Dois ex-detidos palestinos que recentemente foram libertados do notório centro de detenção Sde Teiman, em Israel, revelaram que presenciaram a chegada do renomado médico palestino Hussam Abu Safiya no local no mês passado. Eles descreveram sua aparição como alarmante, uma vez que o médico se encontrava em “condições precárias” ao ser trazido para a prisão. Os dois ex-detentos, Mustafa Hassouna e Mohammad Al-Ramlawi, disseram que Abu Safiya aparentava estar fisicamente e mentalmente exausto, e expressaram surpresa ao vê-lo ali, uma vez que ele é amplamente respeitado como um médico humanitário e não associado a nenhum grupo.
A detenção de Abu Safiya, que ocupa o cargo de diretor do Hospital Kamal Adwan no norte da Faixa de Gaza, levantou sérias questões sobre seu tratamento e as alegações que motivaram sua prisão. Israel não divulgou informações específicas sobre o local de sua detenção, mas mencionou que ele está sob investigação por ser membro do Hamas, uma acusação que os ex-detentos classificaram como absurda e sem fundamentos. “Todos ficaram surpresos com a sua chegada porque ele é um médico humanitário que não pertence a nenhuma organização”, afirmou Hassouna, um dos ex-detidos que compartilhou suas observações após a liberação.
A detenção de Abu Safiya ocorreu ao final de uma incursão militar que resultou no fechamento de seu hospital, que é considerado o último grande estabelecimento de saúde em funcionamento no norte de Gaza, em dezembro. Israel alegou que a instalação estava sendo utilizada como base do Hamas, mas a verdade sobre essa situação é envolta em controvérsia. Para muitos, a prisão de um profissional de saúde está intimamente ligada ao contexto mais amplo do conflito israelense-palestino, onde médicos muitas vezes enfrentam represálias quando tentam fornecer cuidados em áreas de conflito.
No dia 27 de dezembro, durante a noite, tropas da Defesa de Israel (IDF) trouxeram Abu Safiya para o centro de detenção, onde, segundo relatos, ele inicialmente estava tão debilitado que não conseguia se comunicar. “Ele veio até nós em uma condição muito ruim”, relatou Al-Ramlawi, lembrando que Abu Safiya descreveu ter sido humilhado e maltratado. O médico informou aos detidos que, durante a invasão ao hospital, cinco membros da equipe médica foram mortos e o próprio hospital foi incendiado diante de seus olhos. Este relato desmente a narrativa oficial de Israel, gerando questionamentos sobre a veracidade das alegações feitas por suas forças.
Além das condições angustiantes da detenção de Abu Safiya, os ex-detentos também descreveram as duras condições nas quais foram mantidos em Sde Teiman. Os relatos de abusos físicos e psicológicos são frequentes, e nesta ocasião, eles falaram sobre a “celular número dois”, onde acreditavam que o médico estava sendo mantido. As instalações consistem em várias barracas e celas, onde os detidos enfrentam um ambiente desumano, aumentando o clamor por reformas e respeito aos direitos humanos. Um advogado da organização Médicos pelos Direitos Humanos de Israel (PHRI) apontou que Abu Safiya foi levado a um tribunal em Ashkelon sem a presença de sua defesa legal, resultando na prorrogação de sua detenção até 13 de fevereiro.
As forças de segurança israelenses afirmaram através de uma declaração à CNN que Abu Safiya está “atualmente sendo investigado, como parte de uma operação em andamento” e reiteraram que a detenção de qualquer indivíduo deve seguir os protocolos legais estabelecidos. No entanto, as alegações de tortura e tratamento cruel persistem, especialmente entre aqueles que passaram pelo centro de Sde Teiman, que uma investigação anterior da CNN havia revelado como um local onde as violações de direitos humanos aconteciam de maneira sistemática. As táticas de coerção incluem desde a utilização de spray de pimenta até a presença de cães para intimidar os detidos.
A discussão sobre a detenção de Abu Safiya e as condições enfrentadas pelos prisioneiros em Israel reabre velhas feridas no já angustiante contexto do conflito. A situação humanitária na Faixa de Gaza é alarmante, com a congestão nos hospitais e a ausência de profissionais como Abu Safiya resultando em uma crise de saúde pública. Com a morte de sua mãe recentemente e a ausência de notícias sobre sua situação, questiona-se o futuro não só do médico, mas também da saúde e bem-estar geral dos detidos e do povo palestino.
Um dos ex-detidos, Al-Ramlawi, relembrou que na última vez que viu Abu Safiya, o médico havia pedido que sua família procurasse ajuda externa para sua situação crítica, apelando a organizações internacionais e à imprensa para que suas vozes fossem ouvidas. “Se eles (a IDF) realmente tivessem algo em Dr. Hussam Abu Safiya, eles o teriam matado no Hospital Kamal Adwan”, concluiu Hassouna, refletindo sobre a gravidade das alegações e a urgência de ações para proteger os direitos dos detidos na região.
Condições de Detenção e Direitos Humanos em Debate
As condições de detenção em locais como Sde Teiman têm gerado debates acalorados sobre os direitos humanos. O conjunto de alegações envolvendo o tratamento brutal e as humilhações enfrentadas pelos prisioneiros levanta questões sobre a necessidade de maior supervisão e respeito aos direitos fundamentais, especialmente em contextos de tensão e conflito armado. O testemunho de Abu Safiya e dos ex-detidos se torna uma luminosa lembrança da importância de humanizar as vozes que, no calor da contenda, frequentemente são silenciadas.
Continuaremos acompanhando a situação de Hussam Abu Safiya e o desdobramento de seu caso, esperando que a comunidade internacional preste atenção às alegações e busque pressionar por mudanças significativas na maneira como os direitos dos detidos estão sendo tratados.