Uma equipe internacional de pesquisa alcançou um marco impressionante na compreensão das mudanças climáticas da Terra ao perfurar e recuperar um núcleo de gelo de 2.800 metros de profundidade na Antártica. Com aproximadamente 9.186 pés de comprimento, este núcleo é considerado um verdadeiro “máquina do tempo” que promete ajudar os científicos a desvendar mistérios antigos sobre o clima do nosso planeta. Este tema intrigante não se resume apenas a uma marquetagem científica, mas abre as portas para uma rica investigação sobre o passado da Terra e suas alterações climáticas ao longo de 1,2 milhão de anos.
O núcleo, coletado a partir de Little Dome C, um dos locais mais extremos do planeta, é quase tão comprido quanto 25 campos de futebol dispostos em linha ou seis vezes e meia a altura do Empire State Building. De acordo com Carlo Barbante, coordenador do projeto Beyond EPICA (Projeto Europeu de Perfuração de Gelo na Antártica), este núcleo captura um “extraordinário arquivo do clima da Terra”. A coleta do núcleo representa um esforço significativo e um triunfo científico, onde a equipe cortou o gelo em peças de 1 metro, armazenadas em caixas isoladas para análise futura.
Little Dome C encontra-se a 34 quilômetros da estação de pesquisa Concordia, operada pela Itália e França, e é caracterizada por rajadas de ventos ferozes e temperaturas constantemente abaixo de -40 graus Celsius. O gelo que foi perfurado é considerado um dos mais antigos já extraídos na Terra e pode fornecer respostas para questões fundamentais sobre como o clima do planeta mudou ao longo dos tempos. As bolhas de ar presas dentro do núcleo de gelo oferecem um instantâneo direto da composição atmosférica passada, incluindo concentrações de gases de efeito estufa como dióxido de carbono e metano. Como mencionou Barbante, “Ao analisar esses dados, podemos reconstruir como o clima da Terra respondeu a diferentes fatores de forçamento climático, como radiação solar, atividade vulcânica e variações orbitais”.
Os cientistas estão também esperançosos de que este núcleo revelará o que causou a mudança repentina nos períodos das eras do gelo da Terra, um evento que quase levou à extinção dos ancestrais humanos antigos, conforme pesquisas recentes. O projeto Beyond EPICA, que começou em 2016, visa encontrar gelo mais antigo que possa esclarecer a razão dessa transição climática.
A coleta deste núcleo foi realizada durante a quarta campanha do projeto, que ocorreu durante o último verão antártico. Ao todo, especialistas de 12 instituições científicas europeias gastaram mais de 200 dias perfurando e processando o gelo ao longo das últimas quatro temporadas de verão. O projeto continua a construção sobre os objetivos do projeto EPICA original, que ocorreu entre 1996 e 2008, onde foram estabelecidos vínculos entre o clima e os gases atmosféricos ao longo dos últimos 800.000 anos. O núcleo coletado nesta última campanha representa um novo marco, criando um registro contínuo do clima da Terra que retrocede ainda mais no tempo.
Com cada metro de gelo podendo conter até 13.000 anos de dados climáticos, os pesquisadores descobriram que a parte mais baixa do núcleo, os 210 metros encontrados logo acima da rocha-mãe, consiste em gelo antigo que foi fortemente deformado e se misturou. Análises futuras desse gelo são esperadas para testar teorias sobre como o gelo se refrozenou sob a camada de gelo e para determinar se há gelo ainda mais antigo presente, proporcionando datações das rochas sob o gelo. O potencial deste núcleo de gelo é imenso e oferece uma oportunidade sem precedentes para medir diretamente as condições atmosféricas durante o período crítico que ligou os ciclos glaciares modernos aos antigos.
Durante a transição do Meio Pleistoceno, que ocorreu entre 1,2 milhão e 900.000 anos atrás, os cientistas notaram um aumento na intensidade e na duração das eras do gelo, levando a um drástico resfriamento das temperaturas e condições climáticas secas. Na verdade, foi estimado que a população global de nossos ancestrais caiu para apenas cerca de 1.280 indivíduos reprodutivos durante um tempo, uma situação que os pesquisadores acreditam ter trazido esses ancestrais perto da extinção. No entanto, existem céticos em relação a essa teoria, a qual reforça a necessidade de mais dados para esclarecer as condições climáticas daquela época.
Explorando não apenas a icônica Antártica mas também a relação entre as camadas de gelo e os gases de efeito estufa, os cientistas acreditam que a análise deste núcleo poderá ajudar a prever como a Terra mudará no futuro ao responder a diferentes concentrações de gases de efeito estufa. O projeto Beyond EPICA, bem como outras associações internacionais, continuará a buscar gelo ainda mais antigo que possa revelar recordes climáticos ainda mais extensos. Cada pedaço desse núcleo representa não apenas história, mas uma chave para o futuro do nosso planeta.
Agora, que histórias e segredos antigos a equipe de pesquisa poderá descobrir desse fascinante núcleo de gelo? Quem dirá que a futura compreensão do nosso clima não possa estar literalmente congelada em camadas d’água e ar, esperando para ser desvendada pelos brilhantes cientistas que dedicam suas vidas à busca do conhecimento? É isso que faz a ciência ser tão cativante!