O exército israelense deu um passo significativo para a inclusão da comunidade ultraortodoxa em suas fileiras, ao aceitar um grupo de cerca de 50 recrutas. Esta decisão ocorreu após uma mudança polêmica em relação às isenções que tradicionalmente beneficiavam este segmento da população desde a fundação do Estado de Israel em 1948.
De acordo com as Forças de Defesa de Israel (IDF), até o final do dia de ontem, aproximadamente 100 recrutas adicionais da comunidade Haredi deverão ser convocados para o serviço de reserva. O comunicado das IDF destacou que “as duas companhias recrutadas hoje marcam o passo inicial na criação da brigada ultraortodoxa, um marco significativo na ampliação do serviço deste setor dentro do exército israelense, especialmente em resposta às necessidades operacionais geradas pela atual guerra”.
No contexto de um ano de intensos conflitos, que inclui confrontos com grupos como o Hamas e o Hezbollah, a decisão de integrar os ultraortodoxos visa suprir as crescentes demandas de efetivo militar. A situação de emergência causada por esses conflitos tem pressionado a capacidade das forças armadas israelenses, levando-as a buscar maneiras de ampliar seu contingente.
Uma reviravolta crucial ocorreu em junho deste ano, quando o Supremo Tribunal de Israel decidiu que os ultraortodoxos não poderiam mais ser isentos do serviço militar, não obstante a resistência de muitos dentro da comunidade. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que conta com o apoio dos partidos ultraortodoxos em sua coalizão, enfrenta um dilema político, pois a implementação dessa decisão é criticada por grande parte dessa base de apoio. Muitas vozes dentro da comunidade expressaram sua insatisfação, manifestando-se em protestos contra a convocação e até mesmo desobedecendo a ordens de alistamento.
A situação se agravou em novembro, quando foram emitidos mais de 1.100 mandados de prisão para aqueles que não atenderam à ordem de alistamento. Essa situação revela a ampla resistência entre os ultraortodoxos em relação a essa mudança, já que a maioria deles evita participar do serviço militar obrigatório, dedicando-se geralmente ao estudo em escolas religiosas conhecidas como yeshivas. Ali, acreditam que seu foco na educação religiosa é tão vital para a defesa de Israel quanto o serviço militar em si.
Embora a maioria no país opine que todos os cidadãos judeus devem servir ao exército, especialmente em tempos de guerra, a decisão de integrar os ultraortodoxos nas IDF é complexa e controversa. Muitos israelenses veem esta inclusão como um passo necessário para garantir uma defesa mais coesa e unificada do país em tempos de crise.
As IDF anunciaram a intenção de continuar recrutando mais recrutas ao longo do mês para se unirem aos que já estão em treinamento básico. A preparação para a criação da brigada ultraortodoxa envolveu um processo abrangente que incluiu identificação e treinamento de pessoal, adaptação de políticas, além da renovação da base de treinamento, de modo a acomodar o estilo de vida característico dos ultraortodoxos.
À medida que o exército israelense se adapta a novas realidades e pressões, a inclusão dos ultraortodoxos talvez seja uma das mudanças mais intrigantes e debatidas na sociedade israelense contemporânea. A transformação dessa política poderá não apenas alterar a dinâmica do serviço militar em Israel, mas também redefinir a interação entre o Estado e uma das comunidades mais tradicionais do país.
Ultraortodoxos protestam contra convocação militar em 16 de julho de 2024, em Bnei Brak, Israel. Itai Ron/Middle East Images/AFP/Getty Images