No último sábado, o exército sudanês anunciou sua entrada na cidade central de Wad Madani, um marco significativo em sua luta contra as Forças de Apoio Rápido (RSF), que controlavam a região há mais de um ano. A captura de Wad Madani, capital do estado de El Gezira e conhecido como um importante centro agrícola e comercial, poderia representar uma das maiores conquistas do exército desde o início do conflito, que se intensificou ao longo dos últimos dois anos, culminando em uma guerra devastadora que eclodiu em abril de 2023.
O exército compartilhou um vídeo mostrando suas tropas dentro da cidade, que foi tomada pelos RSF em dezembro de 2023. A retoma do controle de El Gezira pode se transformar em um ponto de virada no conflito, conforme as hostilidades entre as forças armadas e os paramilitares aumentam em meio a uma crise humanitária emergente que já deslocou mais de 12 milhões de pessoas e deixou metade da população sudanesa enfrentando fome e insegurança alimentar.
A liderança do exército expressou seu apoio ao povo sudanês através de um comunicado, celebrando a entrada das forças em Wad Madani e afirmando que agora estão empenhadas em eliminar os últimos focos de resistência rebelde na cidade. Este avanço representa não apenas uma conquista militar significativa, mas também um esforço para recuperar áreas que sofreram com a violência incessante, como os ataques sangrentos a civis perpetrados pelos RSF, que incluem saque e destruição de colheitas, além de saques a hospitais e mercados.
O estado de El Gezira, localizado no centro do Sudão e ao sul da capital Khartoum, tem sido um dos cenários mais violentos, marcado por ataques diretos aos civis. Essa situação é alarmante especialmente em um dos principais centros agrícolas do país, uma área que corre um risco real de fome devido aos bloqueios resultantes do conflito. Os mais vulneráveis da população são aqueles que enfrentam dificuldades extremas em obter alimentos e assistência humanitária, uma realidade ainda mais angustiante em um país que já lutava contra crises alimentares antes da guerra.
O exército sudanês intensificou sua campanha nas últimas semanas para recuperar o controle de El Gezira, especialmente após a retoma do estado de Sennar ao sul do país, uma iniciativa que incluiu um aumento nos ataques aéreos, os quais frequentemente têm como alvo áreas civis. Essa estratégia, embora voltada para desestabilizar os paramilitares dos RSF, gera crítica internacional devido ao alto custo humano e à deterioração das condições de vida para a população civil.
No entanto, a dinâmica do conflito pode também mudar rapidamente. O principal comandante das RSF na região desertou para o exército em outubro, e seus homens estiveram envolvidos nas operações do último sábado, embora as RSF tenham respondido com uma série de ataques retaliatórios. Além disso, o exército continuou suas operações na área de Bahri, parte da grande capital, onde também progrediu nas últimas semanas, refletindo uma batalha prolongada pela supremacia militar no Sudão, onde o controle da cidade de al-Fashir, o último reduto da RSF na região de Darfur, e o estado do Nilo Branco, ao sul, são disputados pelas duas forças.
A comunidade internacional continua a observar de perto os eventos no Sudão, enquanto as consequências humanitárias e sociais da guerra se desenrolam. A recuperação de Wad Madani pode não apenas ser revogada pelos RSF, mas também representar um ponto de inflexão que poderia determinar a continuidade do conflito e a situação de milhões de sudaneses que já estão enfrentando condições de vida precárias. Com as negociações de paz ainda incertas, a necessidade de uma solução duradoura continua a ser uma prioridade imperativa para o futuro do Sudão.