A complicada situação em Gaza continua a exigir atenção internacional. Os Emirados Árabes Unidos (EAU) estão em diálogo sobre a possibilidade de assumir um papel importante nos esforços de reconstrução pós-guerra na região, no entanto, condicionantes fundamentais ainda precisam ser atendidas, segundo um oficial dos EAU, em declaração à CNN. A crise em Gaza, acentuada pelos recentes conflitos, ressaltou a necessidade de soluções efetivas e envolvimento construtivo de nações do Oriente Médio, com os EAU tentando posicionar-se nesse cenário de importância crescente.
O Primeiro-Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, mencionado como defensor de cooperação regional, apontou os EAU, a Arábia Saudita e outros países como potenciais parceiros para ajudar a governar a região após a guerra. No entanto, os Emirados já manifestaram, em declarações anteriores, sua recusa em se envolver em qualquer plano que sirva “como cobertura para a presença israelense na Faixa de Gaza”. Este posicionamento revela a delicada interação entre diplomacia e os reais interesses estratégicos envolvidos, considerando a história e a situação política nas relações árabe-israelenses.
O oficial dos EAU destacou que, embora possam ter havido muitas conversas informais, as partes interessadas não alinharam suas propostas às pré-condições estabelecidas pelos EAU para uma eventual participação. Essa fala veio em resposta a uma reportagem da agência de notícias Reuters, que afirmava que conversas nos bastidores envolviam um possível arrangemento onde os EAU, os Estados Unidos e outras nações supervisionariam temporariamente a governança, segurança e reconstrução de Gaza após o conflito.
As preocupações levantadas pelos EAU em relação à sua participação na reconstrução de Gaza não são infundadas. Segundo o oficial, as pré-condições para o envolvimento incluem um convite formal de um novo primeiro-ministro da Autoridade Palestina (AP) que seja considerado “credível e independente”, além de um processo sério de reformas na AP, um compromisso explícito de Israel em relação à solução de dois Estados e um papel claro de liderança por parte dos Estados Unidos. Estas exigências refletem a vontade dos EAU de não apenas participar, mas de garantir que sua contribuição seja genuína e que enderece questões fundamentais de governança e legitimidade na região.
Historicamente, a AP enfrenta desafios significativos, especialmente no que tange à corrupção e à insatisfação popular, o que torna as reivindicações dos EAU ainda mais pertinentes. Um exemplo recente é a nomeação de Mohammed Mustafa como novo primeiro-ministro da AP, que sucedeu Mohammed Shtayyeh, que renunciou em fevereiro. As dificuldades políticas enfrentadas pela AP aumentam a pressão sobre os EAU para que ajam de maneira eficaz e responsabilizável, considerando a ineficácia do governo atual em trazer estabilidade e prosperidade ao povo palestino.
Além disso, foram relatadas rejeições públicas por parte de autoridades israelenses quanto à ideia de que a AP, baseada na Cisjordânia, possa ter qualquer papel na Gaza pós-conflito. Isso adiciona um nível extra de complexidade para qualquer entendimento sobre a governança futura da faixa de Gaza, onde as divisões internas palestinas entre Hamas e Fatah continuam a complicar a situação.
Ainda mais intrigante, relatos recentes sugeriram que oficiais dos EAU tinham proposto a utilização de contratados militares privados como parte de uma força de manutenção da paz em Gaza. Entretanto, o oficial dos EAU se apressou em refutar tal afirmação, insinuando que a solução para a paz precisa ser respaldada por ações mais substanciais e de longo prazo.
Os Emirados Árabes Unidos já normalizaram suas relações com Israel em um acordo de 2020 conhecido como Acordos de Abraão, o que torna sua posição atual ainda mais relevante, pois buscam equilibrar seus interesses entre a necessidade de estabilidade regional e a pressão por soluções permanentes para o conflito árabe-israelense. Embora as negociações continuem, o caminho a seguir ainda é nebuloso, e as implicações de uma possível atuação dos EAU em Gaza poderão moldar não apenas o futuro da região, mas também as dinâmicas de poder no Oriente Médio, que permanece agitado e repleto de incertezas.
Seja como for, o que está claro é que processos diplomáticos não são simples e vão além de conversas de corredor; eles requerem compromissos substanciais de todas as partes. A população de Gaza, marcada por anos de conflito, aguarda ansiosamente por um futuro que garanta paz e reconstrução, enquanto os líderes regionais devem navegar cuidadosamente por entre as águas turbulentas das relações internacionais e suas próprias agendas nacionais.
Imagem: O presidente dos EUA, Joe Biden, durante encontro na Casa Branca com o líder dos Emirados Árabes Unidos, Sheikh Mohamed bin Zayed al-Nahyan, em 23 de setembro de 2024. (Foto por Brendan Smialowski/AFP)
Com a intersecção de interesses institucionais e as vozes do povo palestino em jogo, continua a chave para a recuperação de Gaza residir em diálogos frutíferos que não apenas respeitem as condições regionais, mas também ofereçam um novo vigor à busca por paz e dignidade para todos os habitantes da faixa.