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Com as prateleiras das farmácias já abarrotadas de dezenas de desodorantes convencionais e naturais, uma nova onda de produtos está ganhando destaque nas prateleiras. Diversos bastões, cremes e sprays, amplamente divulgados por grandes marcas, agora prometem um controle de odor “para o corpo inteiro”. Esses produtos frequentemente apresentam rótulos que aludem, de forma explícita ou sutil, a áreas íntimas do corpo.
“É claramente uma tendência no momento”, afirma a Dra. Marisa Plescia, vice-presidente da Sociedade de Químicos Cosméticos, uma associação profissional que representa a indústria de cosméticos e cuidados pessoais.
“Obviamente sabemos que existem outras áreas que tendem a ter um certo odor corporal — áreas, como a virilha, que podem ser mais suscetíveis ao crescimento microbiano”, continuou. Após o sucesso de pequenas marcas que oferecem produtos para as sobras que cheiram mal e regiões odoríficas em geral, “agora todo mundo está dizendo: ‘Ok, precisamos lançar um desodorante que possa ser usado em todo o corpo’”.
As opções são diversas. Aqui está o que os desodorantes corporais fazem — e como diferenciá-los, de acordo com os especialistas.
Como funcionam os desodorantes para o corpo todo?
Muitos dos produtos comercializados para uso geral são funcionalmente semelhantes aos desodorantes tradicionais ou sprays corporais. Normalmente, eles contêm elementos em pó que absorvem o suor — como o pó de araruta (Maranta arundinacea), amido de tapioca e carbonato de magnésio — juntamente com fragrâncias para disfarçar odores. A maioria não contém sais de alumínio controladores de suor, como os antiperspirantes tradicionais, mas alguns deles sim.
A parte mais interessante, segundo Dra. Chris Adigun, uma dermatologista de Chapel Hill, Carolina do Norte, são os produtos inovadores que incorporam compostos antimicrobianos, que visam as bactérias que causam os odores. “Se você não se importa de suar, então esses produtos são realmente ótimos. Eles funcionam mesmo”, disse.
Um desses ingredientes é o ácido mandélico, um ácido alfa-hidroxi suave conhecido por eliminar bactérias na pele (embora o mecanismo de ação não esteja totalmente claro para os pesquisadores). Este AHA é a estrela da Lume, pioneira no mercado de desodorantes para o corpo todo, e sua marca irmã, Mando.
Outro exemplo é o hidróxido de magnésio, um ingrediente comum em desodorantes naturais. Ele aumenta o pH da pele, tornando o ambiente menos ácido e, portanto, menos hospitaleiro para bactérias causadoras de odor, como Staphylococcus hominis e Corynebacterium tuberculostearicum, explica Plescia.
A marca Curie, famosa pelo programa de televisão “Shark Tank”, combate bactérias com o bom e velho hamamélis, juntamente com uma gama de novos ingredientes usados para manter o crescimento bacteriano sob controle. Esses ingredientes são subprodutos das bactérias Lactobacillus e Saccharomyces, comumente encontradas na pele — algo que Plescia chama de “pós-bióticos”.
“Acho que é realmente interessante que finalmente estamos atacando o odor corporal de uma maneira melhor”, disse Adigun, apontando que os dermatologistas regularmente tratam odores corporais persistentes com antibióticos tópicos. Contudo, eles são aplicados apenas nas axilas, acrescentou.
Você realmente precisa de um desodorante para o corpo todo?
Do ponto de vista biológico, você deve incluir o desodorante para todo o corpo na sua rotina diária? Especialistas dizem que não.
“Nós não temos cheiro em todo lugar. Então eu não vejo por que precisamos colocar desodorante em todo lugar”, disse Adigun. Existem glândulas sudoríparas em todo o corpo, mas apenas uma pequena parte delas é responsável pelo odor corporal.
Chamadas glândulas apócrinas, elas estão concentradas principalmente nas axilas e ao redor da virilha. Elas liberam suor que é rico em gorduras e proteínas, proporcionando um verdadeiro banquete para S. hominis e outros membros do microbioma da pele. O odor corporal é o produto dessas bactérias digerindo os nutrientes no suor apócrino e produzindo compostos pungentes que percebemos como mau odor. A maioria das suas glândulas sudoríparas não oferece uma riqueza nutricional e, portanto, não gera odores.
Em um nível mais filosófico, você precisa de desodorante para o corpo todo? Novamente, a resposta é não. Plescia não aprecía a implicação de que nós cheiramos mal e precisamos colocar algo em todo o corpo para melhorar nosso odor.
No passado, ela disse, sprays corporais de marcas como Bath & Body Works ou Axe eram comercializados por suas fragrâncias. “Agora, porém, estamos vendo isso como: ‘Você precisa usar produtos por todo o corpo para não cheirar mal’”, observou Plescia. “Essa realmente é uma mensagem positiva para as pessoas?”
Adigun acrescentou que a mensagem é particularmente preocupante quando se destina a mulheres.
“Uma parte de mim tem dificuldade com a forma como o marketing é conduzido, quando dizem: ‘Sim, em todo lugar, incluindo suas áreas íntimas’”, disse. “Temos um problema cultural ao dizer às mulheres que elas estão sujas.”
Há alguma razão para não usar desodorante em todo lugar?
Assim como qualquer produto que você aplique, borrife ou esfregue em seu corpo, existe a possibilidade de que algum ingrediente possa irritar sua pele.
“Infelizmente, muitos dos meus pacientes com pele mais sensível acham todos os desodorantes corporais irritantes”, afirmou a Dra. Jeanine Downie, uma dermatologista de Montclair, Nova Jersey. Os irritantes comuns incluem glicol pentileno, fenilpropanol, hidróxido de potássio e fragrância.
Adigun destacou que pessoas com vaginas precisam ter cuidado com o que aplicam nessa área. A pele dessa região é muito sensível e a vagina mantém um delicado equilíbrio de microflora. Ingredientes que matam bactérias podem perturbar esse equilíbrio, potencialmente levando a infecções por fungos e vaginose bacteriana. Mesmo que as instruções do produto digam que é para uso externo apenas, a linha entre o externo e o interno nem sempre é clara.
Se você não tem pele sensível e gosta da sensação e do cheiro dos cremes e sprays de desodorante, não há preocupação em usá-los. Mas se você se banha regularmente, não deve precisar deles, segundo Downie.
“Meus pacientes estão constantemente me perguntando o que eu acho sobre esses produtos”, disse Downie. “Eu digo que ainda prefiro sabão e água durante o banho.”
Amanda Schupak é jornalista de saúde e ciência na cidade de Nova York.
