Na temporada de prêmios deste ano, Flow, uma obra-prima da animação letã e aclamada pela crítica, está provocando ondas de emoção no cenário cinematográfico global. Não apenas por sua narrativa envolvente e universal, mas também por seus feitos notáveis em meio a grandes produções de Hollywood como Inside Out 2, Moana 2 e The Wild Robot. Este filme independente, que gira em torno das aventuras de um gato tentando sobreviver a uma enchente fantástica, provou ser uma força a ser reconhecida, sendo indicado para o National Board of Review Award e, posteriormente, para o prestigioso Oscar de Melhor Filme Internacional.
Segundo Gints Zilbalodis, diretor e co-roteirista de Flow, a recepção do filme nas festivais e sua distribuição é uma conquista sem precedentes para a Letônia. “Nenhum filme letão alcançou essa quantidade de reconhecimento em festivais ou distribuição”, revela Zilbalodis em uma conversa com a publicação PEOPLE. Assim, o orgulho da nação aparece evidente à medida que a obra se destaca na corrida por prêmios, um revés impressionante para a indústria de animação global.
Flow, com sua estética visual deslumbrante e ausência de diálogos, apresenta um conto onde as criaturas enfrentam um apocalipse de forma coesa e emocionante. O filme se destaca da variedade habitual de animações repletas de diálogos, adotando uma abordagem quase documentarista, que coloca em foco os comportamentos e a linguagem corporal dos personagens. Essa escolha ousada resulta em uma experiência cinematográfica que ressoa em diversos públicos, uma vez que o diretor acredita que a ausência de palavras torna a história mais acessível: “Como não há diálogos, isso torna o filme mais universal”, afirma Zilbalodis, que considerou essencial a construção de um filme que transcende barreiras culturais.
O desenvolvimento do roteiro foi uma jornada pessoal para Zilbalodis, já que seu filme anterior, Away, explorava a relação de um gato com a água. “Queria contar uma história sobre como estou aprendendo a colaborar e confiar nos outros”, explica o diretor. Para isso, ele decidiu manter um gato como protagonista, enriquecendo a narrativa com a inclusão de novos amigos, como um retriever atrapalhado, uma capivara determinada e um astuto lêmur, entre outros. A coleta de diversas experiências através das lentes do gato foi uma intenção clara de Zilbalodis, que afirma que “filmes são mais como música, onde a emoção predomina sobre a necessidade de clareza”.
A impressionante trajetória de Flow começou quando o filme foi selecionado para o Festival de Cannes de 2024, um evento notório por sua falta de inscrições de animação. “Depois disso, tudo começou a se intensificar”, destaca Zilbalodis. O fato de um filme letão concorrer em uma categoria repleta de gigantes do setor, como Disney e DreamWorks, enfatiza que há espaço para todos os tipos de produções. “Estou muito feliz por esses filmes independentes estarem sendo abordados”, celebra o diretor. Porém, ele reconhece a dificuldade dessa competição: “É um desafio competir com esses grandes estúdios, mas é uma experiência verdadeiramente emocionante”.
À medida que Zilbalodis se prepara para os prêmios Golden Globe, Critics Choice e Spirit Awards, ele sente que o sucesso de Flow está além do seu controle. “Com a animação, você pode controlar tudo, criar mundos e expressões, mas após a finalização, você está à mercê do que vem a seguir”, reflete o diretor. O filme Flow, que está em cartaz, é um convite para o público experimentar não apenas uma história envolvente, mas também uma reflexão sobre a capacidade da arte de unir culturas e criar vínculos por meio da emoção, mostrando que, em tempos de turbilhão, a fragilidade pode ser uma fonte de força.