Recentemente, a região do Estreito de Kerch, que separa a Península da Crimeia, ocupada pela Rússia, da região sul de Krasnodar, foi palco de um trágico incidente ecológico com consequências devastadoras para a vida marinha. De acordo com dados divulgados no último domingo pela organização Delfa Centro de Resgate e Pesquisa de Golfinhos, 32 golfinhos foram encontrados mortos em decorrência do derramamento de petróleo ocorrido há três semanas, deixando um rastro de destruição não apenas para essas magníficas criaturas, mas também para a biodiversidade local.

O centro responsável pelo monitoramento da fauna marinha relatou que um total de 61 cetáceos, um grupo que inclui baleias e golfinhos, foram identificados como mortos desde o início da emergência ambiental. Importante destacar que a maioria dos corpos encontrados indicava que esses animais já estavam mortos antes da catástrofe ambiental, ampliando ainda mais as preocupações em torno da saúde dos oceanos. “Avaliando as condições dos corpos, podemos afirmar que a grande parte deles provavelmente faleceu nos primeiros dez dias após o desastre. E agora, o mar continua a expor os cadáveres”, enfatizou a Delfa em um comunicado no aplicativo de mensagens Telegram, informando que a maior parte dos golfinhos pertence à já ameaçada espécie Azov.

As repercussões do acidente não se restringem apenas ao impacto sobre a fauna marinha; o Ministério de Emergências da Rússia anunciou que mais de 96 mil toneladas de areia e solo contaminados foram removidos da costa nas regiões de Anapa e Temryuk, com a ajuda de voluntários. “Mais de 68 quilômetros de litoral já foram limpos”, afirmou o ministério, ressaltando o esforço contínuo para restaurar a área. No entanto, as condições climáticas adversas, com ventos fortes e ondas, têm dificultado as operações de limpeza, e o petróleo continua a alcançar diversas praias, indicando que a luta contra esse desastre ainda está longe de ser vencida.

Derramamento de óleo na Rússia
Veterinários limpam um pássaro afetado pelo derramamento de petróleo na Crimeia, após a catástrofe causada por dois petroleiros atingidos por uma tempestade./ AP

Recentemente, foram descobertas duas novas manchas de óleo na costa, uma próxima ao resort de Anapa e outra na baía de Kapsel, conforme noticiado pela agência de notícias russa TASS. A segunda mancha foi relatada como tendo uma extensão de dois quilômetros. O tipo de óleo envolvido neste incidente, o mazut, é especialmente difícil de limpar devido à sua densidade elevada, que impede que ele flutue na superfície. Esta característica torna o trabalho de remediação ainda mais complicado e delicado, impedindo que as autoridades atuem de maneira eficaz.

Cabe ressaltar que o presidente russo Vladimir Putin descreveu o derramamento de petróleo como uma “desgraça ecológica”, evidenciando a magnitude do problema. O Estreito de Kerch, onde ocorreu o desastre, é uma rota de navegação crucial para o comércio global, servindo como um importante ponto de passagem entre o Mar de Azov e o Mar Negro. A área também tem sido um ponto de conflito entre Rússia e Ucrânia desde a anexação da Crimeia em 2014, com desdobramentos que incluem processos na Corte Permanente de Arbitragem em Haia.

Mykhailo Podolyak, conselheiro do escritório do presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy, descreveu o derramamento de petróleo como uma “catástrofe ambiental em larga escala”, pedindo a imposição de sanções adicionais sobre os petroleiros russos envolvidos. Este chamado destaca não apenas as consequências ambientais, mas também o contexto político que permeia a situação.

Casos como o ocorrido na Crimeia não são isolados, visto que o impacto de derramamentos de petróleo sobre a vida marinha é uma preocupação crescente em todo o mundo. No ano passado, um derramamento na Louisiana resultou na morte de várias espécies aquáticas, enquanto incidentes anteriores na mesma região documentaram milhares de pássaros e outros animais afetados. Assim, a repetição de tais tragédias levanta a urgência de uma resposta global coordenada para proteger os nossos oceanos e a fauna que deles depende.

Por fim, a situação no Estreito de Kerch serve como um lembrete sombrio da fragilidade do ecossistema marinho e da necessidade de ação imediata para mitigar os efeitos de desastres ecológicos. Com o aumento das atividades industriais e a crescente exploração de recursos naturais, a preservação da vida marinha e a resposta a emergências ambientais se tornam mais relevantes do que nunca.

Reportagem da Agence France-Presse contribuiu para este artigo.

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