarefa que parece monumental à luz dos dados e das expectativas crescentes entre o eleitorado. Para os republicanos, a pressão é elevada, pois qualquer falha em sustentar o controle pode gerar um descontentamento ainda mais acirrado entre sua base, gerando consequências drásticas para sua ascendência política.
Tempos Modernos: Polarização e Incerteza
A análise das décadas recentes mostra uma intersecção entre a polarização crescente e a instabilidade política, onde cada fluxo eleitoral se torna uma expressão de frustração popular. Os eleitores, em busca de mudanças, se atêm a soluções que vão além de meras promessas e clamam por ações concretas. O descontentamento contínuo com a performance do governo tem alimentado um ciclo vicioso de vagas e reveses sistemáticos, refletindo a luta para se estabelecer um consenso entre as partes que há muito tempo são incapazes de fornecer isso ao eleitorado.
As próximas ações estratégicas da nova administração devem, sem dúvida, estar alinhadas com essas percepções, focando na criação de uma organização unificada e coesa que tente superar o ceticismo público. A conquista do apoio popular será um ato de equilíbrio desafiador, exigindo que o partido examine suas prioridades e busque um compromisso verdadeiro que demonstre a sua capacidade de governar, em detrimento das incessantes disputas políticas.
Em última análise, o novo Congresso republicano está em um momento crucial em sua trajetória. Conseguirão os líderes curvar as expectativas e frustração acumulada ao longo dos últimos anos? Com o foco em uma governança eficaz e na superação da polarização, o partido pode encontrar uma maneira de promover mudanças tangíveis, ou, caso contrário, enfrentará o mesmo destino dos presidentes anteriores que não conseguiram engajar o eleitorado e garantir sua sobrevivência política.