A presença de fumaça proveniente de incêndios florestais tem se tornado uma preocupação crescente, especialmente em estados do Nordeste e do Meio-Oeste dos Estados Unidos. Com a recente intensificação das queimadas, como as que ocorreram na Califórnia, as autoridades de saúde recorrem a recomendações rigorosas, orientando a população a permanecer em ambientes fechados, utilizar máscaras e investir em purificadores de ar. As diretrizes emitidas por especialistas em saúde pública, assim como ocorreu durante a pandemia de COVID-19, enfatizam a importância de evitar a exposição a esse poluente do ar, que, em casos extremos, pode afetar a qualidade do ar em localidades a centenas de quilômetros dos focos de incêndio. A questão que permeia essa discussão é: quão nociva é a fumaça de incêndios florestais para nossa saúde?

Para entender melhor o impacto da fumaça dos incêndios florestais, conversamos com a Dra. Carrie Redlich, médica com especialização em medicina interna, pneumologia e medicina ocupacional e ambiental, que nos forneceu informações valiosas sobre a qualidade do ar e as melhores formas de nos protegermos. O índice de qualidade do ar (IQA), estabelecido pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), é um sistema que mede a quantidade de poluentes no ar. Um IQA elevado, classificado por códigos de cores e números que variam de 0 a 500, indica uma preocupação maior com a saúde pública. Para conhecer as condições específicas de sua localidade, o site www.airnow.gov oferece informações atualizadas sobre a qualidade do ar.

A fumaça de incêndios florestais é composta principalmente por uma mistura de gases e partículas finas resultantes da queima de vegetação, podendo incluir materiais de construção e outros elementos. Essa poluição particulada é dividida entre PM10 e PM2.5, onde os PM2.5 são responsáveis por riscos maiores à saúde, pois essas partículas minúsculas, que possuem um tamanho até trinta vezes menor que a espessura de um cabelo humano, conseguem penetrar profundamente nos pulmões e no sistema circulatório. Portanto, o impacto da fumaça é particularmente significativo em grupos vulneráveis, como aqueles que sofrem de doenças cardíacas ou pulmonares, idosos, crianças pequenas e gestantes. À medida que os níveis de IQA aumentam, o risco de efeitos adversos à saúde também cresce, principalmente entre esses grupos mais sensíveis.

Diante dessa situação, a Dra. Redlich destaca que a necessidade de reduzir atividades extenuantes se deve ao fato de que, ao aumentar a taxa de respiração, a absorção de partículas nocivas também se intensifica. Quando o IQA atinge 201 ou mais, a recomendação é de que todos evitem atividades físicas ao ar livre. Um exemplo alarmante ocorreu em Nova Iorque no início de junho, quando o índice PM2.5 ultrapassou 400 temporariamente, sinalizando uma necessidade urgente de cautela por parte da população. A profundidade da penetração dessas partículas finas nos pulmões pode resultar em comprometimento da função pulmonar, aumento de casos de bronquite e maior frequência de ataques de asma. Os cientistas alertam também que essas partículas conseguem acessar a corrente sanguínea, chegando a outros órgãos e causando danos potenciais.

Apesar de a poluição do ar afetar todas as pessoas, efeitos adversos diretamente relacionados à poluição particulada têm sido associados a um risco elevado de ataque cardíaco, derrame, câncer de pulmão e até mesmo declínio na função cognitiva. A Dra. Redlich observa que há uma vasta literatura disponível sobre poluição particulada, que não se limita apenas a incêndios florestais, mas que indica que seus efeitos à saúde se assemelham aos de outras formas de poluição do ar. Parte do problema se origina do fato de que, uma vez inaladas, essas partículas minúsculas podem ativar vias inflamatórias no corpo, exacerbando condições cardíacas e respiratórias já existentes.

Outro detalhe importante a considerar é que, mesmo na ausência de fumaça visível ou odor no ar, os efeitos da poluição podem persistir. A EPA identifica cinco poluentes principais que determinam a qualidade do ar: ozônio de nível do solo, poluição por partículas, monóxido de carbono, dióxido de enxofre e dióxido de nitrogênio. No entanto, as partículas e o ozônio são considerados os poluentes mais preocupantes em termos de saúde pública nos Estados Unidos. O ozônio de nível do solo, por sua vez, resulta de reações químicas entre poluentes provenientes de automóveis e plantas industriais. Ele tende a se intensificar em dias quentes e ensolarados, frequentemente durante as tardes e noites de verão, agravando doenças pulmonares como asma e bronquite.

Os sintomas provocados pela inalação de partículas são semelhantes aos de ocorrências alérgicas, incluindo olhos lacrimejantes, garganta arranhada, coriza, tosse, irritação nasal, chiado e falta de ar. Além disso, a fumaça pode causar dores de cabeça, fadiga e batimentos cardíacos acelerados. Se tais sintomas forem leves, a recomendação é que não haja necessidade de buscar atendimento médico. No entanto, indivíduos que sofrem de asma e se deparam com dificuldades respiratórias que não conseguem controlar em casa devem procurar o médico imediatamente. Em casos mais graves, envolvendo dor no peito ou dificuldade extrema para respirar, o contato com um profissional de saúde é essencial.

As crianças, particularmente vulneráveis devido ao desenvolvimento de suas vias aéreas e ao fato de respirarem um volume maior de ar em proporção ao peso corporal, correm riscos acrescidos, especialmente quando passam mais tempo ao ar livre. O IQA fornece diretrizes sobre quando evitar a exposição ao ar livre, mas é importante destacar que o que pode ser viável para uma pessoa não é necessariamente seguro para outra. A Dra. Redlich sublinha que crianças e pessoas com condições pré-existentes devem ser especialmente cautelosas, pois mesmo dias de má qualidade do ar podem desencadear efeitos adversos.

A escolha da máscara correta para proteção contra a fumaça de incêndios florestais é igualmente crucial. A recomendação é utilizar respiradores N95 ou P100, que filtram uma porcentagem significativa de partículas. Embora uma máscara cirúrgica possa oferecer alguma proteção, as N95 ou KN95 são mais adequadas. Esses respiradores não são feitos especificamente para crianças, mas podem fornecer uma melhor proteção. A EPA também disponibiliza recursos para ajudar na escolha da máscara mais eficaz contra a fumaça de incêndios.

Quando a qualidade do ar é comprometida, as orientações gerais sugerem que as pessoas permaneçam em ambientes fechados, mantenham janelas fechadas e utilizem ar-condicionado com filtragem adequada. Contudo, a Dra. Redlich alerta que nem todos têm acesso a essa infraestrutura, e a qualidade do ar interno pode ser inadequada devido a poluentes gerados dentro de casa. Medidas como usar exaustores enquanto cozinha e evitar fumar dentro de casa podem ser passos simples para reduzir a poluição interna. Para aqueles que enfrentam dificuldades em mitigar a qualidade do ar, purificadores de ar portáteis com filtros HEPA podem ser uma alternativa viável. Caso a situação se torne insustentável, buscar abrigo de emergência pode ser uma decisão necessária.

A fumaça de incêndios florestais não é apenas uma questão de forma estética, mas representa um desafio significativo à saúde pública. Ao permanecer informado e adotar medidas de prevenção, é possível mitigar os efeitos da poluição do ar em nossas vidas e nas vidas de nossos entes queridos.

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