No cenário político atual, as promessas de investimentos diretos no setor tecnológico se tornaram um tema recorrente. Recentemente, o presidente eleito Donald Trump destacou um plano ambicioso que envolve um investimento significativo de um bilionário dos Emirados Árabes Unidos. Hussain Sajwani, fundador da gigante de desenvolvimento imobiliário DAMAC Properties, anunciou que irá direcionar $20 bilhões para a construção de novos centros de dados em todo o território dos Estados Unidos. Este projeto não só busca modernizar a infraestrutura tecnológica do país, mas também levanta questionamentos sobre a viabilidade e a sustentabilidade de tais compromissos financeiros, considerando os antecedentes de promessas semelhantes que não se concretizaram.

Durante uma coletiva de imprensa realizada em sua residência em Mar-a-Lago na última terça-feira, Trump revelou que a primeira fase desse extenso investimento se concentrará na construção de centros de dados em estados estratégicos, incluindo Arizona, Illinois, Indiana, Louisiana, Michigan, Ohio, Oklahoma e Texas. De acordo com Trump, esses centros serão um suporte essencial para as tecnologias emergentes de inteligência artificial (IA) e computação em nuvem, áreas que apresentam um crescimento explosivo nos dias atuais. “Estamos esperando há anos para aumentar nossos investimentos nos EUA”, comentou Sajwani, acrescentando que a expectativa é que o investimento chegue a até $20 bilhões, ou possivelmente mais.

Embora a proposta de investimento tenha gerado otimismo, é crucial observar que detalhes adicionais não foram apresentados durante a coletiva. Há uma preocupação latente de que esse plano possa não se concretizar, considerando que promessas de investimentos em larga escala no passado não corresponderam às expectativas. Um exemplo notável ocorreu em 2017, quando Trump, ao lado do então governador de Wisconsin Scott Walker, anunciou que o fabricante taiwanês Foxconn investiria $10 bilhões em um campus próximo a Milwaukee. No entanto, meses depois, a empresa começou a reduzir suas projeções, e até o final de 2022, havia criado apenas cerca de 1.000 empregos em Wisconsin, distantes dos 13.000 prometidos, e dispunha de apenas $1 bilhão investido até o início de 2023.

Ademais, Trump manifestou-se como um crítico ferrenho do CHIPS Act, uma das principais realizações políticas da administração do presidente Biden. O CHIPS Act destinou $39 bilhões em subsídios, além de 25% de créditos fiscais e bilhões adicionais em empréstimos, com o objetivo de revitalizar a fabricação de semicondutores nos EUA, que vinha diminuindo ao longo de décadas em favor da produção na Ásia. O ex-presidente e outros republicanos, como Mike Johnson da Louisiana, ameaçaram revogar a legislação do CHIPS Act. Em uma entrevista com Joe Rogan no mês passado, Trump acusou Taiwan de ter “roubado nosso setor de chips” e vociferou contra a necessidade de tarifas sobre semicondutores importados.

É importante mencionar que o CHIPS Act, aprovado com apoio bipartidário em 2022, conseguiu atrair investimentos das cinco maiores empresas de semicondutores avançados do mundo, com comprometimentos de gastos que superam em mais de dez vezes o total de subsídios disponíveis segundo dados divulgados pela Bloomberg. A necessidade de modernizar a infraestrutura de centros de dados nos Estados Unidos é amplamente reconhecida por líderes do setor tecnológico, especialmente à luz do crescimento explosivo da indústria de inteligência artificial, que depende profundamente de uma infraestrutura computacional robusta e escalável.

Em um recente post em seu blog, Brad Smith, presidente da Microsoft, afirmou que a empresa está a caminho de investir $80 bilhões em centros de dados de IA e que o sucesso da companhia depende de “novas parcerias fundamentadas em investimentos em infraestrutura em grande escala”. Smith enfatizou que “os Estados Unidos estão em posição de liderar esta nova onda de tecnologia, especialmente se investirem em suas forças e formarem parcerias eficazes internacionalmente”. Esse contexto destaca a urgência com que o setor e o governo devem atuar para que o país não fique para trás na corrida da tecnologia global.

Além disso, em uma entrevista publicada no último domingo pela Bloomberg, o CEO da OpenAI, Sam Altman, comentou sobre a “verdadeira oportunidade” que a administração Trump teria para “fazer algo muito melhor [do que o CHIPS Act] como um desdobramento”. Altman expressou que o CHIPS Act não foi tão eficaz quanto muitos esperavam, observando que “é surpreendente como se tornou difícil construir coisas nos Estados Unidos. Usinas, centros de dados, qualquer tipo de infraestrutura”. A sua crítica se estende à complexidade burocrática que envolve esses processos, algo que ele acredita não ser benéfico, especialmente quando se considera que os EUA realmente precisam liderar no desenvolvimento da IA.

Essa nova proposta de investimento e os desafios enfrentados pressionam tanto o governo quanto o setor privado a reavaliar suas estratégias em relação à infraestrutura tecnológica. O futuro da inovação nos Estados Unidos pode depender significativamente de quão bem sucedidos serão esses esforços para conectar recursos financeiros, governamentais e empresariais para atender à crescente demanda por tecnologia avançada. Portanto, o que se observa atualmente é o palco para uma reconfiguração do compromisso do país com a tecnologia, em um momento em que as nações concorrentes aceleram suas próprias iniciativas no mesmo segmento.

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