Em uma jornada de descoberta e revelação, moradores do subúrbio de Jaramana, em Damasco, encararam a realidade perturbadora da herança tóxica do regime anterior. Com a queda do ditador Bashar al-Assad em dezembro, os cidadãos que sempre suspeitaram de atividades estranhas em uma instalação de segurança estatal, decidiram entrar no local fortemente vigiado e foram confrontados por uma realidade que superou suas piores expectativas: um laboratório clandestino ominoso recheado de substâncias potencialmente tóxicas, que poderiam ser usadas tanto na fabricação de drogas ilícitas quanto em armamentos químicos. Esse acontecimento não é apenas uma revelação local, mas um eco das atrocidades que marcaram anos de guerra civil e violência no país.

Visitas a esse local, organizadas pela Defesa Civil síria, conhecida como White Helmets, apontaram para a gravidade da situação. Quando os voluntários e a equipe da CNN inspecionaram o laboratório, os detectores de agentes químicos começaram a alarmar repetidamente, indicando a presença de materiais abastecidos de toxinas. A análise preliminar de especialistas consultados pela CNN confirmou que o espaço se comportava como um labor químico de pesquisa, em vez de uma linha de produção, levantando preocupações sobre o que poderia ter ocorrido ali e o que ainda pode estar escondido.

Ainda que a descoberta venha à tona, a luta para entender a extensão e a finalidade desses materiais continua. Especialistas sugeriram que uma investigação mais aprofundada é necessária, incluindo testes especializados e inspeções detalhadas dos documentos encontrados no local. De acordo com o White Helmets, o regime de Assad foi acusado por diversos países, incluindo os EUA, de envolvimento na fabricação e tráfico de drogas, especificamente a droga captagon, uma substância extremamente viciante, que ilustra mais uma camada da corrupção e do abuso que caracterizaram o governo sírio. Um vídeo que surgiu recentemente desde a queda do regime indicou a possível produção em larga escala deste narcótico dentro do país.

Adicionalmente, enquanto o conflito se desenrolava, organizações internacionais e especialistas relataram que o antigo governo esteve ligado ao uso de agentes químicos em ataques contra a própria população, contradizendo sua assinatura de tratados que proíbem tais armas. A ONU anunciou existirem “evidências claras e convincentes” sobre o uso de sarin na Síria em 2013, demonstrando a realidade brutal da guerra, onde a vida de civis é frequentemente colocada em risco.

Farouq Habib, gerente adjunto do White Helmets, afirmou que a instalação em Jaramana funcionou como parte de um programa de pesquisa vinculado a armamentos químicos, embora ressalte que sua equipe necessitará de mais testes para confirmar essa hipótese. Ele enfatizou que o regime alegou, em anos anteriores, ter eliminado todas as suas armas químicas, o que contradiz a realidade dos fatos observados. Vendo documentos e materiais encontrados no local, Habib expressou a sua indignação com a utilização de instituições governamentais como centros de atividades múltiplas, questionando a natureza do objetivo da instalação de segurança estatal.

Os documentos encontrados no laboratório discutiam o manuseio de materiais tóxicos e, em uma comunicação que permanece sem verificação, indicavam interações entre a instalação e as forças armadas russas. A natureza do local, com indicadores de produção de armas improvisadas e outros materiais explosivos, suscita interrogações sobre a direcionalidade e o propósito das operações que ocorriam sob a jurisdição de Assad.

A missão dos White Helmets de investigar e neutralizar essas ameaças é considerada extremamente perigosa. Após a retirada das forças do regime, muitos prédios do governo foram saqueados, deixando um rastro de destruição. O líder local da comunidade druza expressou sua preocupação em relação ao risco que o local representava para a população local. O perigo se agrava em um cenário onde os estoques suspeitos de armas químicas da Síria, consideradas ilegais sob a legislação internacional, podem cair em mãos erradas e serem utilizados contra pessoas inocentes.

Habib anunciou que a busca por comunidades como Jaramana é uma prioridade, enfatizando que a preservação e eliminação urgente das substâncias nocivas é uma questão de segurança global. Em resposta à pressão da comunidade, os White Helmets foram rapidamente acionados, mesclando sua busca por prisões secretas do regime e a necessidade de garantir que materiais perigosos fossem removidos. Além disso, em meio a um cenário repleto de estilhaços de vidro e contaminação, a equipe deveria manobrar com cautela, utilizando trajes de proteção que poderiam ser facilmente comprometidos.

No final da missão, após horas de trabalho árduo, a equipe conseguiu mover os materiais perigosos para um local seguro, onde seriam enterrados temporariamente, aguardando uma disposição segura. Desafios permanecem, mas Habib e sua equipe estão determinados a continuar a busca por sites perigosos, reiterando que essas substâncias representam uma ameaça global contra a humanidade. “Devemos nos unir”, concluiu Habib, “para pôr fim a esta questão e preservar a segurança de todos.” O trabalho dos White Helmets é um lembrete de que, apesar da adversidade e do risco, a bravura e a determinação continuam a prevalecer em busca de um futuro mais seguro.

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Farouq Habib (direita) fala com a equipe hazmat antes da missão.

Creditos: Ivana Kottasová/CNN

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