Islamabad, Paquistão (Reuters) — Em uma poderosa mobilização em prol dos direitos das mulheres, a vencedora do Prêmio Nobel da Paz, Malala Yousafzai, convocou líderes muçulmanos durante um cúpula dedicada à educação feminina a reforçar suas vozes contra o que ela descreveu como um grave disparate de gênero que persiste no mundo muçulmano, especialmente no Afeganistão sob o regime do Talibã. A declaração veio em um momento crucial, onde Yousafzai instou os dignitários muçulmanos a se unirem em uma frente comum para criminalizar oficialmente práticas que consideram o apartheid de gênero uma violação dos direitos humanos.
O cúpula, que ocorreu em sua terra natal, o Paquistão, reuniu líderes internacionais e estudiosos que discutiram o papel crucial da educação na vida das meninas muçulmanas. Yousafzai enfatizou a necessidade urgente de uma estrutura de apoio e um pronunciamento mais assertivo contra as políticas opressivas do Talibã, que impediu meninas adolescentes de frequentar escolas e mulheres de acessar universidades. “É inaceitável que em pleno século XXI, um regime impeça uma geração inteira de meninas de ter acesso ao conhecimento e ao futuro”, declarou, deixando claro que a voz dos líderes muçulmanos é essencial em tal luta.
Yousafzai não hesitou em alertar que se nada for feito, “uma geração inteira de meninas no Afeganistão será privada de seus direitos e de sua educação.” Ela instou os líderes presentes a não apenas repercutirem as vozes das meninas, mas também a se posicionarem ativamente contra sistemas que perpetuam a desigualdade e a opressão. Essa chamada à ação visa não apenas a indignação, mas a criação de políticas concretas que possam efetivamente mudar o panorama atual.
O regime do Talibã, por sua vez, defende sua postura em relação aos direitos das mulheres com a alegação de respeitar suas prerrogativas de acordo com uma interpretação própria da cultura afegã e da lei islâmica. Entretanto, representantes do Talibã não comentaram imediatamente sobre os apelos feitos por Yousafzai, evidenciando a falta de diálogo e a resistência em debater questões que envolvem os direitos das mulheres em um contexto que deveria ser de igualdade e respeito.
Desde a tomada do poder pelo Talibã em 2021, nenhum governo estrangeiro reconheceu formalmente o regime, e muitos diplomatas indicam que o reconhecimento internacional demandará mudanças significativas nas políticas de direitos das mulheres. É um ponto crucial que precisa ser abordado em fóruns internacionais, onde a injustiça social deve ser um assunto prioritário.
Malala Yousafzai, uma figura emblemática nas questões de direitos das meninas, conhece de perto o impacto da opressão. Quando tinha apenas 15 anos, ela sobreviveu a um ataque armado no Paquistão, onde um militante tentou calá-la por sua luta em defesa da educação. Hoje, suas palavras reverberam em um chamado à ação global para que mais mulheres e meninas tenham acesso à educação sem discriminação.
O evento também contou com a presença da Organização da Cooperação Islâmica (OIC) e da Liga dos Estados Muçulmanos, com a participação de dezenas de ministros e acadêmicos de países de maioria muçulmana. As declarações de Yousafzai foram focadas em um pedido para que os estudiosos e líderes políticos se unam em um esforço ativo para denunciar abertamente as leis opressoras do Talibã e para apoiar a inclusão do apartheid de gênero como um crime contra a humanidade no direito penal internacional.
O cúpula foi realizado em um contexto delicado, já que o Paquistão, que hospeda o evento, mantém relações complicadas com o Talibã afegão, visto as recentes acusações de que militantes afegãos têm usado solo do Afeganistão para lançar ataques em território paquistanês. O Talibã nega veementemente tais alegações, mas a tensão entre os países continua a afetar a política regional e a segurança.