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Em uma cena digna de um filme político de Hollywood, o presidente eleito Donald Trump interveio decisivamente na luta pela presidência da Câmara dos Representantes, ajudando Mike Johnson a ultrapassar a linha de chegada em uma votação cercada de incertezas.

No último dia da votação, enquanto estava no campo de golfe, Trump fez uma ligação para os representantes Ralph Norman da Carolina do Sul e Keith Self do Texas, convencendo-os a apoiá-lo. Sem margem para erro, Johnson, um republicano da Louisiana, conquistou 218 votos, o número necessário para garantir sua posição.

Apesar do que o registro formal pode afirmar, a vitória foi cercada de drama, com a intervenção de Trump sendo necessária até os últimos momentos da votação. Essa cena inaugural da 119ª sessão do Congresso não só evidenciou a influência contínua de Trump sobre o Partido Republicano como também apelou a um desafio que ele enfrentará para manter essa unidade nos próximos dois anos, especialmente com as eleições de meio de mandato de 2026 à vista, que colocam em risco a posição do GOP em Washington.

Fontes revelaram que Trump enfatizou a necessidade de união entre os republicanos e alertou que os eleitores teriam pouca tolerância para a desordem que poderia emergir se o partido não conseguisse se unir em torno de um líder. A retórica impactou os membros do GOP, como foi o caso de Self, que após a conversa com Trump, declarou: “O presidente quer que sua agenda avance, e a mensagem era clara”.

Contudo, alguns membros, como o representante Andy Biggs de Arizona, que mantinha reservas sobre a liderança da Câmara, atribuiram a Johnson uma parte significativa de sua vitória, mencionando que “sem o endosse de Trump, Johnson não teria sobrevivido”. Trump, em suas comunicações, havia deixado claro que uma luta prolongada poderia abalar a confiança republicana, levando a uma liderança inexperiente em momentos críticos.

Um desafio importante para Trump

O evento serviu como um lembrete de que Trump enfrenta uma batalha íngreme nos próximos dois anos, mesmo com os republicanos no controle do governo e do Congresso. Com maiorias estreitas na Câmara e no Senado, Trump precisa de quase total unidade de seu partido ou de ajuda bipartidária, caso contrário, ele poderá falhar em entregar as mudanças prometidas aos eleitores.

A seguir, a dificuldade em governar é acentuada pelo histórico complicado que os republicanos têm enfrentado desde que reconquistaram a maioria em 2022. A representante republicana Stephanie Bice de Oklahoma apontou: “Governar é complicado às vezes. Nós provamos isso não apenas hoje, mas ao longo dos últimos dois anos. Mas vamos conseguir”.

Antes do recesso, Trump tentou pressionar os republicanos para aumentar o limite de endividamento, sem sucesso, durante uma votação que chegou a colocar o governo à beira de um shutdown. Ele também não conseguiu influenciar a seleção do próximo líder da maioria no Senado, cujo cargo foi ganho por John Thune, um crítico do presidente eleito.

Entretanto, garantir a vitória de Johnson representa um importante teste inicial para a capacidade de Trump em navegar na Câmara, que está dividida de forma estreita. Patrick McHenry, ex-representante, afirmou: “Será uma corrida difícil para essa maioria republicana na Câmara, mas a presidência de Johnson é viabilizada pela presença de Donald Trump. Sem Trump, a votação poderia ter sido diferente”.

No dia anterior à votação, Trump transmitiu segurança, assegurando que Johnson venceria, sem contabilizar outros candidatos para o cargo. Porém, com a votação se aproximando, a tensão aumentou e nem todos dentro da liderança do GOP tinham certeza de como o resultado se desenrolaria.

O presidente da Câmara, Mike Johnson, faz declarações depois de ser reeleito na Câmara dos Representantes do Capitólio em 3 de janeiro.

Johnson e seus aliados sabiam que não havia outro caminho viável para a escolha de outro republicano. A única dúvida era quantas votações seriam necessárias para garantir sua vitória e quanto a influência direta de Trump seria necessária sobre os céticos durante o processo.

Johnson resistiu a concessões

Além da influência de Trump, talvez o mais notável em todo esse processo foi a insistência de Johnson em conseguir os votos sem as habituais promessas de cargos em comitês ou a lista de projetos de lei que costumam surgir em negociações desse tipo.

Johnson reafirmou seu compromisso de empoderar os legisladores individuais no Congresso, mas sem oferecer qualquer tipo de concessão para angariar votos, o que lhe garante maior liberdade de ação em um dos maiores desafios da história do partido.

Ele fez questão de destacar que ele já estava comprometido com isso, reafirmando sua posição sobre a insistência de empoderamento que muitos representantes republicanos buscavam. Com essa abordagem, Johnson busca primeiro unir o partido sem criar divisões profundas, mesmo diante de pressões internas impressas pela ala conservadora.

Durante as discussões que antecederam a votação, alguns membros da House Freedom Caucus apresentaram uma lista de demandas a Johnson, como cortes de gastos e reformas no processo de apropriação de orçamento. Mesmo após a vitória, um grupo de republicanos na Câmara enviou uma carta expressando suas demandas para o novo líder, reforçando a ideia de que Johnson enfrentará uma liderança muito exigente, mesmo tendo garantido a cadeira.

Portanto, mesmo com a vitória, a presença de disputas internas deve perdurar, uma vez que muitas conservadoras deixaram claro que não aprovarão automaticamente a agenda de Trump na Câmara. Assim, a expectativa de um profundo diálogo no processo legislativo não se limita à composições fáceis sobre itens que dividem o partido.

O trabalho ainda está longe de ser concluído, e como afirmou o representante Byron Donalds da Flórida, “isso é apenas o começo. Temos muito a fazer a partir daqui”.

CNN’s Kit Maher and Kristen Holmes contribuíram para este relatório.

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