Ser Baffo/Netflix; Tayfun Coskun/Anadolu/Getty Images
No verão de 2023, Ian Orefice deixou o cargo de presidente da Time Studios para lançar sua própria iniciativa: a EverWonder Studio.
A produtora conta com o apoio de Jeff Zucker e do RedBird IMI, mas foi um grande risco: em um momento em que parecia que todas as redes e serviços de streaming estavam reduzindo os gastos com conteúdo, como seria o mercado para um novo entrante?
“Acabamos de lançar, e eu estava sentado no escritório”, recorda Orefice sobre aquelas primeiras semanas. “Era eu e literalmente mais uma pessoa, e eu havia passado de uma empresa muito grande e de um ecossistema enorme para eu e mais uma pessoa, pensando: ‘Temos muitos bons blocos de construção, mas como vamos realmente fazer isso acontecer? Quanto tempo isso vai levar?’”
Um pouco mais de um ano depois, e a empresa de Orefice se encontra na interseção de alguns dos maiores momentos da cultura pop do ano. A EverWonder produziu a luta blockbuster entre Jake Paul e Mike Tyson na Netflix, que quebrou recordes de audiência em streaming, e foi responsável pela produção dos jogos da NFL no Dia de Natal da Netflix. Além disso, produziu o Crypto.com Showdown, uma partida de golfe que foi veiculada nos canais a cabo da Warner Bros. Discovery e no serviço de streaming Max, e criou o Players Era Festival, focado em esportes universitários, que estreou nas redes da WBD em novembro.
Ao longo do caminho, a produtora também estabeleceu uma docuserie sobre Tyson para a Netflix, produziu a roast de Ano Novo Torching 2024 da gigante de streaming e anunciou planos para várias outras séries de documentários e filmes focados em Chris Evert-Martina Navratilova, paródias presidenciais e Diana, a princesa de Gales.
“Ian e a equipe construíram um estúdio de peso-pesado em tempo recorde”, diz Zucker. “Em apenas um ano, a EverWonder se estabeleceu como uma das principais produtoras de programação de não-ficção premium, bem como de eventos ao vivo. Sua criatividade e versatilidade rapidamente os estabeleceram como um parceiro de confiança em toda a indústria.”
“Sinto-me realmente surpreso e sortudo”, acrescenta Orefice. “É um momento surreal ter tudo isso acontecendo quase um ano depois do dia em que eu estava sentado em uma sala de conferências vazia me perguntando quanto tempo essa jornada levaria.”
No entanto, esse sucesso só veio após uma rápida mudança de curso. A proposta original da EverWonder estava centrada em features de não-ficção, documentários e séries, além de desenvolver novas IP (como o Players Era) que poderiam ser exploradas em várias plataformas. Mas não há dúvida de que sua aposta na produção de eventos ao vivo, impulsionada, em boa parte, pela contratação de Michael Antinoro como presidente no ano passado, mudou a trajetória da empresa.
“Eventos ao vivo estão se tornando um foco muito maior da empresa do que nós inicialmente concebemos”, diz Orefice, destacando a lista de produções que a EverWonder realizou no último ano. “Quando falamos pela primeira vez em 2023, eu não teria lhe dito que faríamos quase 20 grandes eventos e projetos globais este ano. Então, estamos realmente entusiasmados com essa mudança e nossa capacidade de estar onde a indústria está se direcionando”.
Para entender essa mudança de estratégia, Orefice explica que sua empresa estava respondendo à demanda de redes e serviços de streaming. “Acho que todos os distribuidores, todas as redes, estão buscando agregar valor ao cliente e ao anunciante dentro de seus ecossistemas”, diz ele. “Compare o custo da luta Tyson-Paul para a Netflix com o custo de um projeto roteirizado de alto nível. Portanto, vejo que ainda há muito valor que os streamers e distribuidores reconhecem em eventos ao vivo.”
Essa não é a única mudança realizada pela EverWonder. As ambições da companhia quanto ao IP são evidentes com o projeto Players Era, que combina atletismo universitário com oportunidades de NIL (nome, imagem, semelhança) para os atletas. “Estamos muito gratos que a RedBird IMI e Jeff Zucker nos apoiaram da maneira que fizeram, mas obviamente não temos capital ilimitado”, diz Orefice. “Portanto, quando escolhemos investir em um projeto, não se trata de saber se esse projeto vai vender ou não. É sobre saber o que mais podemos fazer com isso uma vez que estiver no mundo.”
Orefice acredita que existe um potencial ilimitado para o que agora podem fazer com Players Era. “Podemos criar um podcast para Players Era? Podemos criar outras séries de documentários para Players Era? Podemos criar uma linha de roupas? Já lançamos uma extensão feminina para Players Era. Vamos anunciar uma série de eventos globais também.”
E a EverWonder continua a investir no espaço de documentários, com a série sobre Tyson na Netflix (na qual Tyson vai participar) e o documentário sobre Navratilova-Evert, para o qual Orefice destaca que a empresa também possui os direitos de roteiro.
“Acredito que documentários no espaço esportivo que vão ter sucesso serão essas histórias grandes, importantes e inescapáveis. Acho que as histórias que são um pouco menores vão ter mais dificuldade em prosperar neste mercado do que tinham alguns anos atrás”, diz ele. “Estamos tentando usar narrativas baseadas na verdade que são divertidas e impactantes em todo o mundo para serem a gênese de novas IPs.”
Outra grande mudança da empresa foi sua função como estúdio em vez de incubadora. Embora a EverWonder tenha sido lançada como um estúdio dentro do portfólio da RedBird IMI, agora está construindo um portfólio de investimentos próprios.
No ano passado, a empresa anunciou uma parceria com o analista do NBA on TNT, Charles Barkley, para lançar a Round Mound Media, que tem uma agenda de cerca de uma dúzia de projetos em andamento, incluindo um documentário sobre a vida de Barkley. Além disso, investiu na Next of Kin Content, a bandeira de produção do diretor do filme Era’s Tour, Sam Wrench; também assinou um contrato de primeira opção com a BZ Entertainment, especializada em entretenimento ao vivo.
“Temos um histórico muito bem-sucedido e comprovado de construção de IP, marcas e empresas, e estamos tentando trazer esse modelo para pessoas como Sam e como Charles Barkley, para que eles não tenham que fazer isso sozinhos, possam contar com um parceiro de confiança que possua o ecossistema e a infraestrutura”, diz Orefice. “Jeff Zucker… toda a sua carreira foi voltada para construção de marcas. A minha carreira na Time e depois na Sports Illustrated antes disso também foi sobre construção de marcas. Portanto, estamos realmente entusiasmados pelo fato de que muitos dos melhores criadores do mundo estão olhando para a EverWonder novamente, não simplesmente para fazer um projeto juntos, mas para construir um lar juntos, e que isso nos dá muito orgulho e otimismo quanto ao futuro.”
E 2025 verá a empresa reforçar essa estratégia. Orefice afirma que a EverWonder está pronta para realizar alguns movimentos de fusões e aquisições neste ano, incluindo em áreas mais novas como podcasting e conferências.
“Acredito que IP só vale alguma coisa se as pessoas se importarem e algumas das melhores maneiras de fazer as pessoas se importarem é ter uma relação mais íntima”, diz Orefice. “Portanto, se você olhar para as interações que as pessoas têm com alguns dos podcasts mais bem-sucedidos que existem atualmente, elas têm uma conexão real com os anfitriões, os convidados e os temas. Portanto, isso, por si só, gera um grande valor em IP. Se você pensar nas conexões que as pessoas fazem em conferências e eventos ao vivo ao redor do mundo, elas têm uma experiência realmente personalizada e íntima. Portanto, acredito que vamos continuar a aprofundar em maneiras que possamos achar valiosos, maneiras de criar IP resultante.”
Essa é uma estratégia que a EverWonder irá executar em um momento delicado para o entretenimento, onde orçamentos de televisão e streaming estão planos ou em declínio. Mas Orefice e sua equipe se concentraram nas áreas que ainda estão crescendo e estão apostando que os riscos que estão tomando podem se tornar maiores do que a soma de suas partes, uma vez que a demanda por novas IPs, particularmente aquelas ligadas ao esporte, continua forte.
E em vez de construir algo dentro de uma marca legada como SI ou Time, Orefice e Zucker estão construindo algo próprio.
“Ouço muitas pessoas falando sobre os desafios da indústria e a potencial contração do setor. Nunca fui tão otimista e confiante na indústria”, afirma Orefice. “Acho que uma grande criatividade sempre prevalecerá, e modelos de negócios inovadores agora têm um espaço melhor para que os produtores tenham sucesso do que nunca tiveram antes. Portanto, certamente há desafios, mas eu também penso que para os projetos certos, com os modelos corretos, nunca houve um momento mais emocionante para ser um produtor.”
