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Ao longo da história da moda, diversas correntes e movimentos estéticos se destacaram, mas poucos são tão polarizadores quanto a tendência maximalista que, após um período de reflexão e sobriedade influenciado pelo minimalismo, parece estar pronta para um retorno triunfante. A famosa estilista Coco Chanel, não se sabe ao certo se em uma frase apócrifa, sempre abominou a ideia de estar excessivamente vestida, sugerindo que, antes de sair de casa, devemos retirar uma peça do vestuário. Essa filosofia minimalista tem sido o norte de muitas casas de moda, defendendo a elegância dos tons neutros e silhuetas simples, como foi evidenciado no trabalho de ícones da moda como Issey Miyake e Hermès.

No entanto, recentementes desfiles de renomados estilistas como Valentino, Prada e Ashish sugerem um renascimento do maximalismo, um estilo que remonta a Roma do século XVII. Esse movimento aparece em um contexto econômico que propicia seu ressurgimento, pois as tendências maximalistas frequentemente emergem em tempos de dificuldades econômicas e crises, como a que muitos países enfrentam na esteira da pandemia de Covid-19.

Alessandro Michele's first collection as creative director of Valentino in September 2024 was maximalist's dream, with clashing patterns, textiles and overloaded accessories.

Em uma entrevista à CNN, Melissa Marra-Alvarez, curadora da exposição “Minimalismo/Maximalismo” no Fashion Institute of Technology de Nova York em 2019, compartilhou a ideia de que os ciclos de mudança na moda refletem as tensões sociais e políticas que permeiam a sociedade. “Em termos amplos, ao olharmos para a história da moda, percebemos períodos alternados de estéticas minimalistas e maximalistas. É essa alternância que impulsiona a evolução da moda”. Essa troca se torna, assim, uma resposta às mudanças e desafios do ambiente em que estamos inseridos.

O maximalismo atual, acentuado pelas redes sociais, se apresenta de forma ainda mais extravagante e teatral. Esse estilo abordado sob uma nova perspectiva alcança um público inexplorado, um novo grupo demográfico que talvez não tenha vivenciado as direções anteriores desse movimento. Vale isso ressaltar, pois a moda está em constante evolução e experimentação, e isso é especialmente verdadeiro para a nova geração de criadores e consumidores.

Jaclyn posts videos of her building maximalist outfits on TikTok under the name @llolfashiondump.

Jaclyn, uma influenciadora do TikTok, possui uma abordagem maximalista que traduz sua criatividade em cada look que cria. Em uma conversa com a CNN, ela descreveu essa tendência como um meio de se tornar “um santuário ambulante de sua arte”, ilustrando como suas vestimentas abarcam uma expressão artística. Seus vídeos de “get dressed with me”, que atraem em média 200 mil visualizações e podem até alcançar até 4 milhões, revelam sua habilidade em reinventar peças de vestuário, como usar suéteres ao contrário ou combinar uma infinidade de acessórios de forma divertida e criativa. Embora às vezes essa abordagem possa parecer trabalhosa e exija técnicas específicas de costura, ela afirma que isso faz parte da diversão.

Outra figura de destaque nesse espaço maximalista no TikTok é Myra Magdalen, que também participou de uma entrevista remota com a CNN, vestindo uma blusa com a imagem de um cortador de unhas. Assim como Jaclyn, Myra encontrou algumas dificuldades em incorporar acessórios mais pesados no vestuário, fazendo uso regular de itens como luminárias de golfinho, por exemplo. “Múltiplos pontos de ancoragem”, explicou Myra, para impedir que os acessórios indesejados se soltem. Essa relação inovadora com a moda revela a versatilidade e o engajamento emocional que muitos criadores de conteúdo têm com suas escolhas estéticas.

Tanto Jaclyn quanto Myra compartilham uma paixão por experimentar peças extravagantes, como unhas longas e fones de ouvido decorativos. Para aqueles que desejam explorar o maximalismo, a estilista Kristine Kilty sugere começar com uma peça chamativa encontrada em brechós e utilizar a paleta de cores dela para informar o restante do look. Ela menciona também que encontrar fotos inspiradoras em mídias sociais pode ajudar a combater a ansiedade que pode surgir em peças de moda mais experimentais e complexas. A principal lição aqui é que “mais é mais”, como ela ressaltou.

“Você não pode errar. A questão não é que a roupa não esteja funcionando, mas sim que você ainda não a completou”, afirmou Kilty, oferecendo uma perspectiva encorajadora a novices que sentem-se intimidantes com essa tendência de moda.

O estilo incomum de Myra são frequentemente temáticos e ela regularmente usa itens domésticos como acessórios de moda.

A curadoria de seus guarda-roupas, tanto para Myra quanto para Jaclyn, é fortemente influenciada pelas roupas de segunda mão, que elas buscam não só em brechós, mas também em plataformas online como Depop e Vinted. As ferramentas digitais se adaptaram perfeitamente a seus gostos únicos, ajudando Myra a encontrar peças como um casaco em forma de teclado. Nos vídeos de estilo que compartilha, Myra frequentemente escolhe um item de destaque, como uma bolsa de pato feita por si mesma, e adiciona uma infinidade de acessórios combinando, incluindo uma saia com estampa de patos, um colar com o tema de pato e unhas postiços que são miniaturas de patos.

A criatividade de Myra e Jaclyn é bem recebida não apenas nas redes sociais, mas também no mundo real. Elas reconhecem a importância de se vestir de forma mais casual quando necessário, mas desfrutam do espetáculo que proporciona estar vestidos de forma arrojada em público.

“É uma sensação tão positiva ter confiança naquilo que você faz”, disse Jaclyn, que admite que suas roupas maximalistas inicialmente atuaram como uma máscara que encobria suas inseguranças relacionadas à psoríase — as roupas incomuns desfocavam as razões para olhares curiosos nas ruas. Segundo ela, “isso irradia para muitos outros aspectos da sua vida”. A abordagem única de Myra para a moda também se tornou inspiradora para seu grupo de amigos, que, por sua vez, se tornaram mais experimentais em suas escolhas sartoriais.

Kristine Kilty acredita fervorosamente que as pessoas devemos usar a moda para inspirar confiança e criatividade. “A moda pode ser uma armadura ou um disfarce”, disse ela. “Mas, em última análise, é sobre o que você se sente confortável”. As escolhas costumeiras de moda diferem entre silhuetas elegantes em tons neutros ou as ousadas combinações de cores e padrões. Se a última opção se alinha com você, seu conselho é: “vá realmente ao extremo — não se segure”.

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