[Esta história contém spoilers do episódio final de Get Millie Black.]

O primeiro contato do autor vencedor do Prêmio Booker, Marlon James, com a televisão é através da aclamada série Get Millie Black, desenvolvida pela Motive Pictures para a HBO e Channel 4 no Reino Unido. Situada na terra natal de James, a Jamaica, a trama segue Tamara Lawrance no papel de Millie Black, uma ex-detective da Scotland Yard que retorna à sua terra natal, atormentada por um passado marcado por sua incapacidade de proteger seu irmão em um ambiente carregado de homofobia. Este espectro a impulsiona a arriscar tudo — sua vida, carreira e relacionamentos — para tentar salvar um menino jamaicano, Romeo, que está em situação de tráfico infantil no Reino Unido.

A narrativa se desdobra em cinco episódios, cada um sendo narrado por um dos personagens principais, incluindo Millie, Hibiscus, Holborn, Janet e Curtis. O episódio final, divulgado em dezembro, é contado por Curtis, que explora sua amizade complicada com Millie e sua vida secreta com seu parceiro, Daniel. A complexidade da vida de Curtis, que se passa em um contexto de opressão social e homofobia, ecoa diretamente com as experiências de James enquanto homem queer na Jamaica.

Além do talento individual de James, é notável que ele e sua equipe buscam criar um discurso profundo sobre a masculinidade, a colonialidade e a homofobia no contexto caribenho. James enfatiza que a masculinidade é um tema volátil e perigoso, especialmente em espaços culturais como a Jamaica e México. No entanto, a série não apenas dialoga sobre masculinidade, mas também evoca as realidades sociais e econômicas que muitos enfrentam na Jamaica. A dificuldade de muitos jamaicanos, inclusive a jovem personagem Janet, de enxergar o colonialismo como uma força prejudicial enfatiza a necessidade de uma narrativa mais amplamente discutida e representada.

Durante a conversa, James se mostrou satisfeito com o impacto que sua série está fazendo, especialmente entre os jamaicanos, muitos dos quais expressaram entusiasmo ao ver rostos conhecidos e questões sociais representadas de maneira cuidadosa e sensível. O fato de James, que sempre focou em histórias em forma de romance, ter se aventurado com uma narrativa tão poderosa e impactante na televisão é admirável e representa um avanço significativo. O diálogo aberto sobre questões difíceis e o uso de um elenco predominantemente negro para discutir esses temas complexos em um contexto recorde torna Get Millie Black uma preocupação não apenas para a Jamaica, mas também para a audiência global.

James destaca a importância de mostrar que existem diferentes tipos de histórias na Jamaica. Ele espera que o público veja que, embora os desafios sejam reais, eles são complexos, e deseja que seus personagens sejam memoráveis e que o público deseje acompanhar a evolução de suas histórias. Muitos fãs se perguntam se haverá uma segunda temporada, uma vez que muitas narrativas deixadas em aberto aguardam resolução. James expressa o desejo de continuar a explorar as vidas de Millie e seus amigos, especialmente agora que sua personagem voltou a um lar mais solitário do que nunca.

Assim, à medida que a conversa avança sobre a possível continuação da série, fica evidente que Get Millie Black conseguiu tocar em temas que estão profundamente enraizados na sociedade, desafiando a norma e incitando discussões necessárias sobre identidade, colonialismo e a luta por um futuro melhor. “O que vai acontecer agora?”, pergunta James, insinuando a necessidade urgente de um fechamento para o relacionamento complexo que Millie desenvolveu com seus irmãos e os desafios pela frente.

Tamara Lawrance em Get Millie Black.

Imagem destacando Tamara Lawrance em ‘Get Millie Black.’ HBO

Todos os episódios de Get Millie Black estão agora disponíveis para streaming na plataforma Max.

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