A luta pelo domínio tecnológico e militar marca a crescente tensão entre os Estados Unidos e a China, refletida em recentes medidas adotadas pelo Pentágono. Nesta quinta-feira, o Departamento de Defesa dos EUA incluiu as renomadas empresas chinesas Tencent, conhecida por sua plataforma de mídias sociais e jogos, e CATL, líder mundial na fabricação de baterias, em uma lista de empresas acusadas de colaborar com as Forças Armadas da China. Essa decisão levanta uma série de implicações não apenas para a reputação dessas empresas, mas também para o futuro de suas operações comerciais no cenário internacional.

Vale lembrar que a inclusão nesta lista não resulta em sanções imediatas, mas as consequências podem ser profundas, especialmente quando se considera a possibilidade de que a percepção pública sobre essas empresas venha a ser afetada. Afinal, a relação comercial entre as empresas de tecnologia e os Estados Unidos é uma faca de dois gumes; enquanto empresas como Tencent são altamente reconhecidas e respeitadas, a associação com atividades militares pode gerar receios entre investidores e consumidores. A resposta do mercado é rápida e evidente: as ações da Tencent caíram 6,5% em Hong Kong na última terça-feira, enquanto as da CATL, que fornece baterias para montadoras como a Tesla, registraram uma queda de mais de 3%. Isso demonstra que, mesmo sem sanções diretas, a menção na lista do Pentágono já está afetando o valor das ações dessas empresas e, consequentemente, seus negócios.

As alegações do governo dos EUA vêm à tona em um contexto mais amplo de rivalidade tecnológica entre Washington e Pequim. No início da semana, o Pentágono publicou um aviso no Registro Federal, reafirmando que a lista, conhecida como 1260H, é uma parte crítica dos esforços para destacar e combater a estratégia de “fusão militar-civil” da China. Essa estratégia ambiciona modernizar e integrar as capacidades militares e civis do país, uma meta que, de acordo com os especialistas, visa transformar a China em uma superpotência tecnológica e militar.

Em resposta às acusações, a Tencent classificou sua inclusão na lista como um “erro”, afirmando que não é uma empresa militar nem um fornecedor militar, e que tal listagem não irá impactar seus negócios. “Trabalharemos com o Departamento de Defesa para esclarecer qualquer mal-entendido”, disse um porta-voz da empresa. A CATL, enquanto isso, já está em contato com a mídia e analistas de mercado para oferecer explicações sobre sua posição e reafirmar seu comprometimento com práticas éticas empresariais.

Além de Tencent e CATL, a lista do Pentágono inclui dezenas de outras empresas que supostamente operam, direta ou indiretamente, nos Estados Unidos. O Departamento de Defesa tem se mostrado determinado em limitar a influência da China nas tecnologias emergentes, especialmente em setores como inteligência artificial e semicondutores, considerados crítica para a segurança nacional norte-americana. Recentemente, o governo Biden impôs controles de exportação sobre semicondutores fabricados nos EUA, com o objetivo de dificultar o acesso da China aos recursos tecnológicos necessários para desenvolver sistemas de armas de próxima geração e ferramentas de IA avançadas.

Na verdade, a integração do setor privado com a defesa chinesa tem sido uma prioridade desde que Xi Jinping assumiu o poder, em 2012. O líder chinês tem promovido reformas que visam a modernização das forças armadas e a melhoria na colaboração entre os setores civil e militar. Essa fusão de interesses começou a ser amplamente promovida desde 2014 como estratégia nacional, como parte da visão de Xi para fazer da China um superpoder econômico, tecnológico e militar.

Chegamos a um ponto em que as tensões se intensificam a cada nova medida, tanto de um lado quanto do outro. Nos últimos dias, a China anunciou planos para restringir a exportação de tecnologia essencial para a extração de minerais utilizados na crescente indústria de veículos elétricos (VE). Essa movimentação demonstra que a batalha por recursos e tecnologia acabou de ser reacendida, num ciclo que parece não ter fim à vista. À medida que a competição avança, tanto os EUA quanto a China buscam maneiras de proteger seus interesses e garantir sua supremacia no cenário global.

À medida que essa situação evolui, é evidente que as tensões entre os dois países apenas intensificarão a corrida pela inovação tecnológica. Resta saber como as empresas afetadas reagirão a longo prazo. Enquanto alguns se preparam para um futuro incerto, outros podem encontrar novas oportunidades em um mercado que está em constante mudança. A única certeza é que, nesta nova era de rivalidade global, a tecnologia se tornou não apenas um setor econômico, mas uma linha de frente estratégica que pode definir o equilíbrio de poder nas próximas décadas.

CATL é a principal fabricante de baterias automotivas do mundo.

Fonte: CNN, com contribuições de Hassan Tayir.

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