A relação entre os primos de temperamentos opostos, interpretados por Jesse Eisenberg e Kieran Culkin no filme A Real Pain, é cuidadosamente equilibrada pela trilha sonora simples, porém sofisticada, que consiste quase inteiramente em peças para piano do compositor polonês Frédéric Chopin — uma escolha intencional de Eisenberg, que também escreveu e dirigiu o filme.

Enquanto desenvolvia o roteiro de A Real Pain, Eisenberg focou na relação engraçada e tensa entre os protagonistas que tentam reconectar-se com seu passado familiar. “Em muitos aspectos, eles se tornam crianças um ao redor do outro”, diz Eisenberg sobre seu drama sobre a história do Holocausto. “Queria que o tom do filme, de maneira específica, não fosse juvenil. Queria que o tom fosse um comentário sobre esses personagens caindo em velhos padrões em meio a um histórico de trauma. Desejava que o filme tivesse uma aparência e sensação tradicional, sofisticada e madura.”

Ao escolher Chopin, que ficou famoso por suas composições profundas e emotivas, Eisenberg procurou evocar uma conexão emocional que refletisse a complexidade das interações entre os personagens. “Eu estava ouvindo todas essas peças e muitas vezes elas me inspiravam sobre como a cena deveria ser”, acrescenta Eisenberg. “Estou sentado na biblioteca escrevendo e elas estão tocando em loop na minha mente, e eu as tocava enquanto colocava meu filho para dormir e me preparava pela manhã, porque estou tentando me colocar no espírito daquela emoção.”

Além de moldar o conteúdo narrativo, Eisenberg também deixou a musicalidade da obra influenciar a filmagem das cenas. Em uma das sequências em que os primos estão na pequena cidade de onde a família vem, ele tocou a faixa que escolheu para a cena para o operador da dolly, de modo que este empurrasse a câmera em sincronia com o ritmo de um noturno de Chopin.

A jornada de Eisenberg com a música de Chopin começou em 2008, quando ele visitou a Polônia, buscando entender as raízes de sua família. Ele visitou a casa de Chopin em Zelazowa Wola e, após retornar, escreveu uma peça de teatro chamada The Revisionist, onde utilizou a música de Chopin. Uma década depois, esse mesmo material musical voltou a ser utilizado neste novo projeto, A Real Pain, mesmo que a música em questão, interpretada por Tzvi Erez, não seja elegível para o Oscar, pois não se trata de uma trilha sonora original.

Durante a edição do filme, alguns produtores expressaram preocupações sobre a acessibilidade da obra para o público jovem, incentivando Eisenberg a explorar músicas mais populares para a trilha sonora. No entanto, sua defesa foi sempre a mesma: “Isso estava no roteiro. Todos concordamos com isso, então por que mudar agora? Vamos correr esse risco. A música não é avassaladora. Não é de forma alguma chocante. Vamos nos comprometer com o que é.”

No entanto, há uma exceção na trilha: uma versão da música “My Conversation”, de Slim Smith, que Benji (interpretado por Culkin) escuta no chuveiro. Esta canção também toca durante os créditos finais. “Meu editor, Rob Nassau, que é ótimo, sentiu que o filme poderia usar um pouco de leveza nesse momento”, diz Eisenberg referindo-se aos créditos. “Em retrospectiva, eu provavelmente teria mantido isso com Chopin.”

Esta história apareceu pela primeira vez em uma edição independente de janeiro da revista The Hollywood Reporter. Para receber a revista, clique aqui para se inscrever.

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